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A tendência de um comportamento morno do comércio varejista no Brasil foi reforçada com o resultado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada nesta terça-feira (25) pelo IBGE, que mostrou uma queda de 0,1% no volume de vendas em fevereiro no conceito restrito, após a forte alta de 3,8% em janeiro, apontam analistas. Eles destacam que sete das dez atividades do varejo diminuíram as vendas, na margem, durante o mês.
Para Rafael Perez, da Suno Research, a desaceleração das vendas no comércio em fevereiro indica a tendência de estabilização após o forte crescimento no mês anterior.
“O cenário doméstico desafiador deve impedir uma retomada mais robusta do setor, já que a perda de dinamismo do mercado de trabalho e o aumento do endividamento e da inadimplência tendem a afetar o ímpeto por maiores gastos”, comenta.
Diante desse quadro, Perez afirma que algumas medidas recentes de incentivo ao consumo pelo governo podem proporcionar uma sustentação da demanda das famílias, favorecendo alguns segmentos do varejo ao longo do ano.
Para o Santander Brasil, essa tendência já apareceu neste mês de fevereiro, que mostrou um desempenho misto para o varejo, quando o índice amplo teve forte alta, surpreendendo positivamente, enquanto a maior parte das atividades apresentou quedas na margem.
Para o futuro, apesar de alguns sinais ainda positivos em março, a projeção do banco é que a atividade de varejo retorne a uma tendência de desempenho morno.
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O Santander mantém a estimativa para IBC-Br de fevereiro em +1,4% na comparação mensal, já influenciado pela forte contribuição da produção agrícola. O rastreamento de crescimento do PIB para o primeiro trimestre feito pelo banco está em +0,5%.
“Projetamos PIB +0,8% em 2023, com desaceleração significativa da demanda doméstica e da oferta cíclica, decorrente principalmente da esperada recessão global e da política rígida do BC, mas esperamos forte crescimento da produção agrícola não cíclica, refletindo uma previsão de alta histórica para a safra de grãos”, segundo relatório assinado por Gabriel Couto.
Para o Banco Original, houve uma mudança no desempenho geral entre os dois primeiros meses do ano. “Na divulgação de janeiro, a performance do comércio tinha sido bem homogênea e positiva. Já na divulgação de fevereiro, os dados continuaram homogêneos, mas no campo negativo, com seis das oito atividades de pesquisa do varejo restrito apresentando recuo”, afirmam os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac.
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Os economistas destacam que o grupo de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que teve queda de -0,7% e que representa mais de 40% do peso mensal da pesquisa, parece estar sofrendo com a inflação moderada dos alimentos.
Além disso, tecidos, vestuários e calçados (-6,3%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-10,4%), também se destacaram negativamente.
Os únicos grupos com resultados positivos foram artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,4%) e livros, jornais, revistas e papelaria (4,7%). “Vale destacar que livros, jornais, revistas e papelaria é um grupo que vem perdendo representatividade com o avanço da tecnologia, e que o desempenho de fevereiro é sazonal, refletindo o período de retomada educacional”, lembram.
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Demanda reprimida
Rodolfo Margato, economista da XP, também cita que as vendas no comércio varejista ampliado cresceram muito acima das estimativas em fevereiro, marcando a terceira alta mensal consecutiva.
Segundo ele, o aumento mais acentuado do que o esperado nas vendas de “Veículos, motocicletas, partes e peças” explica, em grande medida, a diferença entre a expectativa e o resultado efetivo.
No entanto, ele pondera que os números desagregados não trouxeram sinais animadores, já que apenas três das dez atividades varejistas subiram na base de comparação mensal. “O varejo restrito – exclui veículos, materiais de construção e o atacado de alimentos, bebidas e fumo – ficou praticamente estável no período, em linha com as projeções”, destaca.
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Para o economista da XP, apesar das fortes oscilações nos últimos meses, por questões de dessazonalização e de alguns deflatores voláteis, a projeção continua sendo de crescimento modesto para o consumo pessoal de bens.
“Em suma, não seja enganado pela manchete. Condições de crédito mais apertadas e alto endividamento das famílias continuarão pesando sobre a demanda por bens de consumo duráveis e semiduráveis”, afirma.
Por outro lado, ele diz que a recuperação dos salários reais, o aumento das transferências de renda do governo e o arrefecimento da inflação de alimentos e produtos industriais devem sustentar parte do varejo doméstico, especialmente bens de consumo não duráveis.
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“Em síntese, prevemos que as vendas reais no varejo ampliado subirão cerca de 1,5% em 2023”. Para o PIB do 1º trimestre de 2023, a estimativa é de crescimento de 0,8% ante o 4º trimestre de 2022, com expansão de 2,4% ante o 1º trimestre de 2022. “Por fim, mantemos a expectativa de alta de 1% para o PIB de 2023”, afirma Margato.