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Caros(as) leitores(as),
O Ibovespa está cortando o bolo da festa dos 100 mil pontos pela enésima vez. Lembro quando essa celebração ocorreu pela primeira vez. Eram tempos diferentes de hoje.
O mercado acionário brasileiro passa por um momento complexo. A falta de força faz com que a bolsa fique lateralizada, sem grandes direções.
Recentemente, fiz uma bateria de reuniões com gestoras focadas na seleção de ações, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro – onde o mercado também é bem presente. Saí dessas reuniões com um gosto esquisito na boca.
O discurso de todos parece ser muito parecido: “estamos comprados em bons ativos, a bons preços, nada impede que eles fiquem mais baratos no curto prazo; no longo prazo, sabemos que provavelmente ganharemos dinheiro, mas é difícil saber quando”. É, meus amigos e amigas, o cenário macroeconômico tem sua força e ele pesa bastante agora.
Eu nunca vivi nada parecido. Muitos dirão que ser um membro da jovem guarda do mercado é a explicação. Na literatura eu encontro passagens piores que a desse ano, mas acho que esse momento carrega suas particularidades.
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Os investidores apenas realizaram resgates dos seus fundos de ações — mês após mês, a indústria registra saídas líquidas de dinheiro. Os fundos macro, com exceção de alguns casos individuais, mesmo com a rentabilidade recente tão bonita (que costuma ajudar nesse quesito), também registra retiradas.
O mercado de crédito, por sua vez, deveria demonstrar crescimento, já que os juros mais altos beneficiam esses ativos. Porém, os casos de Americanas e Light geraram um estresse nas taxas, muitos fundos demonstraram prejuízos e o investidor, descontente, apertou o botão de saída.
Para onde o dinheiro está indo então?
Essa é uma pergunta que me faço todos os dias. Fluxo é uma grandeza fundamental para os mercados.
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Tudo nos indica que o dinheiro está caminhando para os títulos bancários. Aplicações que são mais “simples” – eu apelidei esse movimento de “barrigada no aprofundamento financeiro”.
O que é o aprofundamento financeiro?
O Brasil viveu essa história de 2016 até o passado mais recente. Até outubro daquele ano, a taxa de juros (Selic) era de 14,25% ao ano.
As reformas e os caminhos econômicos que o país percorreu permitiram a queda dessas taxas. Com isso, essas aplicações financeiras bancárias passaram a remunerar menos seus investidores.
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A turma começou a sentir uma dor no bolso e passou a buscar por produtos mais sofisticados, e a diversificação começou a ganhar espaço na carteira do investidor médio brasileiro. Agora, o que nos parece é que as pessoas estão andando de ré nesse sentido.
Na minha cabeça, um pêndulo é formado. O investidor acaba sempre fazendo movimentos intuitivos, movendo seu dinheiro de mercado em mercado, comprando ativos em momentos errôneos e os vendendo de maneira incorreta.
Investir, muitas vezes, é um exercício de fé
A alocação de capital costuma ser contraintuitiva. Quando os relatos no noticiário entregam muito pessimismo para determinado mercado e observamos esses movimentos exacerbados, as oportunidades aparecem – assim como um “céu de brigadeiro” deveria alertar você sobre uma possível saída.
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A diversificação — e, mais importante, se ater a ela — deveria ser o caminho mais razoável. Fazer a lição de casa para determinar o seu “estômago” para risco e, dessa maneira, decidir o tamanho da sua carteira em cada mercado: essa é a busca mais saudável.
Claro que, enquanto escrevo este texto, tudo parece ser fácil. O cotidiano vai testar muito as suas convicções, eventualmente você pode — e vai — mudar de opinião.
Não é fácil seguir esses passos nesse cenário que eu citei, ainda mais quando você lê as notícias no InfoMoney e pensa: “agora ferrou!”. Uma carteira bem balanceada e alinhada com seus objetivos é o melhor travesseiro para as suas noites.
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Ela vai te ajudar a entender que aquela fala dos gestores sobre “não saber ao certo quando os preços vão convergir” tem menor importância. Um estudo muito interessante da Fidelity Investments, que analisou a carteira de seus clientes entre 2003 e 2013, revelou que os melhores retornos foram de contas de clientes inativos ou falecidos.
Ou seja, investir em bons ativos e deixar o tempo ser seu aliado, sem grandes movimentos, foi a melhor estratégia. Na natureza, várias espécies seguem a mesma estratégia para sobreviverem e não serem predadas.
Acho que, para sobreviver nos mercados e obter bons retornos, “se fingir de morto” pode ser uma boa alternativa.