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O fundo de índice HASH11 chega neste mês ao seu segundo ano de vida após uma montanha russa no mercado de ativos digitais: do frenesi em 2021 ao “inverno” do ano passado, com pelo menos três grandes crises, a última delas provocada pela quebra da corretora americana FTX.
No entanto, a gangorra não parece ter abalado a confiança dos investidores. Apesar da queda nos preços, o número de cotistas caiu, mas em linha com o restante dos ETFs negociados no Brasil, consolidando o produto da Hashdex como o segundo maior da B3.
Para Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, o movimento mostra que os criptoativos não se comportaram pior do que outros ativos além do dólar, que acabou sendo, na sua opinião, o único que funcionou como reserva de valor nos momentos de pânico dos últimos anos.
“O ouro não serviu como reserva de valor, [o mercado] imobiliário não serviu como reserva de valor. Tudo que era para funcionar, não funcionou”, afirmou o executivo, em entrevista ao InfoMoney.
2022, um ano atípico
Apesar de se manter relevante na Bolsa, o HASH11 ainda enfrenta desafios para evitar a debandada de investidores que estão potencialmente enxergando a recente alta das criptomoedas como uma oportunidade de saída.
Com a queda forte das criptos no ano passado, os retornos do ETF ainda estão perto dos 40% negativos no acumulado de 12 meses, mesmo após alta substancial no primeiro trimestre de 2023, de quase 55%. Desde dezembro de 2022, o HASH11 perdeu quase 10 mil cotistas.
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A Hahsdex, no entanto, encara o momento como resultado natural dos diversos desafios trazidos pelo cenário macro e pelas dificuldades internas do setor no ano passado.
“Foi a tempestade perfeita, foi macro e micro”, disse Sampaio.
Tivemos os juros do Brasil saindo de 2% para 13,75%, e os juros dos Estados Unidos, que acabam sendo os juros do mundo, saindo de zero para 5%. Isso é um movimento tectônico, é um asteroide colidindo na Terra. É muito pesado. E isso sem falar de guerra na Ucrânia, das circunstâncias geopolíticas.
Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex
No plano micro, o executivo relembra as crises envolvendo as implosões das criptomoedas Terra e Luna, do “banco cripto” Celsius e do hedge fund Three Arrows Capital, além, é claro, da corretora FTX. “Baixou a maré, o mercado viu um monte de gente pelada”.
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Por outro lado, avalia Sampaio, o momento turbulento serviu para mostrar que, ao contrário do que muitos pensavam, o Bitcoin não sumiu. “Todo mundo acha que não vale nada, que vai virar pó. O Bitcoin teve sim um drawdown violento, de US$ 69 mil para US$ 16 mil. Mas as pessoas esquecem que, três anos antes, estava a US$ 3 mil”, afirma.
Ele aponta que o cenário macro e as crises internas forçaram uma correlação inesperada da criptomoeda com os ativos de risco, tirando do BTC o grande chamariz de diversificador de carteira que chegou a ter em meio à crise da Covid, em 2020.
2023, uma nova virada
Os primeiros três meses de 2023, no entanto, seriam uma indicação de que a moeda digital poderá começar a traçar um caminho próprio novamente, em meio à esperança de que os juros (seja nos EUA, seja no Brasil) estejam mais próximos do topo.
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“O que acontece é que esse consenso (em torno do potencial de queda dos juros) libera as classes de ativos, cripto incluído, para seguirem o seu caminho. E aí cripto volta a ter uma retomada grande”, comenta o CEO.
O HASH11 investe em diversas criptomoedas como uma maneira de navegar potenciais movimentos mais bruscos de ativos menores, mas aposta principalmente no Bitcoin, carro-chefe da classe de ativos e que tem maior apelo entre investidores que olham mais para o longo prazo.
Assim como os maiores entusiastas da moeda digital, a gestora já considera que o BTC é uma “reserva emergente” e que, um dia, pode capturar mercado do ouro.
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“Ao longo do tempo, é um ativo que saiu de zero a US$ 28 mil hoje”, ressalta Sampaio. “É uma reserva de valor emergente. Talvez não seja o melhor para todo mundo, mas é sem dúvida uma reserva de valor que a gente quer ver como vai ser no futuro. Você quer ter um pouquinho desse negócio”.
Segundo maior da Bolsa
Com poucos meses de existência, o HASH11 desbancou o tradicional BOVA11, que rastreia o Ibovespa, e não saiu da segunda colocação desde então. Ele segue atrás apenas do IVVB11, o mais popular da bolsa brasileira, que espelha o índice S&P500.
Por pouco, o ETF cripto não virou o maior da B3 em número de cotistas. Em agosto do ano passado, pouco antes da queda da FTX, o HASH11 atingiu 155.728 cotistas, menos de 10 mil cotistas atrás dos 164.222 do IVVB11 naquele mês. Foi a menor já diferença registrada entre os dois fundos, de pouco mais de 5%, segundo dados da Economatica.
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Desde então, o IVVB11 ampliou a liderança e conta atualmente com quase 168 mil cotistas, contra 140 mil do HASH11. Mas o ETF cripto mantém distância considerável, de 19%, para o BOVA11, que tem cerca de 117 mil investidores.
ETF | Código | Quantidade de cotistas | Índice que rastreia |
Ishares S&P 500 | IVVB11 | 167.998 | S&P 500 |
Hashdex Nci | HASH11 | 140.156 | NCI (cesta de criptoativos) |
Ishares Bova Ci | BOVA11 | 117.606 | Ibovespa |
Fonte: Economatica
Segundo Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação e fundos da XP, o HASH11 se beneficiou de uma onda de novos investidores que entrou na Bolsa “pulando etapas”, alocando em cripto antes mesmo de passar por ações. “Para esse investidor, o ativo de risco da carteira é cripto, e o HASH11 surgiu como o caminho”.
“Existe um público cativo, e acho que ele vai ser mais resiliente mesmo em cenários de visão menos construtiva para cripto. O HASH11 vai acabar tendo uma demanda mais permanente”, opina.
Dentro do segmento de ETFs de criptoativos, de fato nenhum outro produto ameaça a dominância do HASH11. O segundo com mais investidores é o QBTC11, da gestora QR Asset, com 36.235. O ETF investe apenas em Bitcoin.
Na terceira leva, com 12 a 13 mil investidores, vêm o BITH11, ETF de Bitcoin da Hashdex, e os fundos de índice ETHE11 e QETH11, que alocam exclusivamente em Ethereum (ETH).
Os ETFs temáticos aparecem bem mais abaixo no ranking de cotistas. O mais popular é o DEFI11, produto da Hashdex que aposta em ativos do segmento de finanças descentralizadas (DeFi), seguido de perto pelo NFTS11, que acompanha a tese de tokens não-fungíveis (NFTs), ambos com pouco mais de 3 mil investidores.
Confira o ranking de ETFs de criptomoedas negociados no Brasil, por ordem de quantidade de cotistas:
ETF | Código | Quantidade de cotistas | Composição da carteira |
Hashdex Nci | HASH11 | 140.156 | Cesta variada de criptomoedas |
Qr Bitcoin | QBTC11 | 36.235 | Bitcoin |
Hashdex Btcn | BITH11 | 12.869 | Bitcoin |
Hashdex Eth | ETHE11 | 12.288 | Ethereum |
Qr Ether | QETH11 | 12.003 | Ethereum |
Defi Hash | DEFI11 | 3.412 | Projetos cripto de DeFi |
Investo Nfts | NFTS11 | 3.382 | Projetos cripto de NFT |
Etf Qdfi | QDFI11 | 2.349 | Projetos cripto de DeFi |
Meta Hash | META11 | 1.846 | Projetos cripto de metaverso |
Smart Hash | WEB311 | 1.626 | Projetos cripto de smart contracts |
Cripto20 Emp | CRPT11 | 1.459 | Cesta variada de criptomoedas |
Etf Galaxy B | BITI11 | 75 | Bitcoin |
Fonte: Economatica
HASH11 vai ser o maior ETF da Bolsa?
A aposta de que pode virar uma reserva de valor se traduz em uma alta expectativa de ganhos para a criptomoeda. Para a Hashdex, o HASH11 deve superar o IVVB11 em algum momento e, assim, se tornar o maior ETF da Bolsa.
A justificativa, explica Sampaio, é simples: as criptomoedas teriam muito mais espaço para crescer do que a economia americana, fazendo com que a cesta de criptos do fundo tenha relativamente mais potencial do que o S&P 500.
A gestora brasileira não está sozinha. Não faltam projeções otimistas para o Bitcoin, sendo uma das famosas a da gestora americana Ark Invest, da “guru” dos investimentos alternativos Cathie Wood. Para ela, o Bitcoin tem potencial de valorizar 24.000% até 2030, para mais de US$ 600 mil.
O CEO da Hashdex vê cenário parecido. “Venho de um tempo em que era um absurdo o Bitcoin chegar a US$ 100. Diziam que era um absurdo estar valendo US$ 2, US$ 3, que era especulação. Depois foi a US$ 1 mil, US$ 2 mil. US$ 10 mil era impensável”, conta. “Se o Bitcoin ficar em igual paridade com ouro, a gente está falando de um Bitcoin de US$ 640 mil — e está barato. Mas, acontece rápido? Não faço a menor ideia”.
Se o investidor não quer perder esse potencial de ganho, explica o executivo, precisa ter algum percentual mínimo da carteira na classe de ativos, independentemente do perfil.
“Literalmente, do menor investidor da Bolsa, do investidor com mais idade na Bolsa, até os maiores fundos institucionais, os fundos de pensão. No tamanho certo, no prazo certo”, exemplifica. “Cripto não é sobre certeza, é sobre possibilidades, só que as possibilidades são ótimas”.
Cautela
Diante do cenário macro ainda incerto, este não é melhor momento para entrar nesse tipo de investimento, alerta Sgavioli, da XP. “É um momento bastante duro de pensar em começar em cripto. O Bitcoin tem mostrado um ciclo de comportamento muito parecido com ações tech ou venture capital de Beta muito alto, e como estamos com zero exposição nesse tipo de ativo, não seria diferente para as criptos”.
O aporte em cripto pode fazer mais sentido, explica, para investidores com horizontes de investimento mais longos e com maior propensão ao risco. “Em uma carteira de risco médio (volatilidade de 5%) até níveis mais altos, uma alocação em Bitcoin de 0,5% a 1% permite manter a volatilidade em patamares parecidos, mas aumenta o retorno esperado”.
A simulação foi feita com o Bitcoin, mas também pode ser aplicada ao HASH11, que está atualmente muito correlacionado com a criptomoeda (veja o peso abaixo).
Em que o HASH11 investe
O HASH11 rastreia o índice NCI (Nasdaq Crypto Index), que escolhe ativos com preços flutuantes (não podem ser stablecoins, que têm paridade com moedas nacionais), segundo critérios que passam por negociação em pelo menos três corretoras reguladas no mercado americano, suporte de no mínimo dois custodiantes institucionais, bom nível de liquidez e que representem pelo menos 0,5% do mercado de criptomoedas.
A carteira do ETF é rebalanceada trimestralmente, com pesos definidos de acordo com o valor de mercado de cada moeda digital.
Atualmente, a composição do NCI é a seguinte:
Nome | Peso (%) | Valor de mercado (em US$) |
Bitcoin (BTC) | 68,07% | 541,4 bilhões |
Ethereum (ETH) | 28,70% | 228,5 bilhões |
Litecoin (LTC) | 0,99% | 6,7 billhões |
Chainlink (LINK) | 0,52% | 3,7 bilhões |
Polkadot (DOT) | 0,46% | 7,7 bilhões |
Uniswap (UNI) | 0,35% | 4,6 bilhões |
Stellar (XLM) | 0,29% | 2,8 bilhões |
Bitcoin Cash (BCH) | 0,27% | 2,4 bilhões |
Ethereum Classic (ETC) | 0,22% | 2,9 bilhões |
Axie Infinity (AXS) | 0,12% | 1 bilhão |
Fonte: Hashdex