Sem política trimestral no estatuto, Taurus testa dividendos periódicos e recompras de ações em 2023

Companhia vai pagar R$ 1,295 por ação no mês de maio; CEO enxerga empresa como uma possível boa pagadora de dividendos neste ano

Katherine Rivas

O CEO da Taurus Armas, Salesio Nuhs (crédito: Divulgação)
O CEO da Taurus Armas, Salesio Nuhs (crédito: Divulgação)

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A promessa de ter uma política de dividendos trimestrais da Taurus (TASA4), estabelecida no estatuto da companhia, não deve se concretizar em 2023. Mas diante da cobrança dos investidores, a fabricante de armas vai iniciar uma fase de teste distribuindo proventos com mais frequência – e não apenas uma vez ao ano, como faz desde o seu processo de reestruturação.

A Taurus ficou sem pagar dividendos durante nove anos. A última vez que remunerou os acionistas antes de passar uma reestruturação havia sido em maio de 2013, com R$ 0,027 por ação. Em 2022, a companhia voltou a distribuir proventos, num total de R$ 194 milhões, equivalentes a R$ 1,62 por ação.

Na época, a companhia pagou tanto dividendos obrigatórios estabelecidos no estatuto, de 35% do lucro líquido (payout), quanto dividendos adicionais. O valor foi recorde na sua história, e depositado todo de uma única vez.

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Em 2023, mais estruturada, decidiu fazer diferente: dos R$ 520 milhões que lucrou em 2022, parte foi para reservas legais e fiscais. O maior volume, no entanto, de R$ 468,7 milhões, foi destinado à remuneração dos acionistas.

Diretamente na conta dos acionistas, vai cair um total de R$ 164 milhões, ou R$ 1,295 por ação, equivalente ao dividendo mínimo obrigatório de 35% do lucro líquido. Salesio Nuhs, CEO da Taurus, afirmou ao InfoMoney que o pagamento ocorrerá no dia 9 de maio. A data de corte – quando o investidor precisa ter as ações em carteira para fazer jus aos proventos – será 28 de abril.

O valor, que precisa ser aprovado em Assembleia Geral Ordinária (AGO), é levemente inferior ao do ano anterior, por conta do aumento de número de ações em circulação e de uma destinação menor de recursos, de cerca de R$ 30 milhões.

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E os 65% restantes do lucro, que totalizam R$ 304,7 milhões e não serão pagos como dividendos adicionais? Nuhs explica que a Taurus optou por criar uma reserva destinada exclusivamente a remuneração dos acionistas nos próximos meses, seja via distribuição de proventos ou recompra de ações.

A proposta também será levada à AGO. Segundo o CEO, caso aprovada, dará ao Conselho de Administração autonomia para determinar se vai pagar dividendos trimestrais, semestrais ou destinar uma parte para recompras de ações em 2023. “Queremos testar a ideia de um pagamento mais frequente neste ano, e agora podemos fazer isso porque temos uma reserva constituída”, diz.

Nuhs acredita que, de uma forma ou outra, o investidor será bem servido. Pagar dividendos de forma recorrente já estava entre as principais cobranças dos acionistas, mas “a recompra também pode beneficiar o investidor com a valorização do papel”, aponta. Há um efeito indireto: com um número menor de ações em circulação no mercado, o valor dos dividendos por ação tende a ser maior.

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A prática deve ser repetida em relação ao lucro de 2023, que será distribuído apenas em 2024. Se a companhia gerar lucro nos próximos trimestres, ele será destinado a uma nova reserva, para ser distribuído aos investidores apenas em 2024.

A ideia de fixar o compromisso de remuneração trimestral em uma política de dividendos – como havia prometido no ano passado – deixou de fazer sentido para Nuhs, que prefere não dar um passo maior que a perna, principalmente em um ano com um cenário macroeconômico adverso no Brasil e no seu principal mercado, os Estados Unidos.

“Preservar o nosso caixa é mandatório. Passei um período muito difícil quando assumi a Taurus em 2018, e não quero nunca mais passar por isso com relação a dinheiro”, comenta.

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Mas o novo perfil dos investidores que têm procurado a companhia não deixou muita opção. Nuhs lembra que, no passado, a Taurus era uma ação alvo de especuladores, que buscavam se beneficiar da oscilação do papel. Mas desde a reestruturação, começaram a chegar investidores focados em renda.

“No meio do ano passado, tínhamos algo em torno de 40 mil investidores, e agora estamos com cerca de 83 mil pessoas físicas”, aponta.

Entre os que possuem maior posição acionária, a preferência também é por dividendos. “Tanto o nosso controlador como o nosso maior acionista são ‘caça dividendos’, então não tenho outra opção”, disse. No quadro dos acionistas com mais de 5% de participação na companhia está Luiz Barsi Filho, um dos maiores investidores individuais da Bolsa e reconhecido por ter enriquecido com empresas que pagam bons dividendos.

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Uma nova Taesa?

Questionado sobre as expectativas dos investidores de que a Taurus seja uma das grandes pagadoras de dividendos em 2023, Nuhs afirma que neste ano a companhia não precisará destinar muitos recursos para investimentos e nem para zerar dívidas.

Em relação aos investimentos, Nuhs explica que a maior parte aconteceu em 2021 e 2022. “O investimento pesado em equipamento, que consome boa parte do caixa, está praticamente concluído. Então a forma como destinamos o caixa nos últimos anos vai mudar um pouco”, diz.

Recentemente, a companhia também recebeu um financiamento de R$ 175,7 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para um plano de inovação e competitividade, com carência de 36 meses e juros de 0,385% ao ano. No planejamento da Taurus, seriam necessários pelo menos R$ 195 milhões para pesquisa e inovação, dinheiro que não vai precisar mais sair do caixa no curto prazo, o que, segundo Nuhs, dá ainda mais folga para pagar dividendos.

Já em relação às dívidas, o CEO destaca que o valor é pequeno. De acordo com o balanço, o endividamento líquido da Taurus era de R$ 159,5 milhões no final de 2022, enquanto o caixa alcançava R$ 328,7 milhões. “É bem possível que a Taurus se torne uma forte pagadora de dividendos no mercado”, destaca.

De onde vai vir o dinheiro?

Nuhs explica que o carro-chefe da receita da companhia em 2023 são os Estados Unidos, que deve absorver uma demanda crescente por revólveres. Atualmente, são produzidos 1.200 por dia.

Mas está nos planos do CEO entrar em um novo segmento: o mercado de pistolas e revólveres para o segmento policial nos EUA. Atualmente, a Taurus vende apenas para o mercado civil.

Com o crescimento da receita no país, Nuhs pretende compensar eventuais perdas no Brasil, onde o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem adotado medidas para desestimular a utilização civil de armas. Por aqui, poderia haver um crescimento dos negócios com as forças armadas e policiais.

Fora estes mercados, o executivo aponta que a Taurus tem receitas vindas de mais de 40 países, tais como Arábia Saudita e até a Índia.

Em relação à licitação em andamento de 425 mil fuzis para o Ministério de Defesa da Índia, uma das maiores no mundo, Nuhs explica que está no processo de concorrência. O processo de licitação foi prorrogado pela segunda vez e só terá início em maio. Caso aprovada, a fase de testes ocorrerá em outubro e a produção, apenas em 2024. Existe ainda a possibilidade da Taurus dividir a produção com outro concorrente. “Estrategicamente, é importante para a Taurus no longo prazo, mas não influencia nos resultados deste ano”, diz.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.