Hapvida (HAPV3) desaba 33,5% e perde mais R$ 7 bi de valor com possível aumento de capital: veja o que está em jogo

Possibilidade está entre as alternativas para levantar capital divulgada em comunicado e foi lida como negativa por bancos, que veem mais pressão

Lara Rizério Rodrigo Tolotti

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Em resposta ao noticiário dos últimos dias sobre as alternativas para levantar capital, a Hapvida (HAPV3) prestou alguns esclarecimentos ao mercado na noite da última quarta-feira (8), que levaram a uma nova derrocada dos papéis da operadora de planos de saúde. A companhia destacou que está avaliando alternativas para fortalecer sua estrutura financeira, o que inclui a possibilidade de realizar um aumento de capital por meio de emissão de novas ações.

Com isso, em um pregão repleto de leilões, as ações fecharam em queda de 33,56%, a R$ 1,94 nesta quinta-feira (9). Assim, o valor de mercado da companhia passou de R$ 20,86 bilhões para R$ 13,86 bilhões em apenas um pregão, ou uma derrocada de R$ 7 bilhões.

Na véspera, a operadora de planos de saúde informou em comunicado ter concluído a liquidação financeira de sua recente emissão de debêntures, no valor de R$ 750 milhões, ao custo da dívida de CDI+1,70% e prazo de um ano em uma única parcela.

A empresa destacou ainda que vem estudando mecanismos para melhorar sua estrutura de capital, incluindo um operação de venda e locação de ativos relevantes envolvendo potenciais investidores. As negociações estão em andamento, apontou.

O esclarecimento veio após notícia do Valor chamada “Hapvida coloca à venda dois ativos para enxugar estrutura”. “Este movimento se encaixa no contexto de focar os esforços da gestão em seu negócio principal, especialmente após a fusão com a NotreDame Intermédica”, destacou a empresa no comunicado.  De acordo com o jornal, a empresa está colocando à venda ativos considerados não estratégicos – a Resgate São Francisco, de transporte de pacientes, e a empresa de tecnologia voltada à saúde Maida.

A Hapvida afirmou ainda em comunicado que está constantemente avaliando oportunidades e alternativas para o fortalecimento de sua estrutura de capital junto de sua base acionária, bem como com novos investidores. Isso inclui a possibilidade de emissão de novas ações em aumento de capital, o que dependerá de condições favoráveis de mercado e aprovações pelos órgãos societários competentes, apontou.

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Para o Itaú BBA, a primeira leitura sobre o comunicado é negativa, mas pelo menos várias alternativas foram apresentadas para resolver o problema. “Em meio a muitas discussões sobre a solvência da empresa – dadas as exigências regulatórias no nível operacional que limitam o uso de seu caixa total para honrar a dívida e os juros no nível da holding –, a menção de um aumento de capital como uma opção em um momento de valuation tão pressionado (nos níveis atuais) sugere um cenário mais estressado do que o esperado anteriormente, o que deve ser percebido como negativo pelo mercado”, avaliam os analistas.

No momento, o Itaú BBA tem recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para os ativos HAPV3, com preço-alvo de R$ 7, ou potencial de valorização de 140% frente o fechamento de quarta-feira.

Já o Goldman Sachs apontou que o comunicado foi negativo, pois “corrobora as preocupações do mercado sobre as perspectivas de alavancagem/geração de fluxo de caixa para o curto prazo”.

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Os analistas do banco acreditam que um potencial aumento de capital poderia criar uma nova pressão de queda para os papéis, mesmo com a forte queda recente, além de que novas rodadas de emissões de dívida também provavelmente aumentarão ainda mais os custos de financiamento da companhia.

“Dito isso, ainda esperamos alguma contribuição de desalavancagem da geração de fluxo de caixa orgânico, caso a empresa apresente eficiência acima do esperado e aumentos médios de preços mais fortes do que o esperado ao longo de 2023”, afirma o Goldman, que tem preço-alvo de R$ 6 para as ações.

Cabe ressaltar que a hipótese de aumento de capital já tinha sido levantada por investidores em conversa com o Morgan Stanley, conforme relatado pelo banco em relatório no início da semana.

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“Os investidores levantaram preocupações sobre a necessidade da Hapvida de capital regulatório no nível de holding, dada a alta alavancagem atual, alto índice de sinistralidade médica (MLR) e complexa estrutura de holding. Apesar de um aumento de capital aparentemente não ser o caso base para os investidores [naquela ocasião], houve discussões sobre o custo de financiamento e necessidades de capital da Hapvida ao longo do ano se o consumo de caixa permanecer alto e a estrutura complexa do NotreDame não permitir que os dividendos fluam para a holding”, ressaltou o Morgan na ocasião.

Na avaliação do Bradesco BBI, o aumento de capital parece ser o cenário mais provável, dadas as difíceis condições para a venda de ativos no atual ambiente macro/crédito adverso. Assumindo que o novo caixa em potencial cobrirá os R$ 650 milhões desembolsados em janeiro para a aquisição da HB Saúde (R$ 800 milhões de valor da empresa) e cerca de R$ 65 milhões para o fechamento próximo da aquisição da Sistemas Saúde (R$ 110 milhões de valor da empresa), o tamanho da oferta poderia ser de cerca de R$ 750 milhões considerando taxas e impostos, implicando na emissão de 259 milhões de novas ações (diluição de 3,6%) ao preço de fechamento de ontem de R$ 2,92 por ativo.

A família controladora Pinheiro detém 36,3% do capital social, o que implicaria em um aporte de R$ 270 milhões para manter a participação em uma potencial oferta de ações de R$ 750 milhões.

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Para os analistas do banco, a atual posição de caixa da companhia parece apertada para enfrentar um cenário desafiador geral e, portanto, justifica um potencial colchão de capital por meio da oferta de ações, dado o mercado de dívida restrito.

Além disso, a diluição seria baixa (3,5%) e uma injeção de capital reduziria as preocupações com a solvência. Por outro lado, a necessidade de caixa pode sugerir que os ganhos/fluxo de caixa da empresa podem ser piores do que o mercado realmente acredita.

Os analistas do BBI também atualizaram seu modelo de forma a incorporar estimativas mais conservadoras após os resultados do 4T22, cortando o preço-alvo de R$ 6 para R$ 4,50, ainda mantendo recomendação neutra, com potencial de alta de 54% em relação ao fechamento da véspera.

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Por fim, o JPMorgan acredita que o mercado “provavelmente se acalmará” se mais detalhes financeiros forem divulgados, já que as ações da companhia caíram forte desde a divulgação dos resultados. Negociando com um valuation de 16 vezes o P/L (Preço/Lucro previsto para 2023) e com baixa visibilidade de resultados neste momento, os analistas seguem com recomendação “Neutra”.

Os últimos dias têm sido de forte volatilidade para a Hapvida. Na véspera, as ações subiram 8,94%, em uma sessão positiva para o Ibovespa em geral, mas registrava perdas de 35% apenas em março até o fechamento de ontem. Na semana passada, marcada por divulgação de resultados que não agradaram o mercado, as ações caíram 43%.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.