O que fez a EDP querer fechar o capital no Brasil e os possíveis desdobramentos para outras empresas do setor

Em meio a cenário de juros altos, oferta para fechar capital no Brasil também otimizará as operações do grupo no país, destacou executivo

Equipe InfoMoney

EDP Energias do Brasil (Foto: Divulgação)
EDP Energias do Brasil (Foto: Divulgação)

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Após o anúncio de fechamento de capital que surpreendeu o mercado e fez as ações da EDP Brasil (ENBR3), ou Energias do Brasil, subirem quase 15% na véspera, alguns questionamentos ganharam destaque no mercado.

Afinal, por que a EDP (controladora da EDP Brasil quer fechar o capital no país?

O processo de fechamento de capital, que ocorre quase 20 anos depois da companhia de energia elétrica ter realizado o IPO no Brasil, já foi formalizado na CVM, com pedido de registro de oferta pública para aquisição (OPA) da totalidade das ações ordinárias da EDP Brasil.

O preço atribuído pela EDP para cada ação objeto da OPA será de R$ 24,00 por ação, a ser pago à vista e em moeda corrente nacional, equivalente a um prêmio de 22,26% sobre o preço de fechamento da ação na quarta-feira, de R$ 19,63. Com isso, os papéis ENBR3 saltaram 14,72%, a R$ 22,52, na véspera. Ao preço proposto, a oferta deve custar cerca de R$ 6,1 bilhões, e o grupo já estruturou operações junto a investidores e no mercado para levantar esse capital.

A EDP, que detém 56% do capital da empresa, apontou que o movimento ocorre num ambiente internacional particularmente desafiador, devido ao cenário de altas taxas de juros.

O alto custo de capital no Brasil também é a razão por trás da operação, já que o controle total da EDP permite que a empresa emita dívidas mais baratas com taxas de juros menores e na moeda do acionista controlador (euro) em vez de real, aumentando a Taxa Interna de Retorno (TIR) de novos investimentos.

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Em teleconferência com analistas na véspera, o grupo português de energia que controla a companhia sinalizou que é um investidor de longo prazo no Brasil e continua a ver boas oportunidades de crescimento.

Em coletiva de imprensa para detalhar o novo plano estratégico da EDP, o CEO da companhia, Miguel Stilwell d’Andrade, reforçou o compromisso da companhia com suas operações no país, ressaltando que a EDP está há muitos anos no Brasil e já passou por vários ciclos econômicos e políticos.

Segundo o executivo, a oferta para fechar capital no Brasil otimizará as operações do grupo no país, onde também atua com a EDP Renováveis, braço de geração de energia ligado diretamente à matriz portuguesa.

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Stilwell destacou que o grupo possui duas diferentes estruturas organizacionais no País – a EDP Brasil (que opera os ativos de distribuição e transmissão, geração convencional [hidrelétricas e térmicas] e comercialização) e a EDP Renováveis (que concentra as usinas eólicas e solares de grande porte). Segundo ele, seria possível otimizar o funcionamento dessas estruturas, buscando sinergia de operações, mesmo sem realizar uma efetiva fusão entre as empresas.

Ele afirmou ainda que o mix de portfólio do grupo no Brasil está mudando ao longo do tempo. A companhia está vendendo sua termelétrica a carvão em Pecém (CE) e pode vender hidrelétricas, disse Stilwell, a fim de se concentrar mais nos negócios de redes, clientes e renováveis.

No caso da térmica de Pecém, a elétrica pretende fechar a alienação do ativo ainda neste ano e deverá receber propostas não vinculantes de interessados até maio, disse Miguel Setas, presidente do conselho de administração da EDP Brasil, durante a coletiva.

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“A companhia continua a tentar encontrar formas de estender esses contratos (da térmica) ou algum tipo de geração de receita depois desse período”, afirmou Setas, em referência ao fato de os contratos de fornecimento de energia de Pecém expirarem em 2027.

Nesta semana, o CEO da EDP Brasil, João Marques da Cruz, comentou em teleconferência que a companhia estudaria oportunidades de crescimento em distribuição de energia, como a aquisição da Enel Ceará, e em transmissão, como os leilões do governo. Ele também voltou a dizer que a elétrica estaria disposta a vender mais usinas hidrelétricas a um preço “justo”.

Apesar dos eventuais benefícios operacionais e corporativos, analistas do mercado ressaltam que o movimento se justifica pelo atual patamar de preços das ações da EDP Brasil. Os analistas do Credit Suisse destacaram que a empresa, assim como outras elétricas, está sendo negociada a um desconto maior em relação às médias históricas, tendo em vista “ruídos macro e políticos no Brasil”, bem como preocupações regulatórias. Para Carolina Carneiro e Rafael Nagano, o setor está “descontado”, sendo negociado a uma taxa interna de retorno (TIR) real de 9,6%, ante 6,2% dos bonds. No caso específico da EDP Brasil, pelos cálculos do Credit Suisse a ação da empresa está sendo negociada a cerca de 12%, e a uma taxa Valor da Empresa (EV)/RAB implícita de 1,1 vez.

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“A EDP Brasil está listada no Brasil desde 2005, com muitos altos e baixos, mas é considerada uma das ações mais resilientes do setor, pois possui um portfólio integrado, política de dividendos decente e estratégia de alocação de capital relativamente bem-sucedida”, disseram, apontando que o valor justo para a ação seria até superior ao ofertado pelo controlador.

O JPMorgan ainda questiona se a decisão pode ter impacto para outras empresas. “Achamos que os investidores podem questionar se a Enel, a Iberdrola e a Engie fariam o mesmo para fechar o capital das suas subsidiárias na América Latina (Enel Chile, Enel Americas, Neoenergia NEOE3, Engie Brasil EGIE3 e Engie Chile)”, afirma.

Devido à alavancagem e questões regulatórias locais, os analistas do banco acreditam que os únicos com maiores chances de serem compradas pelas matrizes são as subsidiárias da Engie.

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“As equipes de gestão reiteraram várias vezes que não há planos de fechar o capital da Enel Chile ou Neoenergia. Em relação à Enel Americas, a controladora Enel possui atualmente 82% dela e manifestou o interesse de aumentar mais a participação ou até mesmo deslistá-la, mas as regras de fechamento de capital do Chile tornam isso quase impossível”, afirmam.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)