Proposta que poderia baixar a conta de luz não atrai interessados e frustra governo; entenda

Aneel não recebeu pedido de nenhum dos empreendimentos que se encaixam nos critérios para adoção da medida

Estadão Conteúdo

Ilustração mostra oscilação no preço da energia elétrica
Ilustração mostra oscilação no preço da energia elétrica

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Aposta do governo federal para reduzir as despesas embutidas na conta de luz nos próximos anos, a proposta de rescisão amigável de contratos do leilão emergencial não atraiu interessados. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, até o momento, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não recebeu pedido de nenhum dos empreendimentos que se encaixam nos critérios para adoção da medida. O prazo se encerra em 18 de fevereiro.

A portaria autorizando a resolução amigável foi publicada em 20 de dezembro. O texto permite que empresas que cumpriram os prazos previstos no edital do Procedimento de Contratação Simplificada (PCS) – realizado em 2021 em meio à mais severa crise hídrica que atingiu o Sistema Nacional Interligado (SIN) em 90 anos – façam a rescisão de seus contratos com o governo sem ônus.

O custo, até 2025, das sete usinas que entraram em operação nos prazos acordados é de cerca de R$ 8,2 bilhões.

O alto custo de contratação dessas usinas – justificado pelo prazo apertado para início de operação de empreendimentos novos – faz com que seja baixa a probabilidade de que haja alternativas mais rentáveis para esses empreendimentos. Apenas eventuais problemas na operação das usinas, como o preço dos combustíveis, e outros negócios que tenham maior retorno econômico seriam fatores que motivariam a adesão pelas empresas.

A advogada Sofia Peres, sócia da área de Infraestrutura e Energia do escritório Mattos Filho, disse que não vê incentivos para quem cumpriu o cronograma e está adimplente adotar a medida.

“Foi legítimo que o governo permitisse (a resolução amigável) para quem quisesse. O preço do gás aumentou muito, teve a questão na Ucrânia”, explicou o presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello.

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O sócio do Décio Freire Advogados e especialista em Direito de Energia Gustavo De Marchi vê a medida como “inócua”. Para ele, algumas medidas poderiam ter sido tomadas no âmbito dos contratos.

Fora da regra

Enquanto o governo deu diretrizes para as usinas que cumpriram o edital, não há um desfecho para a situação das que não seguiram as regras. A Aneel analisa processos relativos a pedidos de excludente de responsabilidade e recursos apresentados pelas empresas.

No fim do mês passado, a diretoria negou recursos apresentados pela Linhares Geração e pela Povoação Energia e manteve multas por atrasos na implantação das usinas térmicas Povoação e Lorm.

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Também estão parados na Aneel os processos que tratam das térmicas da turca Karpowership, que entraram em operação fora do prazo com amparo de uma decisão judicial. A Abrace Energia, associação que reúne grandes consumidores industriais, defende a suspensão de todos os pagamentos direcionados às usinas contratadas que iniciaram sua operação comercial após a data limite prevista no edital.

A reportagem procurou as empresas donas das usinas elegíveis à rescisão. A usina termoelétrica Paulínia Verde afirmou que o empreendimento “encontra-se operacional, cumprindo integralmente o contrato assinado e não pretende rescindir o contrato”.

A Rovema Energia não comentou. Já o grupo Fênix não respondeu ao contato. Em junho de 2022, a Aneel negou o pedido da UTE Fênix de reequilíbrio econômico-financeiro, mas encaminhou ao MME a rescisão do contrato.