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Caros(as) leitores(as),
Um dos dias mais emblemáticos e felizes da minha passagem nessa terra foi a gravação do episódio 177 do podcast Stock Pickers. Não é sempre que se consegue entrevistar Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset, além de um dos maiores gestores do Brasil.
A ansiedade era alta: Stuhlberger costuma fazer declarações instigantes quando se sente confortável para tal. Fizemos de tudo para que aquele fosse o ambiente do nosso bate-papo, até o ar-condicionado ficou desligado (acredite, um sacrifício enorme para mim).
Perto da reta final do programa, quando questionado sobre posições e sobre a bolsa americana, Stuhlberger disse: “Existem dois jeitos de ir para o inferno: um é morrer; o outro é ficar vendido no S&P 500. Você tem o inferno na terra. Você não precisa ir para o inferno, eu não tenho coragem!”
Além de me arrancar boas gargalhadas, essa maravilhosa frase evoca uma memória: Warren Buffett disse algo parecido (sem o molejo brasileiro) sobre o principal índice acionário americano, com a icônica frase “Never bet against America”.
Nenhum dos dois expressava um tom otimista com suas respectivas afirmações. Apenas criticavam o ato de apostar contra a bolsa americana.
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Porém, gestores brasileiros que ganharam muito dinheiro no ano passado com uma visão pessimista da economia americana discordam tanto de Buffett quanto de Stuhlberger. Num bate-papo com Marcio Fontes, gestor responsável pela gestão do fundo ASA Hedge, ele afirmou que existem motivos claros para apostar na queda das ações nos Estados Unidos – o que, aliás, deverá ser o grande vetor de retornos do mercado neste ano.
Contextualizando algo importante para entender a visão de Fontes: com R$ 2 bilhões de patrimônio líquido, o ASA Hedge entregou um retorno de 39,4% em 2022, um dos melhores entre os fundos brasileiros – e a maior parte disso veio de uma posição “tomada em juros americanos”, ou seja, apostando na alta das taxas por lá. A posição vendida em bolsa nos EUA foi bem menor nesse período, mas agora é uma das principais.
Para Fontes, existe pouco espaço para o S&P 500 subir no curto prazo, pois os preços das ações americanas ainda não refletiram a nova realidade de juros (mais altos) e não põem na conta um cenário de revisão dos lucros das empresas para baixo, que é o esperado. Para o gestor, o índice poderia cair para 2.700 pontos, 30% abaixo dos níveis atuais.
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Fontes acredita que o recuo da bolsa americana pode acontecer com ou sem recessão econômica. Se houver recessão na Terra do Tio Sam, não há muito o que questionar: os lucros das companhias devem despencar, o que seria ruim para a bolsa.
Mas mesmo sem recessão, a inflação deve continuar alta, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) pode continuar subindo os juros, que permaneceriam altos por mais tempo – o que também seria ruim para a bolsa.
Isso significa que você deve vender seu apartamento, o cachorro, o carro e até familiares menos queridos para utilizar recursos como margem de uma operação vendida a descoberto? Não (embora a parte dos familiares seja tentadora). No mercado financeiro, para todo ativo há um comprador que acredita ter encontrado uma pechincha e um vendedor que acredita estar fazendo um bom negócio.
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Normalmente, existem teses que justificam qualquer um dos dois lados. Conheço muita gente respeitada do mercado que concorda com o Stuhlberger e Buffett sobre apostar contra a América, como também sei de muitos profissionais tomando posições na mesma direção de Fontes.
A tese que faz mais sentido é aquela que cabe no contexto de risco que você deseja para sua carteira e perfil. E obviamente, nenhum dos gestores citados neste artigo vai ligar para você avisando que mudou de opinião.
Faça um bom dever de casa antes de investir seu dinheiro e, de preferência, delegue parte relevante aos bons fundos de investimento. Muitas visões pessimistas estão exageradas, mas vários investidores já acreditaram ter encontrado oportunidades, quando na realidade estavam comprando passagens para o inferno na terra.