Senador Marcos do Val diz que Bolsonaro tentou coagi-lo a dar um golpe e diz que renunciará ao mandato

Em vídeo nas redes sociais, o parlamentar disse que recusou a proposta e denunciou

Marcos Mortari

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) se pronuncia da tribuna no plenário (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) se pronuncia da tribuna no plenário (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou, na madrugada desta quinta-feira (2), que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a dar um golpe de Estado para seguir no Palácio do Planalto.

Em vídeo nas redes sociais, o parlamentar não deu detalhes sobre quando nem como a proposta foi feita, mas disse ter recusado e denunciado o caso.

“Eu ficava p… quando me chamavam de bolsonarista. ‘Ah, o senador bolsonarista e tal’. Vocês esperem. Eu vou soltar uma bomba aqui para vocês: sexta-feira, vai sair na Veja, a tentativa do Bolsonaro, que me coagiu para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. Só para vocês terem ideia. E é lógico que eu denunciei”, afirmou.

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Horas depois da revelação, Marcos do Val comunicou que apresentaria sua renúncia no Senado Federal. “Após quatro anos de dedicação exclusiva como senador pelo Espírito Santo, chegando a sofrer um princípio de infarto, venho através desta, comunicar a todos os capixabas a minha saída definitivamente da política”, disse também pelas redes sociais.

No comunicado, o parlamentar se queixa da perda da convivência com a família e de ataques sofridos durante o exercício do mandato. “As ofensas que tenho vivenciado, estão sendo muito pesado para a minha família (sic). Que Deus conforte os corações de todos os meus eleitores. Desculpem, mas meu tempo, a minha saúde até a minha paciência já não estão mais em mim!”, escreveu.

Segundo o senador, a renúncia será apresentada nos próximos dias ao comando da casa legislativa. Ele também disse que pretende retomar sua carreira nos Estados Unidos.

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O mandato de Marcos do Val iria até fevereiro de 2027. Com a renúncia do parlamentar, deve assumir o cargo a primeira suplente da chapa, Rosana Forest, que à época da eleição de 2018 era filiada ao PPS (hoje Cidadania).

Em entrevista à GloboNews, Marcos do Val disse que um dos fatores que levaram à decisão de deixar a política foi um suposto diálogo presenciado por Bolsonaro, logo após a derrota nas eleições de outubro de 2022, em que o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) teria proposto uma ação golpista ao parlamentar.

Segundo o senador, a proposta, verbalizada por Silveira mas que contaria com apoio de Bolsonaro, envolvia não desmobilizar os acampamentos golpistas e, enquanto isso, gravar sem autorização alguma conversa que comprometesse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

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“Eles me disseram: ‘Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte. E você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa pra dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso'”, relatou Do Val ao portal de notícias G1.

Ele disse que pediu para analisar a proposta e responder em um segundo momento. Em seguida, contou que levou o caso ao conhecimento de Alexandre de Moraes, que considerou a proposta “um absurdo”.

A revista Veja publicou reportagem com detalhes sobre o caso. Segundo a matéria, que diz ter tido acesso a um conjunto de mensagens telefônicas, o encontro entre Bolsonaro, Silveira e do Val teria ocorrido em 9 de dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada.

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O senador havia sido escolhido como o encarregado por realizar a gravação escondida de Alexandre de Moraes porque conhecia o magistrado há mais de uma década. Era visto como o personagem ideal para se aproximar do ministro sem levantar suspeitas.

A reportagem conta que, à altura daquela reunião, apenas os três tinham conhecimento do plano. Outras duas, possivelmente militares, tomariam conhecimento com o avanço da operação.

De acordo com a revista, Bolsonaro disse que contava também com o suporte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta à época comandada pelo general Augusto Heleno. O órgão é responsável pela segurança do presidente e tem sob seu organograma a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

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A reportagem conta que Marcos do Val pediu um tempo para pensar no plano e, nos dias seguintes à reunião, recebeu novas mensagens de Silveira tentando convencê-lo da segurança e da importância do plano. Uma das mensagens atribuídas ao então deputado dizia que a operação “salvaria o Brasil”.

Diante da gravidade dos fatos, a matéria relata que o senador procurou Alexandre de Moraes. Os dois teriam se encontrado em 14 de dezembro, dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava a legalidade do chamado “orçamento secreto”. Depois do rápido encontro, o senador teria comunicado Silveira de que declinara da missão.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.