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O Ibovespa fechou em alta de 1,03% nesta terça-feira (31) e, com isso, avançou 3,37% no primeiro mês de 2023, encerrando-o nos 113.430 pontos. De forma geral, o principal índice da Bolsa brasileira acompanhou hoje o maior otimismo visto no exterior – o que se repetiu por boa parte de janeiro.
Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq avançaram, respectivamente, 1,09%, 1,46% e 1,67%. No mês, as altas dos três benchmarks foram, na mesma sequência, de 2,81%, 6,17% e 10,68%.
“No mês de janeiro, gosto de dividir o raciocínio entre o mercado externo e o mercado local. Dois pontos, lá fora, foram muito importantes. O primeiro deles é a reabertura da China, com o governo, por lá, indicando que vai abrir sua economia e retomar a mobilidade das pessoas”, diz Mario Schalch, gestor de multimercado da Neo. “O segundo ponto foi a continuidade da desaceleração dos dados de inflação dos Estados Unidos, o que fará com o que o Federal Reserve provavelmente reduza o ritmo com o qual está subindo a taxa de juros a partir da reunião de amanhã de 0,50 ponto percentual para 0,25 ponto”.
Entre as maiores altas do Ibovespa em janeiro foram destaques as companhias exportadoras de commodities, na esteira das notícias provindas da China. As ações ordinárias da CSN Mineração (CMIN3) ganharam 30,88%, as da CSN (CSNA3), 27,49% e as da 3R Petroleum (RRRP3), 18,75%. As preferenciais série A da Usiminas (USIM5) ganharam 19,13%.
“Esses dois fatores foram cruciais. Tivemos a China voltando a contribuir com a atividade econômica mundial e o ganho de força da tese de que os Estados Unidos poderá subir menos os juros, por conta da sua inflação. Lá fora, com isso, a maioria dos índices subiram e as moedas ganharam força frente ao dólar”, contextualiza Schalch.
O DXY, índice que mede a força do dólar frente a outras divisas de países emergentes, caiu de cerca de 104,5 pontos no começo de janeiro para 102,04 nesta terça, baixa de aproximadamente 2,3%. Frente ao real, a moeda americana caiu 3,8% em janeiro, sendo 0,75% no pregão de hoje. A divisa comercial fechou a R$ 5,076 na compra e R$ 5,077 na venda.
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O recuo da inflação nos Estados Unidos, e a curva de juros recuando por lá, cria fluxo de capital para outras economias do mundo. Os títulos do tesouro americano são considerados os mais seguros do mundo e quando negociados a taxas mais elevadas “sequestram” parte dos investimentos. Além disso, a alta das commodities tende a beneficiar as moedas de países emergentes, que são exportadores destes produtos
Curva de juros brasileira destoa de Ibovespa e dólar
“Quem destoou desse sentimento, porém, foram os juros brasileiros. As taxas longas subiram até 50 pontos-base. As expectativas de inflação longa estavam em 6,20% no começo de janeiro e foram para 6,70%”, aponta o especialista da Neo. “Isso se deu, em grande parte por conta dos ruídos políticos”.
Nos Estados Unidos, os treasuries yields para dez anos saíram do patamar de 3,80% no começo do mês para fechar esta terça negociados a 3,502%. Os para dois anos, saíram de 4,40% para 4,195%. No Brasil, por exemplo, o DI para janeiro de 2027, no último pregão de 2027, era negociado a 12,64%. Nesta terça, fechou a 12,78%.
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“O que chamou a atenção em janeiro, e deve continuar em fevereiro, é a dicotomia do investidor local e o global. Estamos em dois mundos diferentes. O local presta atenção aos primeiros movimentos do governo, com as primeiras mensagens não sendo bem recebidas. Isso pegou principalmente na renda fixa, com a curva de juros abrindo mesmo com, lá fora, a curva fechando muito. Isso indica que o investidor local não está seguindo muito o exterior, mas sim nossas idiossincrasias”, destaca Marcelo Guterman, especialista em investimentos da Western Asset.
Entre as ameaças que pesaram sobre a curva de juros brasileira, estão questões como a ameaça à independência ao Banco Central, desonerações dos combustíveis e por ai vai – que impactam a credibilidade do país e também a situação fiscal.
Além disso, a questão das “inconsistências contábeis” da Americanas (AMER3) também foi destaque – e pesou na curva. “As condições financeiras ficam mais apertadas para quem quer pegar dinheiro, fora toda a questão envolvendo o 3G”, explica Guterman.
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Fevereiro um pouco esvaziado?
Para os especialistas escutados pelo InfoMoney, os mesmos noticiários que foram destaque em janeiro continuarão a repercutir no segundo mês do ano.
Investidores devem observar de perto as movimentações das bolsas americanas – que ontem, por exemplo, ajudaram a puxar o índice brasileiro para baixo.
“Mercado ontem lá fora foi mal, por conta das as expectativas em relação ao Comitê Federal de Mercado Aberto [Fomc, na sigla em inglês]. Parecia que estava precificado um resultado muito positivo e ai tivemos uma queda forte nessa segunda, apesar da reversão de hoje”, diz Rodrigo Jolig, estrategista chefe e CEO da Alphatree.
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Mario Schalch vai no mesmo sentido. “Olhando para frente, no mês de fevereiro será relevante referendar o movimento que está acontecendo de finalização do aumento dos juros por BCs importantes, como o americano e o europeu. A junção de menos inflação com queda de atividade econômica não tão grande, sem rupturas ou queda abruptas, deve ser monitorada”, diz o especialista da Neo.
No cenário interno, o especialista da Neo dá destaque para o tom do diálogo do Banco Central com o Ministério da Fazenda, principalmente quanto à substituição de Bruno Serra na diretoria de política monetária. Além disso, chama atenção também para possíveis mudanças em relação à meta de inflação e à desoneração da gasolina.
“São indicações que mostrarão a direção que o atual governo quer tomar para aumentar a arrecadação e cortar gastos”, debate Schalch.
Guterman, por fim, explica que o segundo mês de 2023 deve continuar um pouco parado, sem muito destaque fora os noticiários já mencionados.
“Será um mês mais curto, por conta do Carnaval, e um pouco vazio quanto às notícias domésticas, com umas ou outras falas. Já tivemos várias falas polêmicas e, por isso, ficamos imaginando: o que mais o Governo pode falar que vai abalar o mercado? O que pode acontecer?”, indaga. “Estamos com baixo volume porque, em parte, estamos em um ‘mata burro’. Os preços dos ativos da Bolsa brasileiras estão bons, mas estão bons por um motivo, que são as incertezas políticas”.