O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), afirmou nesta segunda-feira (9) que “nosso país caminha para a normalização institucional com velocidade”, no dia seguinte à invasão de Brasília por apoiadores bolsonaristas golpistas que destruíram os edifícios do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
Segundo Dino, a Força Nacional recebeu um reforço de cerca de 500 policiais que foram cedidos por 10 estados em acordos do governo federal com governadores para a proteção da Praça dos Três Poderes. Ele comentou que há um sentimento de união nacional entre os governadores em defesa da democracia, inclusive com aqueles que fazem oposição a Lula, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
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O ministro também falou sobre a responsabilidade do governo do Distrito Federal no episódio, que culminou na demissão de Anderson Torres, ex-secretário de segurança pública do DF, e no afastamento do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB).
“Não podemos presumir que um governo estadual ou local vá falhar no cumprimento de seus poderes. Quando ocorre, outra esfera deve agir, foi o que nós vimos ontem”, disse. “Na reunião de hoje dos governadores, vai ficar muito nítido que há uma união nacional. Falei com Tarcísio, de São Paulo, e Castro, do Rio de Janeiro, que são de oposição ao nosso governo, mas agiram com suas polícias em seus estados. O quanto antes for possível suspender a intervenção no DF, nós faremos”.
Dino explicou que houve uma mudança de planejamento de última hora do governo local do DF que permitiu que as pessoas se aproximassem da Praça dos Três Poderes, apesar dos alertas de que poderia haver um ato golpista após a posse de Lula. “O governo do DF cumpriu tudo o que combinamos na posse, mas agora houve essa mudança.”
“As investigações vão dizer se a mudança foi apenas um erro ou se foi um erro com propósito”, portanto, um crime. O ministro também respondeu perguntas sobre a responsabilização de políticos que motivaram os ataques. “Palavras têm poder, e essas palavras se transformaram em ódio. Há líderes políticos que são responsáveis pelo ódio das pessoas que invadiram os prédios ontem visando um golpe”, afirmou.
“O extremismo não desapareceu da sociedade brasileira, mas ele, sim, foi mais uma vez derrotado. Vai ficar aí, latente. E as pessoas esperem as eleições de 2026, quando poderão votar em quem quiserem”, completou o ministro da Justiça.
Prisões
Dino afirmou que foram realizadas as perícias pela Polícia Federal nos prédios destruídos visando a instrução dos inquéritos na PF e para responsabilidade civil. “Esses laudos dimensionando os danos serão revertidos para a AGU [Advocacia-Geral da União] para que cobrem dos responsáveis o custo pelos danos, alguns irreparáveis”, disse.
“Em relação à tentativa de continuidade dos atos antidemocráticos, ontem chegamos a ter 9 rodovias interditadas, mas que já foram liberadas. A PF apreendeu cerca de 40 ônibus que já estavam em deslocamento saindo de Brasília. Havia armas de fogo”, afirmou o ministro.
“Ontem, foram 209 prisões em flagrante. Neste momento, estão sendo ouvidas 1.200 pessoas. No total, algo em torno de 1.500 detenções e prisões. A imensa maioria [dos golpistas presos] estava no acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília”, completou.
O ministro disse que há vários crimes que serão indicados caso a caso para os presos, como golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito, dano a patrimônio público, associação criminosa, lesões corporais a policiais e profissionais da imprensa, entre outros. Ele falou que as prisões em flagrante já se esgotaram, mas que haverá novas prisões, sejam temporárias ou preventivas. “Já temos mandados de prisão expedidos para cumprimento.”
“O mais importante é que [os golpistas] não obtiveram êxito de gerar efeito dominó. Havia uma expectativa de que a partir daqueles eventos simbólicos, como a subida da rampa, isso motivaria outros eventos pelo país”, disse Dino.
Sobre o financiamento das pessoas que foram enviadas à Brasília, o ministro disse que isso também será revelado pelas investigações em curso. “O que é possível afirmar cabalmente é que havia financiamento. Já temos todas as informações de quem contratou os ônibus. Eles serão chamados a prestar esclarecimento, este é o caminho, o passo um para a identificação dos financiadores”, afirmou.
O ministro foi indagado também sobre a fala do presidente Lula acusando membros radicais do agronegócio de terem participação nos atos golpistas de domingo. “Que há pessoas desse segmento [agronegócio] que participaram, isso é inequívoco, mas não podemos generalizar.”