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Os ataques de bolsonaristas golpistas em Brasília na véspera (8), com depredação aos prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto, geraram temores sobre novos levantes e uma crise institucional. Isso ligou o alerta em agentes de mercado sobre um risco, até então adormecido, sobre não aceitação aos resultados das eleições.
Mesmo assim, o Ibovespa fechou com leve alta de 0,15%, aos 109.129 pontos. O dólar comercial, por sua vez, fechou com leve alta de 0,41%, a R$ 5,257 na compra e R$ 5,258 na venda.
As análises iniciais, contudo, foram de que haveria um impacto negativo para o mercado brasileiro, o que de fato aconteceu. O Ibovespa futuro para fevereiro de 2023, por exemplo, abriu em queda de mais de 1%. O dólar comercial chegou a avançar mais de 1%, bem como a curva de juros futuros.
Apesar dessas baixas mais expressivas no começo das negociações, nem mesmo os momentos de maior queda no dia mostraram algum cenário de estresse muito forte. Isso se deu porque a avaliação de grande parte dos investidores foi que o impacto dos ataques seria de curto prazo, em meio a considerações sobre as circunstâncias dos atos e às respostas institucionais.
“À medida que o trabalho diário do governo for retomado, a atenção deve voltar às questões macro que vêm ganhando importância e, aos poucos, mas com firmeza, as mudanças microrregulatórias que começam a ganhar mais espaço nas discussões governamentais”, apontou o JPMorgan em análise.
Para a equipe do banco, os episódios do domingo não são um 6 de janeiro de 2021, quando houve o ataque ao Capitólio por apoiadores de Donald Trump. “Diferente do que vimos nos EUA em 2021, não há uma demanda clara dos ‘manifestantes’ – chamados de criminosos e terroristas em diversas redes. Temos uma situação aqui que o presidente já tomou posse, o gabinete foi nomeado e o governo está funcionando há 8 dias.”
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Os estrategistas também destacaram que há uma diferença crucial de que os edifícios estavam praticamente vazios no momento da invasão, limitando assim os danos em termos de número de feridos e perdas de vidas. “Foi mais um evento midiático do que qualquer outra coisa.”
O Itaú BBA apontou que esperava que os preços dos ativos brasileiros sofressem, dado o aumento do prêmio de risco institucional, “mas com o tempo o impacto tende a diminuir, já que o o foco provavelmente retornará ao debate sobre política econômica”. “Devemos esperar que os mercados de ações sofram, os juros subam e o real se desvalorize, ainda que não por muito tempo, como aconteceu em episódios semelhantes em outros países”, apontam.
“Dado que a situação parece estar sob controle em Brasília, espero que qualquer impacto na classe de ativos seja de curta duração”, disse Alejo Czerwonko, diretor de tecnologia para Mercados Emergentes das Américas do UBS Global Wealth Management.
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Carlos Eduardo Furlanetti, professor da FIA Business School, prevê que uma forte reação das instituições, incluindo do Congresso Nacional e do STF, apoiando o presidente possa até ajudar politicamente o governo Lula no médio prazo. Bruno Komura, analista da gestora de recursos Ouro Preto Investimentos, também apontou na véspera que esperava uma reação inicial ruim nos mercados, com juros subindo e câmbio e Bolsa em queda. Mas Komura apontou recuperação dos mercados até o final da semana, também considerando uma forte reação institucional contra os invasores. E a reação veio antes do esperado.
Antes mesmo da abertura do Ibovespa à vista, o futuro já mostrava uma forte desaceleração das perdas. A abertura do Ibovespa, às 10h (horário de Brasília), foi de queda, com o índice chegando a uma baixa de 0,76% na mínima, o que é visto ainda como moderado, mas o índice amenizou ainda mais as perdas logo na primeira hora do pregão e passou a oscilar entre leves perdas e ganhos. O benchmark da Bolsa voltou a ter baixas posteriormente, mas longe de cenários extremos.
Por volta das 12h30, o Ibovespa virou para alta – intervalo no qual se manteve até praticamente o fim do pregão.
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Cabe destacar ainda que o noticiário internacional mais positivo ajudou a a Petrobras (PETR3;PETR4), com o avanço dos preços do petróleo após a reabertura da China, durante a maior parte do pregão.
O contrato futuro do Brent avançou forte durante a manhã e início da tarde, com cerca de 3% de alta, acima de US$ 80 o barril. A commodity, porém, acabou perdendo força, fechando com alta de 1,43%, a US$ 79,69 – o que também desacelerou a alta do preço das ações da estatais.
A empresa, vale lembrar, estava no foco após os protestos uma vez, que, além de ser uma estatal, havia ameaças de ataques também a refinarias das companhia. Contudo, a Petrobras apontou ter tomado as medidas necessárias e o Ministério de Minas e Energia afirmou que tem garantido o abastecimento nacional de combustíveis.
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Os ativos PETR3 fecharam com ganhos de apenas 0,67%, a R$ 27,09, enquanto PETR4 subiu 0,55%, a R$ 23,87. Além dos papéis da petroleira, outras companhias, principalmente no setor de mineração e siderurgia, também surfaram nas notícias provindas da China – as ações preferenciais da Metalúrgica Gerdau (GOAU4) ganharam 2,32% e as ordinárias da PetroRio (PRIO3), 2,36%.
O dia foi majoritariamente positivo para os mercados internacionais. Para além da reabertura chinesa, hà a especulação de que o Federal Reserve possa desacelerar seu ritmo de aumentos de juros à medida que a inflação mostrar sinais de moderação, após dados de emprego divulgados na sexta passada apontarem para esfriamento dos salários em dezembro.
Em Nova York, após os índices registrarem fortes altas durante o dia, o Dow Jones fechou em baixa de 0,34% e o S&P 500, de 0,08%. O Nasdaq foi o único que se manteve no verde, com alta de 0,63%
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“Lá fora, o dia começou muito bem, mas foi devolvendo. Nessa semana tempos os números do CPI e PPI [inflação ao consumidor e ao produtor, respectivamente], e o mercado deve ficar um pouco volátil, na espera das publicações”, debate Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus. “Como os pregões dos últimos dias foram fortes, é normal também que os índices percam um pouco de força”.
O maior impacto do noticiário político durante toda a sessão foi visto no dólar, com avanço que chegou a ser superior a 1% na divisa comercial, na casa dos R$ 5,29, mas o movimento também arrefeceu e a moeda fechou com ganhos mais modestos, de 0,41%, na casa dos R$ 5,257 – isso, porém, com o DXY, índice que mede a força da moeda frente a outras divisas de países desenvolvidos, caindo 0,73%.
Durante a manhã, por fim, houve alta nos principais contratos de juros futuros, que viraram para queda, porém, ao longo da tarde – o que influencia principalmente as ações domésticas, como varejistas e construtoras.
O contrato de juro com vencimento em janeiro de 2024 (DIF24) caiu dois pontos-base, a 13,57%, e para 2025, 6,5 pontos, a 12,78%. O para 2027 tinha baixa de oito pontos, a 12,71%, enquanto o para 2029, de cinco pontos, a 12,79%.
Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram as ações ordinárias da Americanas (AMER3), com mais 6,44%, e da CVC (CVCB3), com mais 4,98%.
Pontos de atenção no radar
Apesar da reação relativamente “tranquila” dos ativos na sessão desta segunda-feira, alguns pontos de atenção estão no radar dos investidores mais para frente.
O JPMorgan destaca ser preciso observar se esses protestos aparecerão novamente, e se sim, a intensidade deles. “Os protestos de ontem foram centralizados em Brasília e é fundamental que não se espalhem em larga escala para outros estados ou que não causem um efeito cascata, como uma greve de caminhoneiros”, avaliam os estrategistas. Algumas movimentações de bloqueio à estradas foram observadas durante a manhã, mas sem impactos generalizados.
José Raymundo Faria Junior, diretor da Wagner Investimentos, aponta que, do ponto de vista de mercado, os eventos de ontem vão gerar transtornos de curto prazo e a questão que fica é o quanto podem prejudicar a percepção dos investidores, principalmente estrangeiros, com o país. Isso após a entrada de capital estrangeiro ter batido recorde em 2022, com um total acumulado é de R$ 119,8 bilhões, o maior valor desde o início dos dados em 2008.
O banco suíço Julius Baer destaca que os últimos fluxos de ações seguem mostrando que os investidores estrangeiros continuam mais otimistas em relação ao mercado brasileiro do que os locais, pois os estrangeiros aumentaram suas posições acionárias, enquanto os locais permaneceram vendedores líquidos e reduziram sua exposição.
“Dada a forte cobertura da mídia internacional sobre os tumultos, esperamos que os investidores estrangeiros reduzam um pouco seu otimismo”, avalia.
Por outro lado, embora não descarte a possibilidade de que novos protestos violentos possam pesar no mercado no curto prazo, o foco dos investidores deve continuar nas questões macroeconômicas, especialmente na formação do novo quadro fiscal do Brasil, que pode ser esperado para os próximos meses.
“Aguardamos mais sinais de que o governo conseguirá acalmar as preocupações fiscais do mercado, o que pode levar as ações brasileiras a ganhar impulso positivo devido a valorizações e dividendos atraentes, uma perspectiva de ganhos melhorada com a reabertura da China e um pico no dólar americano”, complementa.
Contudo, analistas também destacam que a agenda econômica pode sofrer atrasos, ficando em segundo plano com a turbulência política.
Hoje, foi anunciado que as primeiras medidas do governo Lula serão anunciadas ainda nesta semana, mantendo o cronograma.
O BBA avalia ainda que o evento da véspera pode enfraquecer a oposição, aumentando o apoio político ao governo federal. No entanto, poderia fazer o governo federal ser mais hesitante em implementar medidas impopulares, como aumento dos impostos sobre os combustíveis, no início do ano. “O governo provavelmente se voltará no sentido de reforçar o seu apoio institucional, em vez de políticas econômicas”, avalia.
Na manhã desta segunda, foi informado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está se encaminhado para Brasília, mas ainda tinha agenda indefinida para o dia após os protestos.
Em um tom pessimista, a equipe de análise da Levante destacou que foi traçado um paralelo do impacto nos mercados com a turbulência dia 6 de janeiro de 2021, quando milhares de manifestantes em Washington invadiram o Capitólio, sede do Poder Legislativo americano. Naquele dia, houve impacto relativamente limitado em Wall Street, o que poderia indicar uma reação morna também por aqui.
Porém, o que havia sustentado a resiliência dos mercados americanos na sessão não tinha sido a percepção política de que os eventos em Washington não teriam importância e sim, naquela ocasião, os juros perto de zero, a manutenção de uma política expansionista por parte do Federal Reserve (Fed) o banco central americano, e também a perspectiva de melhora nos resultados das empresas em 2021, após a economia ter superado a pior fase da pandemia.
Já a situação do Brasil é diferente, aponta a equipe de análise, com a percepção de juros altos por mais tempo e as expectativas não sendo as das melhores para a economia brasileira.
A Levante cita o relatório Focus desta segunda, que mostrou que a expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 recuou levemente, para 0,78%.
“Em termos absolutos e relativos, a baixa de apenas dois pontos-base não é relevante. Porém, sob qualquer métrica,
um crescimento abaixo de 0,8% é um desempenho muito ruim para a economia. E a inflação esperada está em 5,36%, leve alta ante as projeções de uma e de quatro semanas atrás. De qualquer maneira, os prognósticos superam o teto da meta de inflação, que é de 4,75% (3,25% mais a tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo)”, aponta.
Assim, avalia que, mesmo que o domingo tivesse transcorrido sem nenhuma notícia, o cenário para as ações é negativo devido aos juros elevados e às perspectivas ruins para a inflação e para o crescimento esperado da economia. “Com um aumento da tensão política, que pode exercer um efeito negativo tanto sobre a governabilidade quanto para a condução da política econômica, o cenário piora ainda mais”, aponta.
Por outro lado, há quem esteja mais otimista com os ativos. “Continuamos a pensar que, assim que a poeira baixar, principalmente em termos de visibilidade macro/fiscal, o cenário global (reabertura da China, pico das taxas de juros nos EUA) deverá tomar o lugar de frente na determinação de preços”, avalia o JPMorgan. Por enquanto, o cenário é de volatilidade, com a incerteza doméstica limitando os ativos por enquanto, pondera.
Para a consultoria de risco político Eurasia, é improvável que o episódio de domingo gere uma crise de curto prazo ou um surto de agitação prolongado. Os analistas da casa também avaliam que as repercussões de curto prazo provavelmente renderão mais apoio político a Lula.
Contudo, o ato de 8 de janeiro em Brasília é um forte lembrete de que Lula enfrentará uma oposição mobilizada com potencial para se tornar violenta, uma vulnerabilidade que pode se traduzir posteriormente em desafios de governabilidade se ele perder o apoio popular em um contexto de maiores dificuldades econômicas. “Se os direitos políticos de [Jair] Bolsonaro fossem retirados no futuro (probabilidades maiores depois de ontem, embora ainda improvável), o risco de tensões sociais aumentaria ainda mais”, avalia.