Ações da Gafisa (GFSA3) disparam 43% após venda de hotel e ‘vitória’ sobre gestora

Construtora tem registrado seguidas altas, mesmo em um contexto de forte queda da Bolsa

Rikardy Tooge

Publicidade

Os papéis da Gafisa (GFSA3) iniciaram 2023 em disparada. Nesta segunda-feira (2), primeiro pregão do ano na B3, as ações da construtora subiram 43,03%, cotadas a R$ 14,16. O movimento vai na contramão do Ibovespa, que recua 3,06%, aos 106.376 pontos.

Dois grandes fatores norteiam a recente alta, a terceira consecutiva acima dos 20%.

O primeiro deles foi o anúncio da venda da participação da Gafisa no hotel Fasano Itaim, em São Paulo. A notícia, que foi considerada positiva pelo mercado, foi divulgada após o último pregão do ano passado, na quinta-feira (29). Como não houve sessão desde então, o mercado estava com o ajuste na cotação “represado”.

Continua depois da publicidade

A Gafisa negociou uma fatia correspondente a 80% do Fasano Itaim por R$ 330 milhões, sendo R$ 246,6 milhões em assunção de dívidas. A construtora havia adquirido a participação no empreendimento no fim de 2020 por R$ 310 milhões.

Para um analista com conhecimento na empresa, a negociação trará certo alívio ao endividamento líquido da companhia, estimado em R$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre de 2022 – mesma avaliação é feita pela companhia. “O CEO Henrique Blecher vem implementando uma gestão focada na geração de caixa e desalavancagem da companhia, com a venda de vários ativos, sendo o mais recente o Hotel Fasano”, reforçou a Gafisa, em nota.

“Visualizamos esse movimento como positivo pelo fato de que demonstra a capacidade de execução da companhia na restruturação de ativos”, acrescentou o analista Lucas Lima, da VG Research.

Continua depois da publicidade

Outra alavanca para alta vem dos desdobramentos de uma briga judicial entre Gafisa e a Esh Capital. A gestora questiona o aumento de capital da companhia, pede a saída da administração da empresa e tentou marcar uma assembleia geral de acionistas para esta segunda, porém uma decisão liminar da Justiça de São Paulo manteve a data proposta pela construtora, em 9 de janeiro.

“Nesse contexto, há a probabilidade dessas discussões estarem fomentando um short squeeze [desmonte de posições vendidas] pelo fato dos acionistas da Gafisa estarem retirando a disponibilidade do aluguel de suas ações para poderem votar na Assembleia, o que termina implicando em uma compra forçada pelos investidores que estavam “short” [vendidos] no papel”, complementou Lima.

Para outro analista ouvido pelo InfoMoney, o short squeeze é a causa principal, embora não seja possível confirmar, na visão dele, de que a assembleia é o motivo. “A base acionária da Gafisa é composta por muita pessoa física, que não tem esse costume [de participar de assembleias]. Outro ponto é que o setor de construção no geral é um dos mais ‘shorteados’ da bolsa, e a Gafisa é um dos papéis com maior liquidez. Então, um movimento de desmonte dos vendidos pode gerar isso [efeito dominó]”, explica.

Continua depois da publicidade

Aumento de capital em debate

Nesta terça-feira (3), o conselho de administração da Gafisa decide se irá ou não homologar o aumento de capital em R$ 150 milhões no próximo dia 5 de janeiro, antes da AGE, ou se fará a homologação depois do encontro do dia 9. Em fato relevante sobre o tema, a companhia diz que o aumento de capital teve adesão de 1.500 acionistas, mas Esh afirma que o número não é relevante em relação ao total da base acionária da Gafisa.

“Ao contrário do que a Gafisa quer fazer parecer, o aumento de capital proposto teve adesão de 1.500 acionistas de uma base acionária de mais de 51.000, conforme site da B3. Isso dá menos do que 3 % da base acionaria”, apontou a gestora, em nova enviada ao InfoMoney. “O referido aumento de Capital não pode ser concretizado antes da AGE do dia 9, uma vez que a mesma deliberará sobre  questão. Cabe aos acionistas e não aos detentores de bônus de subscrição aprovar ou reprovar o aumento de capital”, prosseguiu a Esh Capital.

O analista que cobre Gafisa reforçou que a empresa vem passando por uma grande reestruturação desde a venda da participação da GWI Asset Management, do polêmico sul-coreano Mu Hak You, em 2019. A fonte lembrou que, desde então, o novo bloco de controle realizou operações que tem forçado a diluição da base acionária – o que poderia ter provocado a reação da Esh. “Não sei se o fundo realmente tem apenas um interesse no setor ou se quer ‘passar um recado’ ao acionista de referência”, avaliou.

Continua depois da publicidade

Entenda o caso

A Esh Capital, por meio de seu fundo Esh Theta, é um acionista relevante da Gafisa, possuindo 15,1% de seu capital social. A gestora, comandada pelo investidor Vladimir Timerman, tem investido contra as decisões do empresário Nelson Tanure, acionista de referência da companhia, dentro da construtora.

O início da última crise ocorreu em 25 de novembro, quando o conselho de administração da Gafisa aprovou um aumento de capital de R$ 150 milhões, o que poderia diluir a participação da Esh na empresa, caso não exerça o direito de preferência. No dia 30 do mesmo mês, a gestora pediu a convocação de uma AGE para questionar os rumos da empresa e cancelar o aumento de capital.

Além disso, há pedidos também para responsabilização judicial contra os administradores e membros do conselho fiscal da companhia pelos prejuízos causados à Gafisa entre 2019 e 2022. Também solicita a destituição dos membros dos conselhos de administração e fiscal, além da eleição de novos administradores.

Continua depois da publicidade

Em 8 de dezembro, o conselho de administração da Gafisa autorizou a convocação da assembleia geral, mas sem estipular uma data. Após quatro dias sem retorno, a Esh decidiu usar sua prerrogativa para convocar a AGE em 2 de janeiro, o que foi questionado pela construtora.

Com isso, a Gafisa entrou na CVM para pedir a anulação da data e marcou o encontro para 9 de janeiro. No entanto, no entendimento da autarquia, a Esh tinha o direito de convocar o encontro a partir do momento em que o conselho de administração acolheu um pedido feito há mais de oito dias pela gestora (diferença entre 30 de novembro e 8 de dezembro).

Apesar disso, a construtora obteve liminar no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para realizar a assembleia no dia 9 de janeiro.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br