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SÃO PAULO – De um lado está o presidente Jair Bolsonaro, de outro, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). E, à espreita, está o investidor brasileiro, tentando compreender as turbulências do cenário político e, principalmente, as consequências sobre seus investimentos.
Embora não seja propriamente uma surpresa, a dificuldade de articulação de Bolsonaro com o Congresso ganhou um novo capítulo na semana passada, a partir da discussão pública travada com Maia, que despertou preocupação do mercado financeiro com relação à tramitação da reforma da Previdência. Estaria sua aprovação em risco?
Por ora, a resposta é negativa. Mesmo com o aumento das tensões e com a visão de que o processo poderá tomar mais tempo do que o desejado, agentes financeiros seguem confiantes na aprovação da principal reforma em pauta neste novo governo. Mas a maior dificuldade tem gerado um aumento da volatilidade nos mercados — o que pode despertar oportunidades para investidores mais ativos.
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O início do pregão desta segunda-feira é um bom indicativo dessa volatilidade. A queda de 1,5% do Ibovespa futuro indicava uma abertura negativa para a bolsa, mas a pressão diminuiu com o tempo. O Ibovespa abriu o pregão com leve baixa e inverteu o rumo, em meio ao ânimo gerado após reunião entre Bolsonaro e seus principais ministros, em que discutiram a crise política que ganhou corpo nos últimos dias.
Movimento parecido foi visto no mercado cambial, em que o dólar chegou a superar R$ 3,92 e, por volta das 16h20, operava em queda de 1%, a R$ 3,88. Já o Ibovespa subia 0,25%, aos 94.110 pontos.
Para Guilherme Abbud, sócio-fundador e diretor de investimentos da Persevera Asset Management, ainda que a nova crise seja de fato um problema para a reforma, a situação deve se acertar. “Ninguém ganha com a disputa, com a batalha de egos”, pontua. “Acho que não é o caso de todo mundo sair se desfazendo de posição, fazendo hedge cambial.”
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O câmbio é tido como a principal métrica de pânico do investidor e a desvalorização da moeda americana em relação ao real no pregão de abertura desta semana expressa o tom mais moderado do mercado, indica Abbud. “A reforma é uma questão importante, que inspira cuidados, mas a situação cíclica do Brasil é muito boa e nos permite aguentar o sobe e desce de curto prazo.”
Na avaliação do diretor de investimentos, conhecido por sua atuação no HSBC e na Bradesco Asset Management, os ativos brasileiros estão bastante baratos e as preferências recaem hoje sobre os mercados de juros e bolsa.
A Persevera conta com um fundo multimercado multiestratégia, aberto no fim de 2018, e, em renda fixa, tem uma alocação concentrada em juros nominal curto, com vencimento em até dois anos, e uma pequena posição em títulos públicos atrelados à inflação com prazos mais longos, apostando na queda de juro real de longo prazo.
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A curva de juros brasileira embute hoje um aumento das taxas, o que é “muitíssimo improvável”, afirma Abbud. A gestora espera queda de juros em 2019, para 5,5% ao ano, ainda que a tramitação da reforma da Previdência atrapalhe a avaliação do mercado e do próprio Banco Central sobre o movimento. “A fraqueza da economia e da inflação é tal que o Banco Central deveria cortar os juros quase que independentemente da tramitação da reforma”, diz Abbud, que não prevê aumento da Selic em 2020.
Um aumento da alocação em juros está sendo estudado pela Persevera, mas, neste primeiro momento, o foco está em analisar a extensão da reprecificação do mercado com o noticiário político e também em acompanhar a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada amanhã.
Sem unanimidade nos juros
Otávio Vieira, sócio-gestor da gestora de patrimônio Taler, tem uma visão diferente. Para ele, este é o momento de vender títulos públicos atrelados à inflação. “O rendimento atual, em torno de 4% a 4,5% ao ano, além da inflação, não vale a pena”, diz.
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Na sua opinião, é melhor adotar maior conservadorismo e investir parte dos recursos da renda fixa em fundos DI, com resgate apenas quando surgir alguma oportunidade — na bolsa ou na própria renda fixa. A outra parcela dos recursos pode ser aplicada em fundos multimercado. “Gestores de qualidade têm boas chances de conseguir navegar esse momento mais turbulento”, afirma.
O economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, conta que a gestora segue com a expectativa de reforma aprovada, ainda que coloque no cenário uma tramitação mais turbulenta e mais lenta que a prevista originalmente.
“Há uma curva de aprendizado de como vai ser nova política e de como o governo vai se articular com o Congresso. Todo mundo está esperando para ver como serão os caminhos, mas, a princípio, não acho que existam grandes problemas estruturais, é mais um problema processual”, diz.
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Ainda que o mercado tenda a ser bastante ansioso e que o novo governo não tenha muita experiência política, a situação deve se acalmar e proporcionar maior visibilidade, segundo Weeks. “Vamos ajustando o portfólio de acordo com o cenário, com um processo mais volátil com o tempo”, indica o economista da Garde.
Por ora, a gestora não alterou suas premissas, o que significa a manutenção da taxa básica de juros neste ano, discussão que, inclusive, perde o ímpeto com os eventos de curto prazo, diz Weeks. A Garde prevê alta de juros no primeiro semestre de 2020, com a Selic encerrando o próximo ano em 7,5% ao ano.
Volatilidade como oportunidade
Na visão do estrategista da Davos Wealth Management, Mauro Morelli, a volatilidade em si do mercado não é tão surpreendente, ainda que os eventos precisem ser avaliados com calma.
“Na melhor das hipóteses, a reforma vai ser aprovada em agosto ou setembro, por isso teremos alguns meses bastante voláteis daqui para frente e sugerimos aos investidores aproveitarem oportunidades”, diz Morelli. “O aumento de ruído entre os presidentes da Câmara e da República traz algo mais crítico, mas temos que analisar não no calor da notícia.”
A Davos virou o ano bastante posicionada em Bolsa, mas, com o tempo, reduziu a exposição para “neutra” e agora estuda retomar uma posição mais otimista. Segundo Morelli, se for para aproveitar a volatilidade, o caminho deve se dar pelo mercado de renda variável, no qual empresas públicas e de consumo lideram as preferências da casa, em contraposição a companhias de setores exportadores e de commodities.
Nos juros, a percepção é de retorno bastante limitado para a parte prefixada da curva, com preferência pelos títulos públicos atrelados à inflação. “Se a inflação voltar a subir, tem uma proteção e, se cair, o juro real segura um pouco [do retorno]”, aponta Morelli.
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