“Cautelosamente otimistas”, gestores se dividem entre maior exposição em Bolsa e juros

Na renda fixa, posições na parte intermediária da curva de juros, com retornos nominais e reais, dominaram os discursos deste mês

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – “Cautelosamente otimistas”. Eis a expressão mais utilizada por gestores de fundos de investimento para definir suas estratégias para o mês de junho. Em um cenário de expectativas cada vez mais modestas para o crescimento da economia brasileira em 2019, inflação sob controle, preocupações com o andamento da tramitação da reforma da Previdência e novas tensões com relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China, parte dos alocadores tem batido na tecla da importância de se adotar posições mais táticas. 

Por ora, as preferências do mercado se dividem entre Bolsa, com a percepção de que ações brasileiras estão sendo negociadas a preços atrativos e de que há até um excesso de pessimismo, como citou a Verde, e juros, com uma visão cada vez mais amplificada de novos cortes de juros pelo Banco Central. Posições na parte intermediária da curva de juros, com retornos nominais e reais, dominaram as cartas das gestoras deste mês. 

E não é à toa. Em maio, o IMA-B (índice que mede o desempenho de uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação) teve alta de 3,66%, enquanto o Índice de Renda Fixa do Mercado (IRF-M), que reflete a trajetória de uma carteira com papéis prefixados, subiu 1,77%. No mesmo período, o CDI registrou variação de 0,54% e o Ibovespa teve ganho de 0,70%.

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Renda fixa 

À espera de uma flexibilização da política monetária nos próximos meses, levando a Selic para novas mínimas histórias, a equipe da Gap Asset Management ganhou com o mercado de juros em maio e está renovando as apostas para junho. “Seguimos concentrando a nossa exposição em posições aplicadas em vértices curtos e intermediários das curvas de juros reais e nominais.” 

Com um tom de cautela, a gestora diz acreditar que a aprovação da reforma da Previdência poderá não ser condição suficiente para acelerar o crescimento brasileiro, gerando a necessidade de um afrouxamento adicional das condições financeiras. 

Em um contexto de abalo causado pelas negociações entre Estados Unidos e China, no exterior, e de volatilidade dos acontecimentos políticos, no Brasil, a Legacy Capital revisou a projeção de crescimento do PIB do país em 2019 (de 1,2% para 0,7%), diante da continuidade das surpresas negativas no plano da atividade econômica. Sua expectativa é de que o Banco Central corte os juros assim que a convergência fiscal do país estiver assegurada.

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Em maio, a posição aplicada em juros locais também contribuiu favoravelmente para o resultado do fundo da Legacy, e a exposição continua na preferência da casa. Por trás da escolha está a preocupação com a economia global, que já está em desaceleração e enfrenta a perspectiva de agravamento dos conflitos econômicos entre China e EUA.

“A tendência é a economia global sofrer novas rodadas de desaceleração – especialmente no plano do investimento. Neste ambiente, as bolsas tornam-se vulneráveis, e os juros despontam como o melhor ativo. Tencionamos, assim, mirar o estabelecimento de posições consistentes com este diagnóstico”, diz a Legacy.

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A Occam Brasil também destacou em sua carta mensal que tanto os dados de inflação como os de atividade seguem dando respaldo às posições aplicadas da gestora na curva de juros.

O tom “cautelosamente otimista” apareceu ainda na carta mensal da SPX. Para a gestora, um cenário mais favorável do ponto de vista inflacionário no Brasil e uma atividade econômica mais lenta do que a prevista, aliados a um cenário internacional com juros menores do que o antecipado, justificam alocações aplicadas na parte intermediária da curva de juros.

Atuando de maneira tática em Brasil, a Ibiúna Investimentos disse ter optado por manter uma exposição a risco “flexível” diante do ruído associado ao efetivo início da tramitação da Reforma da Previdência, voltando a concentrar suas posições em juros nominais e reais na parte intermediária da curva.

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As posições em papéis com retornos prefixados e indexados à inflação também foram mencionadas pela Vinland, enquanto o fundo Verde manteve a alocação em juro real no meio da curva. 

Uma das exceções do mercado, a Kapitalo Investimentos informou ter liquidado a posição aplicada em juros nominais, que lhe rendeu frutos positivos em maio. A gestora, contudo, endossou a avaliação das demais casas, ao pontuar que, no atual contexto de desaceleração global, provável queda dos juros em países desenvolvidos, elevado hiato doméstico e inflação baixa, a possibilidade de um novo ciclo de quedas nos juros também aumenta no Brasil.

Bolsa

No mercado de ações, apesar de um otimismo com relação à melhora na articulação política e da expectativa de aprovação da reforma da Previdência, os gestores seguem cautelosos, embora aproveitando as oportunidades. 

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Entre os que defendem a maior atratividade das ações brasileiras, a justificativa de preços descontados é a mais utilizada, com gestores afirmando que há oportunidades na classe de ativos no médio e no longo prazo. Este é o caso da Dahlia Capital: “Os preços das ações continuam atraentes, com a taxa de dividendo esperada para o Ibovespa superando pela primeira vez os juros reais de longo prazo”, afirmou a gestora, em sua carta mensal. 

Luis Stuhlberger, gestor da Verde, aproveitou a volatilidade da primeira metade de maio para aumentar sua posição em ações brasileiras, e destacou enxergar um excesso de pessimismo com o crescimento econômico, o que lhe mantém confortável com as posições em ações. 

Para a Persevera, o potencial de valorização da Bolsa no médio e no longo prazo está mais relacionado a um crescimento “robusto” dos lucros do que à reforma previdenciária. 

“Achamos plenamente factíveis altas do Ibovespa entre 30% e 60% num futuro próximo, com menos dependência da aprovação da reforma da Previdência e do crescimento do PIB do que se imagina”, destacou a gestora. 

Com a posição aplicada em juros nominais liquidada, a Kapitalo manteve a exposição líquida comprada em ações no Brasil. No último mês, a gestora aumentou a alocação nos setores elétrico, saneamento e de logística, e diminuiu as posições compradas em petróleo e papel e celulose.

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