Somos mais parecidos com o Homer Simpson do que com o Einstein

O que por um lado é positivo, pode também trazer mais dúvidas quando somos apresentados a tantas opções de investimentos

Equipe InfoMoney

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Autor:Glenda Ferreira, Economista e Planejadora Financeira da Levante!

O mundo dos investimentos oferece um grande leque de possibilidades aos investidores. O que por um lado é positivo, pode também trazer mais dúvidas quando somos apresentados a tantas opções (caímos no Paradoxo da Escolha).

Eu, particularmente, tenho preferido caminhos menos frequentados. Sabe aquela parte do gramado em que ninguém pisa?

Então. Por isso, hoje irei comentar sobre as Letras Financeiras (LF).

Um tanto quanto esquecidas, são títulos de renda fixa emitidos pelos bancos como forma de captar recursos para financiar seus negócios. No mesmo molde dos CDBs e LCIs/LCAs, elas são emissões de crédito privado.

Você empresta para os bancos em troca de um retorno que pode ser pós ou prefixado. No primeiro caso, a sua rentabilidade é atrelada a um índice, como o CDI, e no segundo, você sabe exatamente taxa de juros que será aplicada na rentabilidade de seu título. Admite ainda o pagamento periódico de rendimentos no intervalo de 180 dias.

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Abre parêntesis

Vamos conversar sobre prazos mais longos.

Eu sei, ninguém gosta. Afinal, parece tão distante…

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Mas, da mesma forma que você precisa de um bom planejamento financeiro para o longo prazo, alguns bancos optam por contar com fontes de captação também com horizontes maiores para melhorar a gestão de seus ativos e passivos visando reduzir o risco de descasamento. (Até o BNDES concluiu a sua primeira emissão de LF esse ano.)

O que significa que demandam prazos maiores para vencimento dos títulos. Aqui, espere ao menos dois anos para conseguir resgatar o valor investido.

Nesse momento, grande parte dos investidores não consegue nem imaginar ficar tanto tempo sem a possibilidade de saque. Mas diante de tantos investidores com dificuldades em pensar em horizontes maiores, vale uma avaliação.

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Por que é tão difícil imobilizar por tanto tempo?

Segundo estudos no campo das finanças comportamentais, somos muito impulsivos e guiados pelo viés do presente e do agora, daí a boa parte da dificuldade.

Isso devido ao nosso contexto histórico mesmo. Durante a maior parte da história humana, nossos ancestrais buscavam sobreviver a cada ameaça. E viviam muito pouco, com expectativas de vida bem baixas até pouco tempo atrás.

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Por exemplo, em 1940, era de 42,7 anos aqui no Brasil. E já atingimos cerca de 74,7 anos em 2015.

Então, a maior parte da história da humanidade tem uma expectativa de vida baixa. Por isso, as pessoas deveriam ser guiadas pelos instintos, impulsos – era o adequado no momento. Nem era preciso fazer planos mais longos.

Lá atrás, quem pensava ou ponderava demais, era, literalmente, comido pelo leão. Eram decisões rápidas ponderadas no presente. Isso deixou uma marca em nós – que ainda não conseguimos superar.

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Conforme o ganhador no Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler, já afirmou: “Somos mais parecidos com o Homer Simpson do que com Einstein” – justamente por darmos importância demais ao presente e acabarmos errando.

Após um belo planejamento de suas finanças e necessidades pessoais, te pergunto: para algumas pessoas, não valeria a pena travar por mais tempo um investimento como uma forma para conter os impulsos?

Fecha parênteses

Vamos voltar às demais características das LCs.

É possível tentar negociar no mercado secundário, mas ainda é difícil encontrar compradores interessados no título. Por isso, não conte totalmente com essa possibilidade.

E o maior prazo de investimento é compensado com taxas de remuneração mais altas, que costumam ser chamativas e acima dos investimentos similares.

Em contrapartida, a alíquota do Imposto de Renda, que segue a tabela regressiva de renda fixa, já vem na menor faixa (15%).

Para finalizar, dois últimos pontos negativos das Letras Financeiras: o investimento mínimo é alto: começa em R$ 150 mil.

E atenção: não existe a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Você, mais do que nunca, precisa da solidez da instituição financeira que emite o título.

Por isso, nada de escolher levando em consideração apenas o maior rendimento.

Portanto, se você não pode ver um dinheiro com acesso fácil que já gasta, por que não considerar investimentos de longo prazo?

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