As pesquisas de intenção de voto costumam assumir papel central no debate político com a aproximação de uma eleição. Discussões sobre as chances de cada candidato, suas forças e fraquezas e até prognósticos acabam tendo como base os números divulgados pelos institutos.

Apesar de amplamente discutidas, as pesquisas eleitorais têm sido alvo cada vez maior de ceticismo por uma parcela significativa da população, que critica os resultados e desconfia da capacidade de se chegar a conclusões sobre a preferência de milhões de eleitores a partir de pouco mais de 1.000 entrevistas selecionadas.

A falta de conhecimento sobre a real finalidade dos levantamentos, a metodologia por trás dos trabalhos e conceitos fundamentais do mundo da estatística contribuem para esse quadro. Por isso, o InfoMoney selecionou alguns dos termos mais importantes para a compreensão do funcionamento das pesquisas e a correta interpretação dos resultados. Vamos a eles:

Principais conceitos

Pesquisa eleitoral

Pesquisa que normalmente tem por objetivo verificar as intenções de voto de candidatos a um determinado cargo eletivo em cenários espontâneo (quando nomes de candidatos não são apresentados pelo entrevistador) e estimulado (quando o entrevistador apresenta nomes ao eleitor) em simulações de primeiro e segundo turno.

Os levantamentos costumam trabalhar com amostras, que são pequenos grupos representativos da totalidade da população estudada. Também é comum que os institutos verifiquem, nestas mesmas pesquisas, a rejeição de candidatos entre os eleitores, o nível de conhecimento da população sobre os nomes dos postulantes aos cargos em disputa e a percepção sobre temas específicos que impactem o processo eleitoral.

População/universo

Conjunto de indivíduos, itens, eventos, membros ou unidades que possuem pelo menos uma característica em comum que se deseja medir (no caso das pesquisas de intenção de voto, o universo é normalmente o conjunto de eleitores com 16 anos ou mais.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Censo

Resultado do levantamento estatístico que visa conhecer a totalidade de uma população (sem a realização de técnicas de amostragem), tanto em relação a características individuais, como em relação a atividades e produção, e que sempre se refere a uma ocasião determinada.

Amostra

Grupo de elementos ou sujeitos selecionados a partir de uma população em quantidade significativamente inferior. Quando a amostra é representativa dessa população, supõe-se que os dados obtidos por meio dela possam ser generalizados para a população da qual se originou. A amostragem é o procedimento estatístico recomendado para pesquisas em que é inviável estudar todos os sujeitos da população. Tudo o mais constante, quanto maior a amostra, menor tende a ser a margem de erro da pesquisa.

Amostragem aleatória simples

Amostra selecionada de modo que a escolha um elemento da população não afeta a probabilidade de seleção de qualquer outro membro. Ou seja, cada integrante da população possui a mesma probabilidade de ser selecionado.

Amostragem probabilística/acidental

Amostra selecionada de acordo com a lei probabilística, na qual os elementos da população possuem uma probabilidade conhecida e diferente de zero de fazer parte da amostra.

Amostragem proporcional ao tamanho

Processo de seleção probabilística em que as possibilidades associadas às diversas unidades amostrais são proporcionais ao tamanho delas. Em pesquisas de intenção de voto, é muito comum utilizar este método, conhecido como probabilidade proporcional ao tamanho (PPT), para o sorteio dos municípios em que serão realizadas as entrevistas. Neste caso, uma cidade como São Paulo (SP), com 9,31 milhões de eleitores, tem muito mais chances de ser sorteada do que em Bodó (RN), com 3.597 eleitores.

Campo de pesquisa

Momento de realização das entrevistas com os participantes da pesquisa e coleta de resultados, a partir de um conjunto de categorias a serem abrangidas, com a exata delimitação de tempo, local e casos a serem observados.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Cotas

Proporções previamente estabelecidas na amostra, que definirão as quantidades de entrevistas a serem cumpridas pelos pesquisadores em campo com alguns grupos selecionados, mas a seleção de cada entrevistado é feita a esmo. Normalmente os institutos trabalham pelo menos com cotas cruzadas de sexo e idade. Alguns incluem variáveis como renda, situação econômica, escolaridade, entre outras.

Erro

Diferença, não por engano, entre uma medida e o valor verdadeiro da magnitude medida.

Erro não amostral

Tudo o que não pode ser imputado ao fenômeno de flutuação das amostras. Este fenômeno não é passível de mensuração e pode estar relacionado a várias etapas do processo, como a formulação do questionário ou a condução das entrevistas, por exemplo.

Erro amostral

Diferenças entre os valores de média da amostra e da população estudada.

Margem de erro

Todas as pesquisas eleitorais, por serem feitas com técnicas de amostragem, devem apresentar estimativas de margens de erro. Tal instrumento existe porque os levantamentos não são feitos com toda a população, mas com uma pequena porção dela, e exatamente essa representação pode conter imprecisões.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O fenômeno, também conhecido como erro amostral, nada mais é do que uma estimativa das possíveis diferenças entre a amostra selecionada e a população estudada, entre o valor medido e aquele que de fato se deseja medir. Os valores são estimados com base no número de entrevistas feitas. Tudo o mais constante, quanto maior a amostra, menor a margem de erro.

Esse conceito também deve ser considerado para subgrupos de uma pesquisa ‒ ou seja, categorias específicas que integram a amostra (por exemplo: mulheres, eleitores de baixa renda ou com Ensino Superior completo). Nestes casos, como os grupos são menores, a margem de erro envolvida é maior em comparação com a estimativa para a amostra de maneira geral.

Mas mesmo que se aumente o tamanho da amostra, nunca será possível levar a zero a margem de erro. Na verdade, estatísticos explicam que há um determinado ponto em que não vale a pena aumentar o número de entrevistas, já que a pesquisa ficaria muito mais custosa e o ganho esperado em redução da margem seria cada vez menor.

Vale destacar ainda que tecnicamente não é possível definir previamente, com absoluta precisão, a margem de erro de uma pesquisa. Por isso, os institutos normalmente trabalham com cálculos de modo a estimar o indicador, atendendo a exigência do Tribunal Superior Eleitoral de informar o número durante o registro do levantamento.

Intervalo de confiança

É formado a partir dos valores máximo e mínimo da margem de erro prevista. Como os resultados de uma pesquisa nunca são exatos, mas estimativas sobre a população estudada, eles devem ser interpretados dentro de um intervalo de confiança.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Nível de confiança

O nível de confiança de uma pesquisa significa que, se ela tivesse sido feita mais de uma vez exatamente nas mesmas condições, esta seria a probabilidade de o resultado se repetir dentro da margem de erro.

Empate técnico

Ocorre quando há sobreposição dos intervalos de confiança de dois ou mais candidatos. Ou seja, quando postulantes a um cargo eletivo possuem uma distância menor do que a soma dos limites das margens de erro de cada um.

Se um candidato A tem 53% das intenções de voto e um candidato B tem 50% em uma pesquisa com margem máxima de erro de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo, eles estão em situação de empate técnico.

O mesmo princípio vale quando se acompanha evoluções em uma pesquisa. Se as intenções de voto de um candidato variam dentro da margem de erro, o correto é dizer que ele oscilou. Usando o exemplo anterior, se o candidato A saísse de 53% (intervalo de 51% a 55%) em julho para 54% (intervalo de 52% a 56%) em agosto, tecnicamente não seria possível falar em crescimento.

Ponderação

Procedimento feito a posteriori, utilizado em paralelo à amostragem, com o intuito “corrigir” eventuais descasamentos entre a amostra e a população em análise quanto às proporções de determinadas características. Neste caso, são atribuídos pesos de modo a tornar mais representativa a amostra selecionada.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Variável de controle

Dado de segmentação da amostra utilizado para a verificação da qualidade do grupo selecionado para a pesquisa em termos de representatividade da população estudada. Cada instituto faz o seu próprio recorte e escolha dos indicadores que serão considerados nesta verificação. Em muitos casos, as variáveis de controle são usadas em eventuais ponderações caso sejam identificadas distorções entre a amostra e a população após o trabalho de campo.

Setor censitário

Região a ser abrangida num censo, parte atribuída a um recenseador. Algumas pesquisas eleitorais utilizam essas divisões geográficas, que constituem em conjuntos de ruas, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desenvolveu para a realização do Censo.

Agora que você já conhece os principais conceitos que envolvem a realização de uma pesquisa eleitoral, que tal entender a fundo as metodologias adotadas pelos institutos?