Nos últimos tempos, é cada vez maior o número de investidores na bolsa brasileira. De acordo com levantamento da própria B3, entre julho de 2021 e junho de 2022, foram 1,25 milhão de novos investidores, o que fez a quantidade de CPFs cadastrados alcançar 4,4 milhões no final do primeiro semestre de 2022. No entanto, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre como investir na bolsa de valores.
Pensando nisso, este guia do InfoMoney foi criado juntando tudo o que você precisa saber para dar os primeiros passos no mercado de capitais com mais segurança. Portanto, se você faz parte desse universo de novos investidores, ou se ainda está pensando sobre como investir na bolsa, continue a leitura a seguir e conheça alguns dos principais produtos negociados nesse ambiente.
O que é a Bolsa de Valores
A bolsa de valores é um ambiente no qual se negociam títulos e valores mobiliários, como ações, títulos de renda fixa, cotas de fundos imobiliários, ETFs, commodities, entre outros.
Além de reunir investidores interessados em comprar e vender ativos, outro importante papel de uma bolsa de valores é o de estabelecer diretrizes para essas negociações. Dessa forma, ela confere transparência e segurança às partes envolvidas nas transações e ao mercado financeiro de forma geral.
No Brasil, há somente uma bolsa de valores – a B3 – cujo nome remete às iniciais de Brasil, Bolsa e Balcão. Ao longo de sua história, a bolsa brasileira passou por diversas transformações, as quais veremos a seguir.
Quando surgiu a Bolsa de Valores brasileira
O mercado de capitais brasileiro surgiu em 1843, com a criação da Bolsa de Valores do Rio pelo então Ministro da Fazenda Alves Branco. Inicialmente, o objetivo da bolsa era negociar títulos públicos, até que, em 1890, o empresário Emílio Rangel Pestana criou a Bolsa Livre. Na ocasião, esse ambiente passou a oferecer outros produtos além dos títulos públicos.
Em 1891, um ano depois de sua abertura, a Bolsa Livre foi fechada em virtude de problemas gerados pela forte especulação que acometia o mercado. Somente em 1895 a bolsa brasileira foi reaberta, quando passou a se chamar Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo.
Em 1935, uma nova reformulação mudou a estrutura da bolsa, que novamente foi rebatizada: surgia assim a Bolsa de Valores de São Paulo – mais conhecida como Bovespa.
Na década de 1970, com a crise que veio logo após o “milagre econômico”, o mercado de capitais brasileiro mudou novamente. Até então, cada estado tinha a sua própria bolsa e o controle dessas instituições era regional. Porém, em meados dos anos 1970, a Bolsa de São Paulo começou a crescer e se destacar em relação às demais, tendo assumido a liderança nacional, à frente da bolsa carioca.
Nos anos seguintes, o número de bolsas no Brasil começou a reduzir gradativamente. Até que uma nova modificação nesse cenário iniciou em 2000, quando as maiores bolsas do Brasil (São Paulo e Rio) deram início à unificação das nove bolsas que ainda restavam por aqui.
Em 2007, a Bovespa fez sua oferta pública inicial de ações (IPO). Um ano depois, foi a vez de suas operações se juntarem às da Bolsa de Mercadorias & Futuros. Assim a nova entidade passou a se chamar BM&F Bovespa.
Por fim, dez anos mais tarde, ocorreu uma nova fusão, em março de 2017: dessa vez, BM&F Bovespa se juntou à Cetip (Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos). Desde então, vigora a atual configuração e nome da bolsa brasileira.
Renda variável ou renda fixa: o que é negociado na Bolsa de Valores
Na bolsa de valores, você pode encontrar investimentos de renda variável e de renda fixa. A seguir, confira alguns dos mais conhecidos de cada uma das modalidades.
Ações
Na bolsa brasileira, existem atualmente mais de 400 companhias listadas de diversos setores da economia e em diferentes estágios de maturação. Nesse sentido, cada uma delas pode servir a estratégias diferentes de investimentos.
Por exemplo, quem está disposto a assumir mais riscos na renda variável e tem foco no longo prazo pode optar por uma carteira de small caps. Por serem relativamente novas em seu setor e/ou pertencerem a segmentos da nova economia, teoricamente essas empresas possuem potencial de valorização maior do que as mais consolidadas.
Por outro lado, se o objetivo for investir em companhias mais estáveis em termos de resultados e/ou receber dividendos, as blue chips (gigantes da bolsa) podem ser uma boa alternativa.
Fundos Imobiliários (FIIs)
Já quem deseja investir no mercado imobiliário sem precisar adquirir um imóvel pode fazer isso por meio dos fundos imobiliários (FIIs).
Dependendo da composição do patrimônio, FIIs podem ter predominantemente imóveis (fundos de “tijolo”), títulos de renda fixa do mercado imobiliário (fundos de “papel”) ou ambos (fundos híbridos). Além das ações, esses fundos também são uma alternativa para quem deseja receber dividendos com regularidade.
Exchange Traded Funds (ETFs)
Quem busca diversificação na renda variável de forma acessível pode contar também com os ETFs. Esses fundos têm como objetivo acompanhar a performance de determinado índice ou ativo financeiro do mercado. Logo, ao adquirir cotas de um ETF, é como se você investisse em diferentes ativos ou índices ao mesmo tempo.
Por exemplo, há ETFs que buscam replicar índices de bolsas de valores (como Ibovespa, S&P 500, MSCI, e assim por diante). Existem também opções vinculadas a outros ativos, como commodities ou mesmo criptoativos.
Brazilian Depositary Receipts (BDRs)
Os BDRs são uma opção para quem deseja se expor ao mercado internacional sem precisar mandar dinheiro para fora do Brasil. Esses títulos, que representam ações de companhias estrangeiras, são negociados na B3 e em reais. Dessa forma, estão sujeitos à legislação brasileira para todos os fins.
Com BDRs, você pode investir em gigantes internacionais como Apple, Amazon, Tesla, Netflix, entre outras, sem precisar abrir conta no exterior.
CRIs e CRAs
Os Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio são títulos de renda fixa lastreados em recebíveis de operações dos setores e do agronegócio. Essas operações costumam ser de longo prazo, justamente pelo fato de os recebíveis estarem atrelados a projetos desses setores, que usualmente têm prazos longos.
Uma das vantagens dos CRIs e CRAs é a isenção do Imposto de Renda sobre os ganhos, o que torna a rentabilidade atrativa em comparação à média da renda fixa. No entanto, diferentemente de aplicações mais conservadoras – como CDBs, LCIs ou LCAs – esses certificados não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Logo, é muito importante avaliar a qualidade e o rating de crédito dos emissores dos títulos nesse tipo de investimento.
Debêntures
As debêntures fazem parte da categoria de crédito privado da renda fixa. Nesse sentido, são títulos emitidos por companhias de capital aberto ou fechado para captação de recursos.
Diferentemente do que ocorre com ações, quem adquire debêntures não se torna sócio da empresa, mas, sim, seu credor. Ou seja, o vínculo do investidor com a empresa emissora termina no momento em que ele recebe de volta o valor que investiu acrescido dos juros do período.
A exemplo dos CRIs e CRAs, as debêntures incentivadas também possuem isenção de Imposto de Renda. Outro ponto em comum com os certificados de recebíveis é o fato de as debêntures possuírem rating de crédito, por também não contarem com a proteção do FGC.
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC)
Em relação à constituição do patrimônio, o funcionamento do FIDC é semelhante ao dos CRIs e CRAs. A diferença é que, enquanto os dois últimos possuem lastro em recebíveis dos setores imobiliário e do agronegócio, no caso do FIDC não existe foco específico em um setor. Ou seja, esse tipo de fundo pode ter diversos cedentes que atuam em segmentos distintos.
Embora o funcionamento do FIDC lembre o de um fundo de investimento, a sua estrutura é mais complexa. Por exemplo, as cotas são classificadas em três tipos, de acordo com o grau de risco que oferecem ao investidor. Outra peculiaridade é o fato de esse investimento ser restrito a investidores profissionais ou qualificados.
Outras modalidades negociadas na bolsa de valores
Além dos ativos mais conhecidos, você também pode encontrar na bolsa brasileira contratos futuros de títulos da dívida externa (títulos da dívida pública dos EUA), Letras Financeiras, derivativos, entre outros. No site da B3, é possível verificar a relação completa de produtos e serviços negociados nesse ambiente.
Como investir na bolsa brasileira e na bolsa americana
Seja no mercado de capitais brasileiro ou internacional, o primeiro passo para qualquer investidor é garantir antes uma reserva de emergência. Isso porque, antes de pensar em diversificar a carteira, é preciso ter reservas que possam dar suporte a imprevistos financeiros, como gastos extras ou, até mesmo, a perda do emprego.
Imagine um investidor que tenha somente ações e que precise repentinamente de dinheiro. Como a renda variável sofre oscilações constantes, pode ser que, para cobrir sua necessidade financeira, ele precise vender as ações em um mau momento, o que poderia acarretar prejuízos à carteira. Portanto, antes de investir em ações, é preciso providenciar uma reserva que tenha liquidez imediata, que seja fácil de resgatar quando for necessário.
Feita a reserva de emergência, o próximo passo é conhecer o perfil de investidor, que é definido pelo grau de tolerância ao risco. De forma geral, o mercado financeiro trabalha com três tipos de perfis, que são o conservador, o moderado e o arrojado.
Para o perfil conservador, o foco será a segurança acima da rentabilidade. Logo, as opções mais adequadas para esse perfil estão na renda fixa mais conservadora, como CDBs, Tesouro Direto ou LCIs e LCAs, por exemplo.
Já o perfil moderado aceita correr algum risco em troca de maiores chances de rentabilidade. Por fim, o perfil arrojado corresponde ao investidor mais experiente e que, normalmente, já acumulou certo patrimônio e pode ousar em modalidades mais arriscadas. Em graus diferentes de exposição, tanto o perfil moderado quanto o arrojado podem investir na bolsa de valores. Por outro lado, para o perfil conservador, pode ser mais difícil encarar as oscilações da renda variável, uma vez que a sua prioridade é estabilidade da carteira.
Após conhecido o perfil de investidor, é hora de selecionar uma corretora de investimentos para finalmente abrir uma conta. Lembrando que, nos Estados Unidos, existem dois tipos de corretoras: as intermediárias e as diretas. No caso das intermediárias, ocorre somente a intermediação entre o cliente e uma corretora de maior porte. Por sua vez, as diretas atendem diretamente os seus clientes, registrando e transmitindo as ordens de negociação sem intermediários. Por isso, as últimas acabam sendo a melhor opção para quem mora no Brasil. Além de o processo de abertura de conta ser mais simples, nas corretoras diretas os investimentos são realizados de forma mais fácil.
É possível começar a investir na bolsa com pouco dinheiro?
Na bolsa de valores, ainda existe o mito de que, necessariamente, é preciso dispor de valores mais altos para começar a investir. Porém, você consegue encontrar ações e cotas de fundos imobiliários, por exemplo, de valores bem acessíveis.
No entanto, o preço do ativo não deve ser o único fator a considerar no momento da escolha. No caso das ações, é importante conhecer os fundamentos da empresa (evolução da receita, resultados, governança, etc) para avaliar o potencial do título. Já nos FIIs, há indicadores que também permitem projetar o desempenho do investimento.
Ou seja, para escolher um ativo na bolsa, o importante é obter a maior quantidade possível de informações sobre ele. Dessa forma, você terá mais segurança para tomar as melhores decisões para a sua carteira.
Outros cuidados necessários para investir na bolsa
Além da importância de garantir uma reserva de emergência, conhecer o perfil de investidor e escolher uma corretora confiável, investir na bolsa demanda alguns outros cuidados.
Um deles é a necessidade de saber interpretar indicadores financeiros, pois isso lhe permitirá entender o histórico das empresas e projetar o seu desempenho. Isso não significa que você precise ser um expert em finanças ou em economia. Mas ter noções de análise financeira e se manter atualizado sobre os principais acontecimentos da economia fará com que você tenha mais segurança para gerir os seus investimentos.
Inclusive, ter esses conhecimentos evitará que você embarque em modismos ou siga a opinião de falsos gurus, outro cuidado que precisa ter ao investir na bolsa. Assim como há profissionais sérios que emitem opiniões sobre investimentos, existem também pessoas sem capacidade técnica que o fazem, e isso pode facilmente induzir a más escolhas.
Por fim, é importante ter claro sempre que investir na bolsa demanda tempo para que os resultados sejam percebidos. Ou seja, a renda variável está sujeita aos ciclos da economia, que, historicamente, apresentam oscilações. Portanto, paciência e foco no longo prazo é fundamental para investir na bolsa com qualidade e eficiência.