Cadê os CDBs de inflação? Papéis somem das prateleiras com IPCA negativo; pós-fixados pagam até 115% do CDI

Foi a primeira vez desde abril em que a pesquisa feita pela Quantum Finance não conseguiu localizar novas ofertas de produtos do tipo

Bruna Furlani

(Rmcarvalho/Getty Images)
(Rmcarvalho/Getty Images)

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Após três meses seguidos de deflação (inflação negativa) registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a oferta de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) atrelados ao indexador dá sinais de queda.

Levantamento feito a pedido do InfoMoney pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, não identificou nenhum registro de novos CDBs atrelados à inflação registrados na B3 entre os dias 25 de outubro e 7 de novembro. Foi a primeira vez desde o começo da pesquisa em abril deste ano em que não foi possível localizar novas ofertas durante o período de análise.

Na quinzena anterior, entre 11 e 24 do mês passado, o levantamento encontrou apenas um novo CDB atrelado à inflação, com vencimento em 12 meses. Nas pesquisas prévias, era comum achar ofertas de CDBs com prazos de 12, 24 e a partir de 36 meses.

Uma das possíveis razões para a diminuição de novas ofertas pode estar na deflação registrada pelo IPCA entre julho e setembro deste ano. O movimento não foi visto apenas com CDBs, já que investidores também demandaram menos títulos públicos do Tesouro Direto atrelados ao indexador.

Dados mais recentes do Tesouro Nacional mostram que as vendas de títulos atrelados à inflação sem cupom (NTN-B principal) alcançaram os R$ 547,6 milhões em setembro deste ano. Esse é menor valor registrado pela classe desde setembro de 2021.

CDBs pós-fixados

Para além dos títulos de inflação, as demais ofertas seguiram com fluxo intenso. No caso de CDBs atrelados ao CDI (taxa de referência da renda fixa), as taxas máximas oferecidas por produtos – com vencimento em três e em 12 meses – foram as únicas opções pós-fixadas que passaram por um ajuste para cima entre os dias 25 de outubro e 7 de novembro.

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Na última quinzena, a maior rentabilidade entregue por CDBs atrelados ao CDI chegou a 112% do CDI para produtos a partir de 12 meses, e a 104,50% do CDI para títulos com vencimento em três meses. Quinze dias antes, a maior taxa verificada era de 108% do CDI e de 104% do CDI. Os dados levam em conta retornos brutos, ou seja, sem o desconto do Imposto de Renda (IR).

Entre os dias 25 de outubro e 7 de novembro, os retornos oferecidos por CDBs atrelados ao CDI de outros vencimentos registraram recuo nos juros. O destaque ficou para a queda vista nos papéis com prazo a partir de 36 meses, em que a remuneração máxima passou de 120% do CDI para 103% do CDI.

O título que oferecia tal retorno um CDB emitido pelo Banco Daycoval, que possui classificação de risco de crédito (rating) nacional de longo prazo AA, ou seja, com boa qualidade.

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Na média, a rentabilidade entregue pela maior parte dos papéis atrelados ao CDI também recuou durante o período analisado na comparação com o levantamento anterior. A maior queda foi registrada pelos títulos com vencimento a partir de 24 meses, em que o juro médio caiu de 101,12% do CDI para 100,23% do CDI.

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 25/10 a 07/11)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 DI 100,00% 101,18% 104,50%                               14 BANCO PAN
6 DI 97,50% 100,97% 104,50%                               18 BANCO BTG PACTUAL
12 DI 90,00% 99,93% 112,00%                               34 BANCO RANDON
24 DI 92,00% 100,23% 115,00%                               54 BANCO BMG
36+ DI 96,00% 102,51% 103,00%                               35 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs prefixados

Movimento semelhante foi visto com a maioria dos títulos prefixados, em que o juro médio caiu entre os dias 25 de outubro e 7 de novembro na comparação com a quinzena anterior.

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A maior contração foi registrada por papéis com vencimento a partir de 24 meses, onde a taxa média passou de 12,28% para 11,58%. O CDB que oferecia tal taxa era um produto emitido pelo Banco Daycoval.

Em termos de retorno máximo, o movimento foi misto: papéis de prazo mais curto (entre três e seis meses) registraram recuo ou estabilidade nos juros, enquanto a maior parte dos títulos com vencimento maior (entre 12 e 36 meses em diante) viram as taxas recuarem.

O único papel que apresentou uma alta mais relevante na taxa máxima foi um título com vencimento a partir de 36 meses, em que a remuneração saltou de 12,47%, no levantamento anterior, para 14,35%, agora.

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Retornos brutos de CDBs prefixados (de 25/10 a 07/11)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 13,35% 13,66% 13,89%                                 9 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,40% 13,71% 14,02%                               16 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 13,35% 13,41% 13,47%                                 5 BANCO DAYCOVAL
24 PREFIXADO 11,36% 11,58% 11,80%                                 2 BANCO DAYCOVAL
36+ PREFIXADO 14,35% 14,35% 14,35%                                 1 BANCO MASTER

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

IPCA, CPI e governo de transição

Após a alta vista nas taxas nos últimos dias, o foco do mercado de juros nos próximos dias estará no governo de transição e como o próximo ministro da Fazenda irá enfrentar o problema fiscal, diz Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital.

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De acordo com notícias divulgadas nesta terça-feira (8) pelo jornal Valor Econômico, a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para viabilizar gastos extras, junto com um remanejamento das emendas de relator (RP9) e a liberação de créditos extraordinários para obter cerca de R$ 175 bilhões para as áreas social e investimento.

Se o desenho seguir dessa forma, o economista avalia que “é mais um furo ao teto”. Nesse sentido, Candido acredita que o mercado de juros deve continuar pesando até que haja uma definição melhor de qual será a “licença para gastar” do próximo governo. “O mercado só vai aceitar bem essa PEC se ela vier com um bom ministro”, reforça.

Outro fator que pode trazer certo efeito para o mercado de juros é a divulgação do IPCA na quinta-feira (10). Embora o mercado siga olhando para a escalada de preços, o especialista da RPS Capital afirma que o resultado da inflação deve ter um efeito mais na parte curta da curva, mas que não deve afetar o plano de voo do Banco Central. Nos cálculos da casa, o IPCA deve ter alta de 0,47%.

André Kitahara, gestor de portfólio macro da AZ Quest, vai na mesma linha e diz que o IPCA é importante, mas não deve ser determinante. “É mais importante como a política monetária vai ancorar essa inflação futura. O BC tem falado de uma janela de 12 a 18 meses. Essa é a janela que importa”.

Dados de inflação nos Estados Unidos também devem balançar o mercado de juros nesta semana. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) será divulgado na quinta-feira (10).

Candido, da RPS, afirma que a expectativa é que o núcleo da inflação americana desacelere na margem. Segundo ele, a expectativa é que os planos de saúde e os serviços de transporte parem de registrar altas mais expressivas em outubro. O economista também espera uma melhora dos indicadores do mercado imobiliário.

“Se vier um dado mais baixo, pode dar uma ajudada nos juros americanos e animar, mais uma vez, para que os investidores estrangeiros decidam aplicar em juros de países emergentes”, finaliza o economista da RPS.