SÃO PAULO – A grande presença de engenheiros no mercado financeiro continua firme e forte – um caminho visto com naturalidade pelos departamentos de Recursos Humanos, que enxergam o engenheiro como um profissional “curinga” para o setor.
Mas por que exatamente isso acontece? Na edição de março do programa Carreiras do Mercado, duas especialistas explicaram os principais motivos.
“Hoje essa transição tem se tornando uma tendência”, diz Andreia Rodrigues, consultora do PageGroup. “O mercado de engenharia passou nos últimos anos por alguns momentos difíceis e isso fez com que os engenheiros olhassem o mercado financeiro como uma área bem atrativa, seja pela carreira acelerada, seja pela remuneração”, afirma.
Ela destaca que as engenharias mais comuns no setor são: engenharia de produção, mecânica, mecatrônica, elétrica e civil, respectivamente.
Rebeca Toyama, especialista em desenvolvimento humano e liderança, diz que a capacidade do engenheiro em resolver problemas é uma grande vantagem competitiva.
“O engenheiro é treinado para solucionar problemas e criar processos para resolver coisas. Observamos um boom no mercado financeiro devido a isso. Porque a área demanda profissionais que sejam treinados para lidar com problemas complexos de forma estruturada”, explica Rebeca.
Andreia complementa que o profissional enxerga um início, meio e fim para tudo o que faz. “Isso facilita muito essa transição. Ele ou ela executa uma ação, sabe o que ação vai gerar de resultado amanhã para sua equipe, para a instituição”.
Segundo ela, a época em que se pensava que engenheiro não “sabia se comunicar” já passou. Hoje há muitos profissionais que têm as chamadas soft skills (habilidades relacionais) muito bem desenvolvidas. “O engenheiro de produção é um exemplo de pessoa que já vem mais treinado para a parte comercial, falar com o cliente, etc”, diz.
Embora seja uma demanda de outras áreas também, o engenheiro que tiver essa capacidade de se relacionar bem desenvolvida vai se destacar em relação ao perfil mais racional e analítico.
Até porque “em algum momento ele vai precisar desenvolver as soft skills para fazer uma gestão de equipe e trabalhos com outras áreas, por exemplo. É um desafio lidar com o mundo fora do Excel”, afirma Toyama.
Ela explica que, de “forma mais romântica”, os empregadores contratam pelo “QI” (quociente de inteligência) e demitem pelo “QE” (quociente emocional). “No geral, somos treinados para desenvolver o QI, mas o que vai construir uma carreira principalmente de média liderança para cima é o quociente emocional”, diz.
Prós e contras de uma transição de carreira
Para Toyama as vantagens de um engenheiro mudar de área envolvem conhecer um mercado novo, ter novos desafios e aumentar o networking.
Os contras incluem curva de aprendizagem, já que há muita coisa do setor que o engenheiro não aprendeu ao longo da formação, e a negociação salarial. “Por vezes, ao chegar em uma área nova é preciso descer um degrau na escala de remuneração”, diz.
Ao mesmo tempo que existe um risco alto no quesito adaptação a uma nova área, essa transição também funciona como uma oxigenação para a empresa, segundo Rodrigues. “Os engenheiros chegam com ideias novas e outra forma de entender e ver os processos”, afirma.
Outra vantagem dos engenheiros é que é mais fácil um profissional mais racional, portanto com habilidades hard skills mais desenvolvidas, adquirir a capacidade relacional, emocional (que faz parte das soft skills), do que um movimento ao contrário, segundo explica Toyama.
Remuneração superior
Outro fator que atrai muitos engenheiros para o mercado financeiro é a remuneração. Por mais que, na média, o setor pague menos em salários fixos, os bônus e participação nos lucros e resultados (PLR) podem suprir essa diferença.
Quando o engenheiro sai da faculdade com o “CREA” [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia], ele acha que vai ganhar muito melhor do que o mercado de trabalho apresenta. Então, o mercado financeiro atrai porque é uma forma de ter esse “aumento” mais rápido, segundo explica Rodrigues.
De acordo com o Guia Salarial 2019 da recrutadora Robert Half, um engenheiro de produção, por exemplo, tem uma pretensão de salário para este ano entre R$ 6 mil e R$ 8 mil mensais em empresas médias/grandes.
Ao chegar no mercado financeiro, a remuneração por mês do engenheiro provavelmente será menor que essa, mas seus bônus semestrais podem ser muito maiores.
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