Payroll mostra mercado de trabalho nos EUA aquecido, mas com sinais de desaceleração, dizem analistas

Dado reforça comunicado do Fed, que aponta para redução no ritmo de alta dos juros, mas com ciclo contracionista mais longo que o previsto

Roberto de Lira

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O mercado de trabalho dos Estados Unidos continua aquecido, mas parece dar sinais de desaceleração – o que mostra que a política contracionista do Federal Reserve começa a fazer efeito – e abre espaço para  que a autoridade monetária reduza o ritmo de alta nos juros a partir de dezembro. Essa é a visão de analistas do mercado financeiro a partir dos dados do payroll divulgado nesta sexta-feira (4) pelo Departamento do Trabalho.

Os dados mostraram a criação de 261 mil vagas fora do setor agrícola em outubro. O fato de o dado ter sido superior às estimativas do mercado – o consenso Refinitiv aponta para 200 mil vagas – não muda a leitura do cenário, dizem os analistas.

Angelo Polydoro, economista da ASA Investments, por exemplo, destaca que houve contração de 72 mil vagas no setor de serviços (já descontada a sazonalidade) de lazer e hospedagem. “Mostra que todos aqueles gastos das famílias para bens e serviços já estão perdendo força. Ou seja, já não tem necessidade de gerar tantas vagas”, disse.

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Outro fato destacado por ele é o salário, que nas taxas de três meses anualizada caiu para 3,90%. “Ainda assim é acima do aumento de salário consistente com a meta de inflação, que é de 2%. Ainda está exercendo pressão inflacionária. Mas talvez a gente já comece a ver algum pico. A geração de vagas e salários parece estar chegando a um ponto de exaustão, um dado bem-vindo para o combate à inflação”, disse Polydoro

Ele citou ainda como fator importante o crescimento, embora ainda pequeno, na taxa de desemprego no mês, para 3,7% (ante previsão de 3,6%). Isso num contexto de queda na participação dos trabalhadores na população economicamente ativa, de 62,3% para 62,2% em outubro.

A XP lembrou, em sua Análise Macro, que essa taxa de participação está abaixo dos níveis pré-pandêmicos (cerca de 63,5%), mas tem apresentado uma tendência de recuperação gradual desde meados de 2020. “O emprego de meio período por razões econômicas permaneceu praticamente inalterado em 3,7 milhões em outubro e permaneceu abaixo do nível pré-pandemia de 4,4 milhões”, diz o relatório.

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A expectativa é que, daqui para a frente, as condições do mercado de trabalho continuarão a melhorar devido ao enfraquecimento da atividade econômica, em meio a uma política monetária mais restritiva. “Ressaltamos que há uma defasagem considerável nos dados de emprego, e indicadores de alta frequência sugerem que o mercado de trabalho dos EUA está desacelerando materialmente neste momento”, reforçou a XP

“Além disso, esperamos que a taxa de participação da força de trabalho retorne gradualmente ao seu nível pré-pandemia, pois a remoção do estímulo fiscal relacionado ao Covid acabará forçando as pessoas de volta ao mercado de trabalho”, analisou

Política monetária

Com relação à política monetária, a XP acredita que o Fed irá desacelerar o ritmo de alta para 50 pontos base em dezembro, dado que já houve um progresso significativo no aperto da política monetária.

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“A necessidade de novos aumentos de juros dependerá fortemente dos três dados de inflação e mercado de trabalho do quarto trimestre. Se os números forem benéficos, o Fed poderá fazer uma pausa após as decisões de dezembro – nosso cenário base. Por outro lado, se as pressões inflacionárias persistirem e o mercado de trabalho continuar apertado, provavelmente veremos movimentos sequenciais de 25 pontos base nas próximas reuniões até que os dados comecem a ‘colaborar’”, diz o relatório.

Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, também acredita que, diante de uma economia resiliente, desafiando à inflação, é possível esperar por um aumento menos agressivo (de 50 bps), mas ele prevê que, a depender de uma série de fatores, o ciclo de manutenção dos juros deve se manter por mais tempo e seguir entre 25 e 50 pontos base durante todo o ano de 2023. “Quando imagino que os EUA tenham conseguido evitar uma recessão”, disse Vaz.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos, não está convencido dos sinais de desaceleração no mercado de trabalho. Para ele, por mais que o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha indicado uma possível diminuição no ritmo do ciclo de alta de juros nos próximos meses, há um risco de, na próxima reunião, o Fed ainda subir as taxas em 75 pontos base, já que os números vieram bem acima do esperado.

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“De toda forma, é certo que o Fed ainda está distante do fim do ciclo de alta, que pode chegar a 5% na taxa terminal”, disse Cohen.

Para o BTG pactual, a divulgação de hoje confirma o cenário de desaceleração do mercado de trabalho, mas ainda com caráter apertado. O banco destacou que o número de 261 mil vagas foi maior que as projeções do mercado, mas está baixo da média do ano que está em 407 mil vagas por mês.

O banco lembrou que o Jolts – pesquisa de ofertas de emprego e desligamento de funcionários divulgada mensalmente – divulgado nesta 3ª feira, registrou a aceleração da taxa de vacância, mantendo-se em nível bastante apertado (1,86 vagas por desempregado) e reforçando as preocupações com as pressões inflacionárias e preços de serviços.

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A alta de no rendimento médio por hora verificado em outubro, de 0,4% (após + 0,3% em setembro) também pode ser relativizada, uma vez que ganhos em relação ao ano passado (de 4,7%), são os menores desde agosto de 2021.

“Quanto ao mercado de juros, a despeito de esperarmos uma desaceleração do ritmo da alta (de 75 para 50 pontos base), entendemos que a discussão se concentra na taxa terminal e por quanto tempo a taxa precisará ficar em patamar restritivo”. A projeção do banco é de a taxa dos Fed Funds ficar entre 5,00% e 5,25%.