O tiroteio que interrompeu uma agenda do candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em Paraisópolis (zona sul da capital paulista), no dia 17 de outubro, voltou a ganhar destaque no noticiário, na semana decisiva da eleição estadual.
Segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Civil do estado pedirá a íntegra dos vídeos do tiroteio feitos por um cinegrafista da Jovem Pan. Um áudio obtido e divulgado pelo jornal na terça-feira (25) aponta que um integrante da campanha de Tarcísio teria pedido ao cinegrafista da emissora para apagar o vídeo.
No momento do incidente, o candidato participava da inauguração de um polo universitário em Paraisópolis. Segundo relatos de testemunhas, foram ouvidos pelo menos 20 tiros nas imediações.
Após o tiroteio, Tarcísio teve de deixar o local escoltado por seguranças e policiais – ninguém de sua equipe ficou ferido. As autoridades confirmaram que um homem de 27 anos foi morto. Ele tinha duas passagens pela polícia, por roubo.
O pedido de acesso ao conteúdo integral do vídeo foi feito por policiais ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A polícia paulista investiga o episódio, mas a hipótese de atentado contra Tarcísio já foi descartada.
O cinegrafista da Jovem Pan e outros profissionais da imprensa foram levados para um prédio utilizado pela campanha de Tarcísio. Segundo a Folha, o profissional foi indagado sobre quais imagens ele havia registrado.
“Você filmou os policiais atirando?”, pergunta um membro da campanha do candidato do Republicanos. “Não. Trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, diz o cinegrafista.
O integrante da campanha pergunta ainda se havia imagens das pessoas que estavam no local e, na sequência, afirma, dirigindo-se ao cinegrafista: “Você tem de apagar”.
Naquele momento, ainda segundo o jornal, o vídeo já havia sido encaminhado à Jovem Pan. A emissora exibiu as imagens pouco depois.
Em nota, a Jovem Pan confirmou que “exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio”. “O trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido no local. Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico”, diz o comunicado da emissora.
Após a repercussão do caso, a campanha de Tarcísio informou que “um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista da Jovem Pan se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte do vídeo para não expor as pessoas que estavam lá”.
“Nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso. Qualquer afirmação que questione isso é uma mentira”, diz a nota.
Adversário de Tarcísio no segundo turno da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, Fernando Haddad (PT) criticou o ex-ministro pela suposta ordem de sua campanha para que o vídeo fosse apagado.
“Como é um áudio que foi confirmado pelo meu adversário, é grave. Precisa apurar a responsabilidade porque isso é crime”, acusou o petista. “Se você presenciou um crime, qual é a atitude correta? Preservar os elementos para a investigação. Se você vai destruir os elementos para que o investigador consiga refazer o crime, você está obstruindo a Justiça. É muito grave, e essa é uma prática típica de milícia.”
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) também repudiou o episódio. Em nota, a entidade afirma que o pedido para apagar o vídeo “é claramente uma tentativa de censura e um atentado à liberdade de imprensa”.
“Não há base legal para a ação dos membros da campanha do candidato. A Fenaj espera que o candidato venha a público manifestar-se em favor do livre exercício do jornalismo e informar a sociedade sobre as medidas tomadas no âmbito da sua campanha”, diz a nota da instituição.