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Pressões de preços voláteis, como alimentos e passagens aéreas, e a contínua dissipação dos efeitos da redução de impostos federais sobre os preços administrados foram os principais motivos para a alta de 0,16% no IPCA-15 de outubro, segundo analistas.
Além da volta da taxa positiva após dois meses de deflação, o BTG Pactual destacou que a média dos núcleos do indicador que é considerado uma prévia da inflação oficial também subiu após quatro quedas consecutivas. “A média dos núcleos avançou para 0,47% no mês, impactada pela aceleração em serviços, para 0,80%. A difusão avançou de 59,95% para 62,67%”, afirmou o banco em relatório.
No índice geral, a aceleração foi explicada pelo avanço nos preços em Transportes, cuja queda foi reduzida de -2,35% para -0,64% entre setembro e outubro, devido à perda de força do corte de impostos. “Além disso, em decorrência do clima desfavorável, Alimentos no Domicílio (0,14%) registraram aceleração, com destaque para alta em Alimentos in natura (5,33%).”, analisou o BTG Pactual.
Para o IPCA fechado de outubro, a expectativa é de índice também apresente dado positivo, motivado pela aceleração nos preços administrados e alimentos in natura. No balanço de riscos, o banco espera alguma resiliência da atividade econômica doméstica nos próximos meses, com o consumo das famílias sendo favorecido pelo Auxílio Brasil, e por perspectivas melhores para a próxima safra. Na direção oposta, a incerteza política e fiscal segue como principal risco de alta para o cenário base de inflação.
Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, comentou em sua conta no Twitter que, apesar de o IPCA-15 ter ficado acima do esperado, a média dos núcleos ficou estável, dados que estão em linha com a expectativa de desaceleração da inflação.
Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas, considerou que os preços de passagens aéreas surpreenderam para cima na divulgação do IPCA-15, mas que outros detalhes, como os preços de serviços e de preços industriais subjacentes compensaram isso. Para ele, esse comportamento reforça a visão de que o pico de inflação nesses itens e sinais marginalmente mais favoráveis com relação á inflação corrente. “Nossa estimativa é de um IPCA no mês acima do que se observou hoje, de cerca de 0,40%, mas o balanço de riscos segue mais equilibrado e nossas projeções para o final do ano estão mantidas em 5,6%”, disse.
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Dinâmica benigna
Para Tatiana Nogueira, economista da XP, os preços das passagens aéreas surpreenderam no mês, com alta de 28,17%, ante estimativa de 15%. “Tirando isso, o resultado veio bem em linha com o que prevíamos. A inflação volta para o campo positivo, mas a dinâmica está bem mais benigna”, comentou.
Segundo ela, os serviços subjacentes, que excluem os itens mais voláteis, inclusive passagens aéreas tiveram uma desaceleração significativa passando de 0,57% para 0,41%. “Lembrando que esse é um grupo bastante sensível a medidas de restrições de crédito, apesar de mostrar queda mesmo com a renda com variação positiva em termos reais”, disse.
A economista da XP também destacou que outro grupo que está com dinâmica mais benigna são os bens industriais, que englobam bens duráveis, semiduráveis e não-duráveis que teve mais uma desaceleração neste mês, saindo de 0,32% para 0,20%. “Quando olhamos para os industriais subjacentes – um recuo de 1,2% para 0,92% – ainda é uma variação alta, mas já mais fraca do que observamos no primeiro semestre deste ano”, comparou.
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Tatiana também citou os itens duráveis, nos quais se verifica uma desaceleração mais acentuada e até deflação em alguns itens mais ligados ao crédito, como carros, que já sentem a alta de juros. Para ela isso é uma resposta clara dos efeitos da política monetária mais apertada.
Sobre a difusão, que subiu de 0,56% para 0,61%, a economista destaca que é mais baixa do que nos momentos mais críticos de alta de preços, em 2021 e no início deste ano. A respeito dos núcleos, ela acredita que a divulgação foi positiva. “Chegamos a ver núcleos em maio batendo 1,1% e agora está próximo a 0,47%, apontando para uma inflação mais baixa daqui para frente”, afirmou.
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, avalia que os dados do IPCA-15 vieram acima das expectativas, e assim como se projetava, voltaram a apontar para uma inflação positiva.
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“Apesar disso, tivemos notícias positivas de curto prazo para a inflação subjacente. Serviços e bens industriais, assim como os núcleos desaceleram em relação à divulgação anterior e vieram abaixo das projeções”, avalia o economista.
Combustíveis
Rafael Perez, economista da Suno, acredita que os preços defasados da gasolina e do diesel no Brasil em relação ao mercado internacional e a expectativa de manutenção ou de um possível aumento da cotação do petróleo devem reverter o quadro deflacionário dos combustíveis nos próximos meses. “Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) indicam uma defasagem de 9% para o diesel (R$ 0,46 por litro) e para a gasolina (R$ 0,31 por litro)”, afirmou.
Ele também destacou que houve variações positivas em seis dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE para o IPCA-15. O grupo de Alimentação e Bebidas, por exemplo, teve alta de 0,21%, sendo que havia recuado no mês de setembro. “Portanto, os dados de deflação que assistimos nos últimos meses não devem se repetir, em virtude da maior normalizações nos combustíveis, o menor impacto dos cortes de impostos e o padrão sazonal de alta dos preços no final do ano devido às festividades”, previu.
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Para Perez, de toda forma, para o restante do ano, os efeitos da alta dos juros, arrefecimento dos preços das commodities e dos alimentos, devem continuar contribuindo para uma desaceleração da inflação.
Para o Goldman Sachs, no geral, apesar das impressões negativas do IPCA de julho a setembro, impulsionadas por cortes de impostos federais e estaduais, a dinâmica da inflação subjacente ainda é desafiadora, dadas as pressões ainda disseminadas sobre núcleo e inflação de serviços. “Além disso, é provável que a inflação se torne inercial, devido à intensificação dos mecanismos retroativos de fixação de preços e salários.”
Na avaliação do banco de investimentos, o cenário desafiador de inflação atual e prospectiva e a sinalização agressiva dos principais bancos centrais garantem uma calibração conservadora da política monetária por um período de tempo razoável.
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Mercadante, da Rio Bravo, aponta que a melhora da inflação subjacente ainda não indica um processo consolidado dessas medidas mais resilientes de inflação. “Assim, o resultado de hoje não muda nossas expectativas para o Copom amanhã. A autoridade monetária deve realizar a manutenção da taxa de juros no patamar terminal e manter o discurso vigilante com a inflação”, avalia.