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Há uma expectativa unânime dos analistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá não só a taxa Selic nos atuais 13,75% na sua reunião de dois dias que se encerra no próxima quarta-feira (26), como também o tom conservador no comunicado após a decisão. A explicação é que o balanço de riscos observado pelo Banco Central teve poucas alterações em relação à última reunião, em 21 de setembro.
“Desde a reunião, os dados de atividade real foram mistos. Os serviços fortes e mais firmes do que o esperado, mas atividade de varejo e industrial fraca, levando a uma atividade real do IBC-Br em agosto mais fraca do que o esperado”, comentou o Goldman Sachs em relatório.
O banco de investimentos também destacou o equilíbrio entre um mercado de trabalho mais sólido e índices de confiança firmes do consumidor e das empresas, enquanto os PMIs de manufatura e serviços estão mais fracos. No front externo, houve uma percepção de inflação global mais branda, mas com a manutenção da pressão na inflação dos serviços.
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“Esperamos que o Copom deixe a taxa básica de juros inalterada em um restritivo 13,75%, juntamente com uma orientação conservadora, indicando que permanecerá vigilante e avaliará se a estratégia de manter a taxa básica no nível atual por um período de tempo suficientemente prolongado será capaz de garantir a convergência da inflação para a meta”, disse o banco, acrescentando esperar no comunicado o alerta de que o comitê não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o processo de desinflação não evolua como esperado.
Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o BC já indicou que não pretende derrubar os juros por enquanto. “Não podemos correr o risco de diminuir e ter que subir de novo, como já aconteceu”, ponderou.
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Ele concorda com a grande maioria do mercado, que estima um início de queda da Selic entre o final primeiro semestre e o início da segunda metade de 2023. “Pouquíssimas casas acreditam que vai começar no primeiro semestre”, afirmou, alegando que só na segunda metade do ano que vem o mundo voltará um pouco mais ao normal, com diminuição da pressão inflacionária.
Sobre o comunicado pós-decisão, no último texto, o BC afirmou que avaliava se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado seria capaz de assegurar a convergência da inflação, lembrou. “O tom do comunicado somado à deflação atual mostrou que não há necessidade de uma mudança de atitude. Então, o investidor precisa verificar se o próximo comunicado trará o mesmo tom ou se virá algo diferente. Nada no cenário atual aponta uma mudança de direção”, analisou.
Âncora fiscal
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Os economistas da XP Caio Megale e Tatiana Nogueira disseram em relatório que também observaram equilíbrio nos indicadores desde a última reunião, com as expectativas de inflação no Boletim Focus para 2022 e20 23 recuando, enquanto os dados de atividade se mantiveram mais positivos.
“Houve poucas mudanças no balanço de riscos para a inflação desde o último Copom. Os dados vieram relativamente equilibrados e as projeções de inflação do comitê provavelmente não mudaram muito”, comentaram os economistas.
Assim, eles entendem que o Copom manterá a taxa Selic em 13,75% e também o tom do comunicado, com um ajuste para indicar que, agora, 2024 tem a mesma relevância que 2023 na condução da política monetária. “Mantemos nosso cenário de que a taxa Selic permanecerá em 13,75% até junho e cairá para 10,00% no final do ano de 2023”, disseram.
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A flexibilização monetária, no entanto, vai depender crucialmente da nova âncora fiscal a ser definida pelo próximo presidente e sua equipe econômica. “Ambos os candidatos presidenciais afirmaram que vão reformar o teto de gastos no próximo ano. Considerando que a dívida pública e o serviço da dívida continuaram elevados, uma nova (e crível) âncora fiscal é condição fundamental para que as expectativas de inflação convirjam para a trajetória da meta”, alertaram.
Olho no exterior
Para o analistas Lucas Queiroz, do Itaú BBA, o destaque pós-decisão ficará mais sobre a visão dos diretores do Banco Central em relação aos temas internacionais e às projeções atualizadas da instituição. “Embora não haja expectativa de alterações na taxa ainda neste ano, o mercado segue atento a qualquer sinal que indique possível antecipação do ciclo de corte, esperado para o início do segundo semestre de 2023”, previu.
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Segundo Enrico Cozzolino sócio e head de análise da Levante Investimentos, a decisão pela manutenção da Selic em 13,7% vai levar e conta a inflação dando sinais de arrefecimento, ainda que por medidas do governo. Ele não acredita que a momentânea “euforia” do mercado antevendo um fim de ciclo de alta mais cedo que o esperado nos Estados Unidos terá influência na decisão. “A gente está vivendo um período de inflação global depois de uma década de inflação baixa no mundo”, afirmou.
Plano de voo mantido
Para Raone Costa, economista chefe da Alphatree Capital, o Copom deve manter no comunicado a leitura que “não necessariamente” o próximo movimento vai ser de queda e não de alta, já que vai depender da evolução dos dados. “O cenário da última reunião para essa não evoluiu significativamente nem para um lado, nem para outro, de tal maneira que, sem notícias novas, eu não imagino que o Copom vai mudar o plano de voo deles, que é atualmente de sentar e esperar as próximas novidades. Se acontecer algo, será uma surpresa de fato”, destacou
Para Francisco Levy, estrategista-chefe da Empiricus Investimentos, provavelmente o BC vai fazer discursos mais duro, de cautela. “Não vai trazer muito ânimo para o mercado. As expectativas de inflação ainda estão desancoradas e nossa previsão é que (o BC) não vai vir com um discurso muito frouxo não”, disse, destacando que a autoridade vai esperar a política monetária fazer seu efeito, enquanto aguarda pela melhora do ambiente lá fora.