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Em questão de semanas, a Latam deve sair da recuperação judicial, conforme anunciado pela própria companhia. Em fato relevante, o grupo chileno afirmou que espera sair do Capítulo 11 do código de falência dos Estados Unidos ainda no início de novembro. Para que isso aconteça de fato, a aérea precisa cumprir com exigências de um plano de reestruturação. No comunicado, o CEO da Latam, Roberto Alvo, informou que espera deixar o processo de RJ com uma dívida 35% menor e cerca de US$ 2,2 bilhões de liquidez. Os débitos da companhia somavam US$ 18 bilhões quando o pedido de recuperação judicial foi feito.
Mas isso não significa que a Latam vai estar em melhor saúde financeira do que suas concorrentes no Brasil, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4). “As três companhias tiveram e continuam enfrentando dificuldades, superando desafios deixados pelas paradas na pandemia”, afirma Renato Hallgren, analista do BB Investimentos.
“Quem compete mais em rotas com a Latam é a Gol. A Azul tem pouca sobreposição. Mas, como as companhias estão com balanços alavancados, todas têm comentado que a competição está saudável, sem diminuir retorno para ganhar participação de mercado, focando mais na rentabilidade”, afirma Alexandre Kogake, analista da Eleven Financial.
Hallgren observa também que, de acordo com os demonstrativos financeiros das empresas, as três possuem poder de investimento muito baixo.
“Não vejo um diferencial competitivo da Latam para fazer um programa de redução de tarifas”, diz Hallgren. O analista lembra que os preços das passagens são ajustados em função de custos recorrentes das aéreas, sendo o combustível o principal deles. Ainda que tenha sofrido reduções de preço ao longo deste ano, o querosene de aviação segue com valores elevados, impossibilitando o barateamento das tarifas. Na verdade, a tendência aponta para o lado do crescimento dos custos.
“As aéreas estão trabalhando com um quadro enxuto de funcionários. E com a retomada dos voos, eles provavelmente vão brigar por melhores salários e condições de trabalho, o que deve pressionar as margens das companhias nos próximos trimestres”, afirma o analista do BB Investimentos.
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O arrendamento das aeronaves também tende a ficar mais caro com os voos voltando à normalidade. “Com uma demanda mais alta, o valor de mercado das aeronaves aumenta”, explica Hallgren. Isso faz com que, na hora de renovar os contratos de leasing, os valores sejam reajustados para cima, elevando ainda mais os custos das aéreas.
Credores devem assumir o controle da empresa
Mesmo que a Latam deixe o Capítulo 11 com a saúde financeira ainda fragilizada, a companhia passará por mudanças relevantes em sua estrutura acionária. Com a conversão de dívida em equity, o controle da aérea passará a grupo de credores, os fundos Sixth Street, Strategic Value Partners, and Sculptor Capital. Eles passarão a deter 66% das ações da companhia. Atualmente, os principais acionistas da área são a Qatar Airways, a Delta Air Lines e a família chilena Cueto. Juntos, eles possuem 46,4% do capital do grupo. Após a mudança, essa participação será diluída para 27%.
“Os credores terão mais cadeiras no conselho de administração do que as companhias aéreas acionistas e a família Cueto. Eles vão querer nomear executivos e querer maximizar a eficiência da Latam para recuperar o tempo perdido, e isso deve vir através de renovação da frota, campanhas de marketing e atração de demanda”, diz o analista do BB Investimentos.
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Espaço para uma nova oferta da Azul?
Os analistas do Bradesco BBI avaliam que a Latam deixará o Capítulo 11 com uma posição de caixa forte para reconstruir sua rede. E acreditam que, com um novo bloco de controle, a Azul poderia se reaproximar da empresa em uma nova tentativa de fusão.
As companhias tiveram um acordo de codeshare entre junho de 2020 e agosto do ano passado. Depois disso, a Azul manifestou por diversas vezes seu interesse em adquirir a concorrente e chegou a fazer uma proposta na qual avaliava a companhia em US$ 13 bilhões. A Latam recusou a proposta e o CEO do grupo chegou a dizer que a oferta da Azul era “incompleta” e “insuficiente”.
Ao contrário da avaliação dos analistas do BBI, Hallgren, do BB Investimentos, se diz cético em relação ao deal e acredita que a prioridade dos credores vai ser devolver o controle da empresa à Delta, Qatar e a própria família Cueto. “Não seria uma combinação de negócios com o caixa da Azul, mas uma parceria com os credores. E como já há sócios que conhecem o mercado latino americano e brasileiro, não vejo diferença competitiva em atrair um operador fora do grupo atual”, diz o analista.
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“Na minha visão, a prioridade [da Latam] estaria na recomposição das margens e desalavancagem do balanço”, complementa Kogake, da Eleven.
De qualquer forma, os analistas acreditam que o fim da recuperação judicial da Latam tem efeito neutro sobre ações de Azul e Gol, por ser um evento já esperado pelo mercado.