De geração em geração

“Pai rico, filho nobre, neto pobre" é, infelizmente, uma realidade para muitas famílias. Por que é tão difícil manter o patrimônio por várias gerações?

Silvia Alambert Hala

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Getty Images
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Quando os pais me perguntam sobre qual o valor ideal da mesada a ser oferecida aos seus filhos, eu prontamente respondo: “A mesada é uma excelente ferramenta pedagógica de educação financeira e, ainda que eu desconheça a sua realidade financeira, eu indico que comece e comece o quanto antes. O valor? Não deve ser nem tão baixo, a ponto de seu filho se sentir excluído do grupo social do qual ele faz parte, mas nem tão alto que ele não consiga nem se planejar para poder trabalhar na construção de seus sonhos.”

Por que eu apoio tanto a mesada?

Quase todo mundo parece ter uma história que descreve o declínio e queda da fortuna familiar, que acontece de forma cíclica em aproximadamente três ou quatro gerações – dependendo da riqueza que foi construída – e que, normalmente, começa com a geração daqueles que trabalharam duro para construir a fortuna da família, seguida por uma geração que vive dessa riqueza, mas luta para manter o dinheiro e o padrão de vida da família, a terceira geração, já mais desinteressada que só quer usufruir dos bens e a quarta geração que acaba por ter que reiniciar a história para conquistar o que não teve a oportunidade de usufruir.

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E isto é tão verdadeiro que há frases para designar este fenômeno em vários idiomas pelo mundo todo: em português, se diz “pai rico, filho nobre, neto pobre”; os franceses dizem que “a primeira geração constrói, a segunda fortalece e a terceira gasta tudo”; os americanos usam a expressão “Colarinho azul a colarinho azul em três gerações” (“blue collar” é uma expressão que se refere aos membros da classe trabalhadora que normalmente realizam trabalhos manuais ou braçais), os alemães, dizem que “o pai cria a riqueza, o filho a recebe e o neto a arruína”. Uma citação de Otto von Bismarck diz que “a primeira geração ganha o dinheiro, a segunda gere a riqueza, a terceira estuda a história da arte e a quarta degenera completamente” e há também uma frase atribuída ao antigo primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Rashid bin Saeed Al Maktoum, que reconheceu o grande ciclo e disse: “O meu avô montou um camelo, o meu pai montou um camelo, eu conduzo uma Mercedes, o meu filho conduz uma Land Rover, o meu neto vai conduzir uma Land Rover, mas o meu bisneto vai montar um camelo”.

Infelizmente, a história está repleta de pais que prosperam e querem oferecer aos filhos tudo aquilo que não tiveram na infância e querem poupá-los da lembrança do sentimento de tristeza que eles têm quando se lembram daquela época. Agindo desta maneira, os pais não percebem que os filhos estão deixando de receber lições valiosas de vida, tais como:

1) O reconhecimento e valorização do esforço dos pais.
2) O valor da conquista dos sonhos, pois seus desejos são atendidos prontamente, sem que necessitem entender a dinâmica por trás do sonho realizado.
3) A oportunidade de amadurecimento para que aprendam a lidar com frustrações e perdas.

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Pode parecer pouco, mas apenas isso poderá impactar profundamente a forma como os jovens lidarão com as questões profissionais, financeiras e interpessoais ao longo de suas vidas: adultos emocionalmente imaturos, desprovidos de conhecimento e habilidades financeiras e que culparão seus pais e avós por seus fracassos.

E como quebrar o ciclo da maldição do “pai rico, filho nobre, neto pobre”?

– Entender que dinheiro é finito e que, mal administrada, toda fortuna pode acabar. Os pais precisam se educar financeiramente para poder educar seus filhos.
– O maior legado que os pais poderão deixar aos seus filhos é o conhecimento, a experiência e as habilidades que eles necessitarão para continuar gerando riqueza para si próprios e para que o conhecimento continue sendo transmitido por gerações dentro da família.
– Ensinando-os a pescar e não simplesmente entregando o peixe.

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A mesada, muito mais do que o valor e com as devidas orientações, é uma excelente ferramenta de gerenciamento e planejamento financeiro, para que as crianças e jovens aprendam a ter responsabilidade financeira, a valorizar o esforço de seus pais e a serem responsáveis por suas escolhas. Criar atalhos para a vida delas não ajuda no processo de aprendizagem. Preparando-os para um encontro com a vida real e não para uma vida em uma bolha onde tudo gira em torno dos filhos ou uma vida fantasiosa onde todo pedido é uma ordem a ser prontamente atendida.

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Silvia Alambert Hala

Sócia, co-fundadora da Creative Wealth™ Intl (USA), empresa americana fundada em 2002 e proprietária dos programas de educação financeira para crianças e jovens The Money Camp™, Camp Millionaire™, Moving Out! ™ e The Money Game™ que se dedica à formação de educadores financeiros escolares e mentores e tutores de crianças e jovens ao redor do mundo. Silvia atua há 15 anos como educadora financeira de crianças e jovens em escolas e nas famílias, coach especializada em finanças comportamentais, palestrante, formadora de educadores financeiros escolares no Brasil, co-autora do livro “Pai, ensinas-me a poupar!” (Ed. Rei dos Livros) publicado em Portugal, representante da APOEF™ (Associação de Profissionais Orientadores e Educadores em Finanças) nos Estados Unidos da América e coordenadora do projeto de educação financeira para jovens atletas de alto desempenho da empresa Sports To Go™. Instagram: @silviaalambert_edufin www.silviaalambert.com www.creativewealthintl.com