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Investidores focados em estratégias de dividendos têm se perguntado como o resultado mais apertado na votação para a Presidência da República – em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) passaram ao segundo turno com uma diferença pouco acima de 5 pontos percentuais – e algumas surpresas em Estados importantes afetarão os proventos de empresas estatais.
Na avaliação de agentes de mercado ouvidos pelo InfoMoney, empresas públicas federais listadas na B3, como Petrobras e Banco do Brasil, não devem sofrer forte interferência do governo em 2023 – mas isso não necessariamente se traduz em uma garantia de dividendos tão robustos como os registrados neste ano nos próximos exercícios.
O motivo é que com um Congresso mais alinhado à direita e uma distância menor do que a imaginada entre os principais candidatos no primeiro turno, o novo governo tenderá a se movimentar rumo ao centro, distanciando-se dos extremos do espectro político e econômico.
No caso das estatais estaduais – como a Sabesp, em São Paulo, além de Cemig e Copasa, em Minas Gerais – o crescimento de candidaturas alinhadas à direita animou os mercados. O candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi para o segundo turno no pleito paulista, concorrendo com Fernando Haddad (PT), enquanto Romeu Zema (Novo) venceu a corrida pelo governo mineiro no primeiro turno.
O resultado levou agentes financeiros a vislumbrar a possibilidade de privatizações à frente. Mas do ponto de vista da distribuição dos dividendos, um desfecho nesse sentido poderia acabar favorecendo novos investimentos e crescimento das empresas, em detrimento do nível de remuneração aos acionistas, segundo analistas consultados pelo InfoMoney.
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Se você é um investidor focado em estratégias de dividendos, confira a seguir o que esperar de cada estatal daqui para frente:
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Petrobras (PETR4)
Os analistas têm visões ligeiramente diferentes para o futuro dos proventos da Petrobras. Enquanto alguns apontam maiores chances de redução em um eventual governo Lula, outros acreditam que as mudanças talvez não sejam tão grandes.
Para Flavio Conde, analista da Levante Investimentos, mesmo que se inclinasse ao centro, o candidato petista “já deixou clara a sua vontade de reduzir os dividendos para não enriquecer o investidor estrangeiro”. “Lula também já falou de abrasileirar o preço da gasolina e combustíveis, deixando de seguir a paridade com o mercado internacional. A ex-presidente Dilma Rousseff já fez isso, e a Petrobras teve lucros pífios”, aponta.
Sidney Lima, analista da Top Gain, também tem uma visão de cautela. Para ele, a tendência em um eventual governo Bolsonaro seria de não haver mudanças nos dividendos da Petrobras, mantendo-se entre as melhores pagadoras. Contudo, havendo alterações na política de paridade de preços em um governo Lula, a situação seria diferente, tendo em vista que os proventos estão diretamente relacionados à geração de caixa e à lucratividade da empresa. Para 2023, o analista estima um dividend yield de até 30%. Neste ano, até setembro, o retorno em dividendos da petrolífera já superou 60%.
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Outros analistas têm uma visão mais construtiva sobre os dividendos da Petrobras, apoiados em um Congresso mais à direita e na postura de centro que deve prevalecer no próximo governo federal. É o caso de Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, que prevê um payout (parcela do lucro destinada a dividendos) de 80% em 2023, com uma possível distribuição de R$ 118,3 bilhões ao longo do ano. O dividend yield alcançaria 28,5%. Arbetman cita também o arcabouço jurídico complexo da companhia e mecanismos como a Lei das Estatais, que evitariam mudanças bruscas.
Para ele, três pilares devem se manter sólidos para garantir um bom retorno com dividendos para os acionistas nos próximos anos. Primeiro, a manutenção dos preços dos combustíveis alinhado com a paridade internacional. Depois, o foco dos investimentos no pré-sal. E por último, a diligência financeira da empresa, vista nos últimos anos, com boa alocação de capital e desinvestimentos.
O analista cita que o custo de extração de pré-sal atualmente é de US$ 5 o barril para a companhia. Considerando ainda fretes, royalties e outras despesas, o custo total chega a US$ 40. “Mesmo com uma queda recente do petróleo Brent, de US$ 110 para US$ 90 o barril, acredito que a Petrobras ainda está em um cenário que possibilita uma forte geração de caixa”, destaca.
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Vicente Guimarães, CEO da VG Research, e Luan Alves, head de equity da VG Research, acreditam que a Petrobras deve manter proventos de duplo digito tanto com Lula quanto com Bolsonaro eleitos. A visão é de que existe menos espaço para o petista promover “políticas heterodoxas”, favorecendo a política atual de dividendos.
Alves destaca que o principal risco está na política de investimentos da Petrobras. A tendência seria de redução nos dividendos caso haja uma aposta nas refinarias em 2023. Conde, da Levante, e Arbetman, da Ativa, também veem essa possibilidade como um ponto negativo, já que esses investimentos se mostraram pouco eficientes em gestões passadas. Arbetman destaca que as refinarias correspondem a apenas 15% da margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da empresa, enquanto o pré-sal rende mais de 70%.
Mesmo assim, a VG projeta 14% de dividend yield para Petrobras em 2023 e 13% para 2024.
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No que resta de 2022, contudo, ainda há chances de dividendos extraordinários da Petrobras, relacionados ao lucro da empresa no terceiro trimestre. A visão é de Flávio Conde, da Levante, que acredita que a companhia tenha um lucro de R$ 30 bilhões e distribua 100% dele em proventos. “Pelo menos R$ 7,5 bilhões devem ir para o caixa do governo, para ajudar a financiar o Auxílio Brasil”, destaca.
Segundo o analista, os investidores estão cientes deste cenário e devem manter posição na empresa até receber este dividendo. “A partir de 1º de janeiro, isso pode mudar”, afirma.
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Banco do Brasil (BBAS3)
Na avaliação de Luan Alves, da VG Research, o Banco do Brasil apresenta risco de interferência limitado em relação a outras estatais, mesmo em um governo Lula, por conta dos comitês do banco, responsáveis pela maior parte das decisões na instituição.
Segundo o analista, até mesmo no governo Dilma Rousseff, considerado um dos mais intervencionistas, as interferências foram menores por conta da estrutura organizacional da instituição. O analista projeta que o banco estatal deve apresentar um retorno em dividendos de 11% em 2023.
“Além disso, houve avanços institucionais relevantes nos últimos anos nas empresas estatais, que dificilmente serão revertidos, dado o perfil dos parlamentares eleitos em 2022, em maior parte ligados ao centro e à direita”, destaca Alves. Ele aponta que os riscos inerentes ao governo poderiam ser o aumento de inadimplência no varejo e no segmento de agronegócio, em que o banco tem forte presença.
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Sabesp (SBSP3), Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3)
A notícia de que Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu o maior número de votos na disputa para governador de São Paulo animou os investidores da Sabesp (SBSP3), companhia de saneamento do estado. A expectativa é de que uma eventual vitória de Freitas no segundo turno facilite os caminhos para a privatização da empresa, cujas ações valorizaram mais de 16% nesta segunda-feira (3).
“Não acho que é fácil privatizar a Sabesp, mas acho que o caminho estaria mais alinhado, tendo em vista o que Tarcísio fez no governo Bolsonaro como ministro de Infraestrutura”, afirmou Marcos Peixoto, da XP Asset, durante edição especial do InfoMorning, programa produzido pelo InfoMoney.
Na visão de boa parte dos analistas, uma eventual privatização da Sabesp poderia ocorrer em formato semelhante ao adotado na Eletrobras, com a diluição da participação do governo na empresa. Embora essa seja uma boa notícia para o investidor interessado em ganhar com a valorização dos papéis, pouco deve mudar para quem busca dividendos, destaca Conde, da Levante.
O motivo é que caso privatizada, boa parte dos recursos que entrariam no caixa da Sabesp seriam destinados para investimento ou para o pagamento de dívidas caras, dado que a companhia tem alavancagem elevada.
A Levante projeta que a Sabesp deve ter um payout de 27,94% em 2023. Considerando um lucro líquido possível de R$ 3 bilhões, isso resultaria em proventos de R$ 0,83 por ação no próximo ano.
Para a VG Research, a projeção para a Sabesp é semelhante. Segundo Alves e Guimarães, o dividend yield esperado é de 2,5% para 2023. Na visão deles, as companhias do setor passam por um momento de forte investimento, por conta da edição do Marco do Saneamento.
A tendência é de que elas acelerem o foco no crescimento até 2030, no lugar de uma política de distribuição elevada para o acionista. “A Sabesp poderia, se privatizada, valer mais do que atualmente é cotada na Bolsa, mas os baixos dividendos devem se manter”, destaca.
Para as mineiras Cemig e Copasa, a visão da VG Research é menos voltada à privatização, por considerar que a legislação de Minas Gerais é mais engessada – segundo Alves e Guimarães, para privatizar uma companhia pública precisaria ter maioria dentro da Assembleia Legislativa, algo que na primeira gestão de Zema não existia. Os dividendos projetados pela casa de análise para ambas as companhias é de 6% em 2023.
Conde, da Levante, reforça que nada deve mudar nos proventos de Cemig e Copasa no próximo ano, já que elas estão focadas em investimentos. Contudo, destaca que é possível que o governador reeleito Zema consiga desta vez obter maioria na Assembleia Legislativa do estado, que ganhou representatividade do centro e direita. “Isso aumenta a chance de desestatização das duas empresas, mas não significa que vá necessariamente acontecer”, completa.
O analista projeta dividendos de R$ 0,91 por ação para a Cemig em 2023, considerando um lucro líquido de R$ 4 bilhões e um payout de 50%. Para Copasa, a expectativa é de R$ 0,83 por ação, com 45% de payout e lucro líquido de R$ 700 milhões em 2023.