Bolsonaro chama Lula de “quadrilheiro” e volta a pedir votos em ato do Dia da Independência em Copacabana

Pauta de costumes e combate à corrupção viram principais armas do presidente, candidato à reeleição, em seu segundo discurso no 7 de Setembro

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro (PL) em audiência com o Secretário-Geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). (Foto: Isac Nóbrega/PR)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) em audiência com o Secretário-Geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). (Foto: Isac Nóbrega/PR)

Publicidade

Em seu segundo discurso no Dia da Independência, desta vez no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário que lidera as pesquisas de intenção de voto para a disputa pelo Palácio do Planalto, de “quadrilheiro de nove dedos” e disse que ele deveria ser “extirpado da vida pública”.

“Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão”, afirmou. Assim como a pauta de costumes, a agenda de combate à corrupção tem sido uma das principais bandeiras de campanha de Bolsonaro a 25 dias do primeiro turno.

As falas, no entanto, contrastam com escândalos como suspeitas na compra de vacinas durante a pandemia de Covid-19, denúncias de tráfico de influência e corrupção na gestão de Milton Ribeiro à frente do Ministério da Educação ou mesmo as indicações de suposta prática de “rachadinha” nos gabinetes de Bolsonaro e de dois de seus filhos alguns anos atrás.

“Compare o Brasil com a Argentina, a Venezuela e a Nicarágua. Eles são amigos do quadrilheiro que disputa a eleição. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública, teremos um governo muito melhor com a nossa eleição, com a graça de Deus”, disse Bolsonaro no Rio de Janeiro.

“Não adianta a esquerda nos atacar. Não estamos do lado da Venezuela, tampouco do lado da Nicarágua, que prende padre, furta as feiras e fecha as rádios e televisões católicas”, declarou.

“Nosso governo respeita sua carta à democracia que é a nossa Constituição. O outro lado, que assina cartinhas, não respeita a nossa Constituição”, completou. Mais cedo, o presidente havia participado de “motociata” pelas ruas da cidade.

Continua depois da publicidade

Leia também: Bolsonaro aborda economia, pauta conservadora e abre espaço para críticas ao STF no 7 de Setembro

A milhares de apoiadores na praia de Copacabana, ele voltou a acusar adversários de jogar “fora das quatro linhas da Constituição Federal” e, como havia feito mais cedo, em Brasília, adotou estratégia que abriu caminho para que manifestantes vaiassem e gritassem palavras de ordem contra o Supremo Tribunal Federal (STF).

“O nosso governo não permite qualquer controle das mídias sociais. As mídias sociais vieram para libertar a nossa população. Esperem uma reeleição para vocês verem se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição”, disse.

Continua depois da publicidade

“Trouxemos para vocês o conhecimento de como funciona a Presidência da República. Hoje vocês sabem também como funciona a Câmara dos Deputados. Sabem como funciona o Senado Federal e sabem também como funciona o Supremo Tribunal Federal”, afirmou seguido de vaias e palavras de ordem de apoiadores contra a Corte e seus integrantes.

“O conhecimento liberta. O conhecimento nos faz ganhar as ruas. O conhecimento garante a nossa liberdade”, continuou.

Bolsonaro aproveitou a oportunidade para defender empresários investigados pelo Supremo. Duas semanas atrás, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou pedido de busca e apreensão contra 8 empresários, feito pela Polícia Federal, sob a alegação de riscos para as instituições democráticas por articulação similar à investigada no inquérito das milícias digitais envolvidas em atos antidemocráticos. A decisão revoltou Bolsonaro e seus aliados.

Continua depois da publicidade

Havia grande expectativa no meio político pelo discurso do presidente. Uma postura de maior moderação vinha sendo aconselhada por aliados políticos, que trabalham para ampliar a base de apoio de Bolsonaro a menos de um mês das eleições e evitar agendas de confronto com outros Poderes − que poderiam afastar novos eleitores.

Do outro lado, havia defensores de uma postura mais combativa, sobretudo após decisões recentes do Poder Judiciário. Neste caso, a ideia era aproximar aos atos do que ocorreu em 2021, quando Bolsonaro atacou o sistema eletrônico de votação, chamou o ministro Alexandre de Moraes, hoje presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de “canalha” e insinuou que poderia não cumprir decisões judiciais.

Na última segunda-feira (5), o ministro Edson Fachin, do STF, suspendeu a eficácia de portaria e trechos de decretos presidenciais que facilitavam o acesso a armas de fogo e munições no Brasil, o que gerou incômodo adicional a Bolsonaro e seus aliados e estimulou a defesa de um tom mais agressivo do mandatário neste 7 de Setembro.

Continua depois da publicidade

No desfile militar do Bicentenário da Independência, realizado na manhã desta quarta-feira (7), em Brasília, Bolsonaro esteve acompanhado do empresário Luciano Hang, dono da Havan, um dos investigados pela PF e alvo das buscas autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes. A fotografia dos dois juntos foi interpretada no meio político como mais um recado aos magistrados.

A cerimônia do 7 de Setembro também foi marcada também pela ausência dos presidentes do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.

Nos bastidores, aquela foi uma sinalização de possível preocupação de lideranças políticas com os caminhos que os atos poderiam tomar e de distanciamento entre Bolsonaro e chefes de Poderes.

Continua depois da publicidade

A apoiadores em Copacabana, Bolsonaro disse que o Brasil vive um “momento de decisão” e voltou a pedir votos em 2 de outubro. Hoje, as principais pesquisas de intenção de voto indicam Lula liderando a disputa pelo Palácio do Planalto – dados frequentemente contestados por bolsonaristas.

“Neste momento de decisão – e vocês sabem que nós somos escravos das nossas decisões – vejam a vida pregressa [dos candidatos], não só pessoal mas também ao longo do seu respectivo mandato, para vocês poderem fazer a sua decisão”, sugeriu.

“Eu tenho certeza que vocês sabem o que nós devemos fazer para que o Brasil continue no caminho em que está. Vocês sabem também que hoje temos um governo que acredita em Deus, que respeita policiais e militares. Sabem que esse governo defende a família brasileira. E, o que é mais importante, é o governo que deve lealdade ao seu povo. Eu irei para onde vocês apontarem. Tenha certeza que teremos um governo muito melhor com a nossa reeleição, com a graça de Deus”, continuou.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.