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Das mais de 450 empresas listadas na B3, apenas nove pagaram dividendos constantes e, ao mesmo tempo, apresentaram um crescimento dos seus lucros acima da inflação nos últimos quatro anos.
A conclusão é de um levantamento exclusivo feito por Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, para o InfoMoney.
Para chegar às nove empresas, o levantamento considerou três critérios. Primeiro, as companhias precisavam ter distribuído dividendos todos os anos. Depois, suas ações deveriam ter apresentado uma taxa média de retorno com dividendos (dividend yield) de 5% ao ano, e nunca inferior a 3%.
Ação | Dividend Yield 2019 | Dividend Yield 2020 | Dividend Yield 2021 | Dividend Yield últimos 12 meses | Dividend yield médio nos últimos 4 anos |
Copel CPLE6 | 9,31% | 4,49% | 16,04% | 18,33% | 12,04% |
Taesa TAEE11 | 8,01% | 10,3% | 13,51% | 13,31% | 11,28% |
BrasilAgro AGRO3 | 5,95% | 3,72% | 10,48% | 18,13% | 9,57% |
Indústrias Romi ROMI3 | 13,29% | 14,62% | 5,03% | 4,58% | 9,38% |
Whirlpool WHRL4 | 11,27% | 13,02% | 7,91% | 5,09% | 9,32% |
Banco ABC ABCB4 | 6,76% | 3,3% | 6,4% | 7,88% | 6,08% |
Grazziotin CGRA4 | 5,53% | 5,79% | 3,86% | 7,53% | 5,68% |
Ferbasa FESA4 | 6,6% | 4,64% | 4,39% | 6,93% | 5,64% |
SLC Agrícola SLCE3 | 4,52% | 3,97% | 3,87% | 6,42% | 4,69% |
Fonte: Dica de Hoje Research, com dados Economatica. Os dados foram levantados em 18/08/2022. Dividend yield dos últimos 12 meses considera o período até 18/08/2022.
Por fim, as empresas precisavam ter registrado crescimento dos seus lucros acima da inflação acumulada entre 2018 e o segundo trimestre de 2022, que foi de 30,42%, segundo dados do Banco Central. Confira abaixo:
Ação | Lucro 2018 (R$ mil) | Lucro nos últimos 12 meses (R$ mil) | Variação lucro |
Whirlpool WHRL4 | R$ 227.032 | R$ 812.865 | 258,04% |
SLC Agrícola SLCE3 | R$ 479.266 | R$ 1.509.242 | 214,91% |
Ferbasa FESA4 | R$ 388.188 | R$ 1.095.077 | 182,10% |
Grazziotin CGRA4 | R$ 67.590 | R$ 168.905 | 149,90% |
BrasilAgro AGRO3 | R$ 290.168 | R$ 626.250 | 115,82% |
Indústrias Romi ROMI3 | R$ 105.597 | R$ 202.252 | 91,53% |
Copel CPLE6 | R$ 1.768.805 | R$ 3.321.815 | 87,80% |
Taesa TAEE11 | R$ 1.346.727 | R$ 2.069.741 | 53,69% |
Banco ABC ABCB4 | R$ 525.572 | R$ 693.493 | 31,95% |
Fonte: Dica de Hoje Research, com dados Economatica. O lucro nos últimos 12 meses considera o período entre o 2º trimestre de 2021 e o 2º trimestre de 2022.
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Dividendos + crescimento?
Poucas empresas conseguem entregar um retorno em dividendos igual ou superior à taxa básica de juros atual, de 13,75% ao ano – um levantamento do InfoMoney apontou 15 empresas de commodities e energia elétrica nesse seleto grupo.
Mas para Nigri, a taxa Selic não é a comparação mais justa para o retorno com dividendos. Ele lembra que, no longo prazo, as empresas que conseguem aumentar seus lucros também registram valorização nas suas ações, além dos dividendos.
Por isso, em sua visão, uma companhia com um retorno em dividendos de entre 4,5% e 7% (abaixo da Selic, portanto) e forte potencial de crescimento pode ser mais interessante do que uma empresa que pague 15% de dividend yield, mas esteja em declínio ou madura demais para continuar crescendo.
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“Uma empresa que lucre R$ 500 milhões todos os anos, sem crescimento, pode distribuir todo o seu lucro e mesmo assim não teria valorização nas ações”, exemplifica. “Já uma empresa com um lucro líquido inicial de R$ 300 milhões que passe a lucrar R$ 1,5 bilhão depois de dez anos provavelmente apresentaria valorização”.
A capacidade da gestão, de aumentar os lucros e de ganhar participação do setor pesam muito na escolha de ações para o longo prazo, destaca Nigri. E para superar os rendimentos da renda fixa, o crescimento dos ganhos das empresas deve pelo menos superar a inflação no período.
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Histórico importa
Além do crescimento dos lucros, o histórico de dividendos pagos pelas empresas também conta na seleção, embora não seja garantia de retornos futuros. Nigri considera que um dividend yield médio de 5,75% ao ano seria o ideal para assegurar ganhos acima da renda fixa, tomando como referência os juros oferecidos pelos títulos públicos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+). Por este motivo, escolheu o mínimo de 5% como métrica do levantamento.
Nigri também considera que a constância nos pagamentos é importante. Ele ressalta que companhias como a Petrobras (PETR4) – que deve ter um retorno com dividendos de 33,67% nos próximos 12 meses, segundo dados da Economatica – não distribuíram proventos com regularidade na última década. Segundo dados da Comdinheiro, não houve pagamentos da estatal entre 2015 e 2017.
Apenas 21 ações da Bolsa reúnem estes critérios – e delas, nove conseguiram também ter lucros crescendo acima da inflação.
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As ações de “crescidendos” preferidas dentre as nove alternativas
Das nove empresas que reúnem crescimento nos lucros com pagamentos constantes de dividendos, Nigri aponta quatro que, em sua visão, têm forte potencial de valorização no longo prazo.
A primeira é o Banco ABC (ABCB4) que, segundo Nigri, tem capacidade de pagar entre R$ 1,40 e R$ 1,50 por ação nos próximos 12 meses, o que representa um dividend yield em torno de 7,5% a 8% sobre o preço atual da ação. Já os lucros podem sair de R$ 693 milhões para R$ 830 milhões no mesmo período, segundo suas projeções.
Nigri explica que o Banco ABC é focado em clientes pessoa jurídica. A instituição trabalha com o segmento de middle market, empresas com faturamento anual entre R$ 30 milhões e R$ 250 milhões. Mas já chegou a atender clientes com faturamento superior a R$ 100 milhões no passado.
No segundo trimestre, o ABC aumentou as receitas com serviços e viu o lucro líquido trimestral ultrapassar a marca de R$ 200 milhões pela primeira vez em sua história, lembra Nigri.
Embora o estatuto preveja o pagamento de 25% do lucro líquido ajustado na forma de dividendos, Nigri destaca que o banco ABC tem distribuído trimestralmente em torno de 35% em juros sobre capital próprio (JCP).
A segunda empresa é a Copel (CPLE6), que atua na distribuição, geração e transmissão de energia no Paraná. A sua política de distribuição de dividendos muda de acordo com seu nível de endividamento, podendo ir de 25% até 65% do lucro líquido ajustado.
Segundo Nigri, uma das vantagens da Copel é ter as suas tarifas ajustadas de acordo com a inflação, o que favorece o crescimento dos dividendos no longo prazo. Ele também cita a venda da Copel Telecom, uma subsidiária da qual a Copel se desfez em 2021, mostrando a capacidade da companhia de gerar valor para o acionista.
Em 2022, Nigri acredita que o resultado da Copel deve sofrer impactos dos créditos de PIS e Cofins ressarcidos a consumidores, além do aumento do custo da dívida da empresa. Apesar disso, a visão é de que a companhia terá lucro entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,5 bilhão, distribuindo 65% como dividendos. “A Copel deve pagar entre R$ 0,35 e R$ 0,40 por ação, um yield entre 5% e 6% para 2022”, projeta.
A lista de preferidas de Nigri ainda tem Ferbasa (FESA4) e BrasilAgro (AGRO3). A primeira é uma mineradora de ferro e cromo, que produz cerca de 75 mil toneladas por trimestre. Sendo uma exportadora, oferece exposição ao dólar e aos preços das commodities.
Nigri acredita que nos próximos 12 meses, o lucro da companhia pode chegar a R$ 1,1 bilhão. “A Ferbasa pode distribuir entre R$ 5,50 e R$ 6 por ação nesse período, um yield superior a 10%”.
Já a BrasilAgro não deve ter um desempenho tão bom quanto o de 2021, mas ainda é considerada interessante. Nigri acredita que em outubro a companhia pode distribuir R$ 170 milhões em dividendos, entre R$ 1,65 e R$ 1,75 por ação, equivalente a um yield de cerca de 6,5%.
Ele destaca que a BrasilAgro é a empresa mais cíclica do levantamento, porque gera receita vendendo terras ou com cultivos de soja e milho, enquanto as terras não são vendidas. As ações estão descontadas em 40%, mas devem valorizar conforme as terras subam de preço, diz Nigri.