Ação da Marfrig (MRFG3) sobe quase 5% após balanço, JBS (JBSS3) cai apesar de fortes números para Seara

Operações impulsionam resultados América do Sul, enquanto margens na América do Norte se acomodam mais rápido do que o esperado

Felipe Moreira

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As gigantes do setor de proteína animal JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) divulgaram seus resultados referentes ao segundo trimestre de 2022 na noite desta quinta-feira (22).

A Marfrig registrou um lucro líquido de R$ 4,255 bilhões no segundo trimestre de 2022, informou a companhia, crescimento de 144,9% na base anual, além de anunciar um dividendo de R$ 500 milhões. Já JBS viu seu lucro cair quase 10%, mas com valor acima do esperado.

Os números relatados para as duas companhias vieram acima do consenso de mercado, impulsionados pelas suas unidades na América do Sul, com Seara sendo especificamente o destaque para a JBS. Contudo, os movimentos são diversos na Bolsa. As ações da Marfrig subiram 4,76%, cotadas a R$ 14,30, enquanto JBSS3 caíram 2,62%, a R$ 30,42.

“A Marfrig apresentou números acima do previsto, impulsionados pelo resultado de América do Sul, enquanto a América do Norte veio em linha com as expectativas. Contudo, com a consolidação do balanço da BRF (BRFS3), nossa percepção para a nova companhia é mista”, escreveu a XP Investimentos, em relatório.

Para os analistas da XP, as margens nos EUA estão acomodando mais rápido do que o esperado devido aos preços mais altos do gado, enquanto a inflação pesa sobre o consumidor, podendo levar a uma troca da proteína , favorecendo a carne de aves. Na América do Sul, apesar dos preços mais altos do gado no Uruguai e na Argentina, o Brasil ajudou a compensar e as exportações continuam sendo o principal motivo de nosso otimismo.

O time de research do Itaú BBA também atribui o forte resultado da Marfrig aos “sólidos aumentos na margem Ebitda, enquanto a operação norte-americana apresentou uma redução significativa nas margens devido à retração do ciclo do gado nos EUA”.

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Para Bradesco BBI, o frigorífico reportou números positivos, uma vez que o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ex-BRF veio 12% acima do consenso e 17% acima da estimativa dos analistas da casa, dadas as margens mais fortes do que o esperado para sua divisão na América do Sul, apesar das margens para o segmento de carne bovina dos EUA, historicamente o principal impulsionador da ação, estando amplamente em linha com as expectativas em 13%.

Analistas do BBI explicam que o lucro líquido de R$ 4,3 bilhões bem acima do consenso foi devido ao impacto positivo de aproximadamente R$ 3,8 bilhões de um laudo de avaliação que avaliou a BRF acima do preço pago pela Marfrig.

Na avaliação do Credit Suisse, em termos de rentabilidade, a empresa conseguiu entregar margem mais forte que pares nas operações da América do Norte (receita liquida estável, com margem Ebitda de 13,2%, sendo 30 pontos-base acima do esperado pelo Credit) e do Sul (margem Ebitda de 9,5%, 140 pontos=base acima do esperado pelo banco). Na operação norte-americana, a boa notícia foi que os volumes se mantiveram saudáveis, mesmo com o atual momento inflacionário da economia.

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Os analistas do Credit continuam otimistas com Marfrig, uma vez que acreditam que o momentum operacional seguirá saudável. Para a National Beef, o banco enxerga um declínio gradual da disponibilidade de gado, o que pressiona para cima os preços dos novilhos gordos. No entanto, aponta que os preços da carne bovina devem se manter em bons níveis, uma vez que a demanda não mostra sinais de enfraquecimento. Já na divisão América do Sul, é relativamente menos construtivo do que o mercado, que está convencido de uma oferta de gado muito mais forte e, consequentemente, uma melhora importante nas margens.

Já com relação aos dividendos, analistas da XP avaliaram como interessante o dividend yield de 5,6%, embora destaquem pelo lado negativo que a alavancagem da nova companhia atingiu 2 vezes (de 1,67 vez sem BRF).

A XP Investimentos reitera recomendação de compra e preço-alvo de R$ 34, potencial de alta de 149,1% frente a cotação de fechamento de quinta-feira (11) de R$ 13,65, uma vez que vê a empresa sendo negociada a 4,5 vez o valor da firma (EV) sobre o Ebitda para 2023. O Credit Suisse também enxerga a Marfrig sendo negociado abaixo de 5 vezes o EV/Ebitda, um “nível atrativo”, destaca. Além disso, o banco suíço diz estar construtivo com a BRFS3, que também deve beneficiar as ações da Marfrig. Em suma, reitera classificação outperform (equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 23.

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Menos otimistas, Bradesco BBI e Itaú BBA mantém recomendação neutra para Marfrig, com preço-alvo de R$ 18 e R$ 26, nesta ordem.

JBS (JBSS3) bate consenso com ajuda da Seara

Em relatório a XP Investimentos escreveu que a JBS reportou números mistos no 2T22, porém o resultado em geral foi forte. “O resultados vieram positivos no Brasil (superando as expectativas em Seara, abaixo do esperado em Friboi), enquanto os EUA também foram positivos (em linha para o segmento de carne bovina, números fortes em carne suína).”

Segundo a JBS, a estratégia multi-proteína e multi-geográfica está “pagando a conta”, uma vez que, enquanto as margens de carne bovina nos EUA estão acomodando, Friboi e carne bovina da Austrália melhoram e o forte momentum para PPC e Seara contribuem para atenuar a queda de carne bovina.

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Para Itaú BBA, o resultado foi Ligeiramente positivo, com a Seara sendo a surpresa positiva, enquanto que os bons resultados do PPC – Pilgrim’s Pride Corporation – já foram precificados pelo mercado. Por outro lado, a USA Beef sofreu os impactos da desaceleração do ciclo do gado, mas analistas do banco acreditam que isso também foi antecipado após os resultados da TSN no início desta semana.

O Credit Suisse comentou que a “Seara surpreendeu até os mais otimistas”. A subsidiária da JBS apresentou desempenho operacional recorde no trimestre. Enquanto o faturamento ficou em linha com os números de R$ 10,7 bilhões, o Ebitda atingiu R$ 1,5 bilhão – o maior da história da Seara. Se tomar como base de comparação a já forte margem Ebitda divulgada pela BRF na quarta-feira, a Seara superou em 350 pontos-base. “O desempenho foi resultado principalmente do melhor mix de vendas e aumentos de preços, que foram mais do que suficientes para compensar os custos ainda elevados”, explica o analista Victor Saragiotto.

Em termos de lucratividade, a equipe de análise do BBI destaca que o Ebitda consolidado veio 6% acima do consenso (já ajustado para os resultados PPC já publicados), embora em linha com projeção do banco, dado que a receita ficou 3% acima do consenso e a margem EBITDA ficou um pouco acima. A operação Seara da JBS no Brasil foi o principal destaque, mas a margem da divisão US Beef (considerando a divulgação antiga, que inclui EUA e Austrália), historicamente o principal impulsionador da ação, ficou amplamente em linha com as expectativas em 10% e caiu de 21% no 2T21.

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A XP Investimentos continua otimista sobre a capacidade da JBS de arbitrar diferentes ciclos e uma base de consumidores diversificada, reiterando JBSS3 como sua principal escolha no setor de proteínas com uma recomendação de compra e preço-alvo de 51,80, um potencial de valorização de 65,8% frente a cotação de fechamento da véspera de R$ 31,24. BBA também recomendação equivalente à compra para JBS e preço-alvo de R$ 54, potencial de alta de 72,9%. Credit reitera classificação outperform (equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 42.

O Bradesco BBI, por sua vez, mantém avaliação neutra para JBS, com preço-alvo de R$ 34. “As ações da empresa tiveram um desempenho inferior ao índice Ibovespa em 10 pontos percentuais no acumulado do ano, já que os investidores continuam preocupados com o ciclo negativo das margens de carne bovina dos EUA, uma tendência que provavelmente continuará”, avaliam os analistas. O USDA prevê menor disponibilidade de gado para 2023, o que pode levar a um aumento de aproximadamente 10% nos custos do gado, enquanto a potencial desaceleração econômica nos EUA pode limitar os aumentos dos preços da carne bovina, avalia o BBI, destacando que vê a ação negociando amplamente em linha com a média histórica.

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