Gerdau (GGBR4) tem resultado forte, mas ações fecham em queda de cerca de 4%: dividendos são os culpados?

Valor dos proventos não agradou, mas sessão foi negativa para o setor em geral, o que também acabou impactando ativos da siderúrgica

Lara Rizério

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Ganhando destaque na preferência dos analistas de mercado entre as ações de mineração e siderurgia, a Gerdau (GGBR4) divulgou nesta quarta-feira (3) números do segundo trimestre de 2022 (2T22) fortes, mas dentro do esperado, não sendo assim um catalisador para as ações na sessão.

Ao mesmo tempo, o “não anúncio” de dividendos extraordinários, ainda que os proventos tenham sido bilionários, decepcionaram. Durante a sessão desta quarta, os ativos foram aumentando as suas perdas, em um dia majoritariamente negativo também para mineradoras e siderúrgicas, fechando em queda de 4,06%, a R$ 23,41. Uma pesquisa privada mostrou na segunda-feira que os preços das casas novas na China e o volume de vendas caíram em julho em relação ao mês anterior, o que tem impactado recentemente os preços das commodities.

A siderúrgica teve lucro líquido ajustado de R$ 4,298 bilhões no segundo trimestre de 2022 (2T22), montante 27,6% superior ao reportado no mesmo período de 2021. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado somou R$ 6,680 bilhões no 2T22, um avanço de 13,3% frente ao 2T21. A receita líquida somou R$ 22,968 bilhões no segundo trimestre deste ano, crescimento de 20,1% na comparação com igual etapa de 2021.

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O consenso Refinitiv com analistas de mercado projetava lucro de R$ 4,26 bilhões, Ebitda de R$ 6,32 bilhões e receita de R$ 22,72 bilhões.

O Ebitda ficou 2% acima do esperado pelo Itaú BBA, com as divisões “Aços Especiais” e “América do Sul” surpreendendo positivamente, enquanto a América do Norte novamente contribuiu com 42% para o Ebitda consolidado e manteve a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) em máximas recordes, em 33%. No Brasil, volumes e preços melhoraram sequencialmente, mas os custos tiveram um impacto nas margens, apontam os analistas.

A geração de fluxo de caixa foi forte, em R$ 3,2 bilhões, e a relação entre dívida líquida e Ebitda diminuiu ligeiramente, para 0,18 vez. “Esperamos uma reação neutra do mercado”, destacaram os analistas, antes da abertura da Bolsa.

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O JPMorgan também ressaltou que os números foram fortes em todos os setores, mas as principais surpresas positivas vieram dos negócios da América do Sul e aços especiais, onde os preços surpreenderam positivamente.

“As divisões dos EUA e do Brasil também apresentaram números sólidos, mas um pouco tímidos em relação às estimativas do JP, principalmente em preços mais baixos e custos mais altos”, avaliam.

O JP também ressalta o anúncio de dividendos no valor de R$ 1,2 bilhão (3% de rendimento) e a aquisição 1,6% das ações PN em circulação como parte de seu programa de recompra. “Por fim, a Gerdau segue confiante com as perspectivas para seus negócios, principalmente nos Estados Unidos e no Brasil”, destacam os analistas.

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“Como os resultados estão amplamente alinhados com o consenso de mercado e com as nossas estimativas, não esperamos ver revisões significativas. A Gerdau é o call mais consensual entre os investidores e nossa principal escolha no setor siderúrgico”, aponta o JP.

Extrapolando os números para o setor, os analistas do JP veem maiores custos para a CSN (CSNA3), que divulgará resultados no próximo dia 15. “Da mesma forma que Usiminas USIM5, vimos os custos nos negócios da Gerdau no Brasil impactados negativamente por pressões inflacionárias. Esperamos ver uma tendência semelhante para a CSN”, apontam.

Por outro lado, há perspectivas positivas para Brasil e EUA. No Brasil, a atividade de construção continua forte e os lançamentos imobiliários e os estoques estão em níveis saudáveis, implicando uma boa demanda da Gerdau, segundo o JP. Para a América do Norte, a Gerdau espera uma demanda positiva para os setores de construção e distribuição na segunda metade do ano. Para infraestrutura, o governo americano reiterou ainda que os projetos devem utilizar aço nacional, beneficiando a divisão Gerdau North America.

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O JPMorgan tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para a ação GGBR4 com preço-alvo de R$ 40, ou potencial de alta de 64% frente o fechamento da véspera. Já o Itaú BBA tem recomendação outperform (desempenho acima da média), com preço-alvo de R$ 36, ou avanço de 47,5%. O Morgan Stanley, por sua vez, tem recomendação equalweight (exposição em linha com a média) para a companhia, com preço-alvo de R$ 26,50, ou potencial de alta de 8,6%.

Para o Bradesco BBI, os resultados consolidados ficaram em linha com as suas estimativas, com números muito saudáveis ​​em geral (com melhorias em todas as regiões), com os EUA mantendo margens acima de 30%, enquanto o Brasil conseguiu compensar as pressões de custos por meio de preços e embarques mais altos no trimestre .

Contudo, dito isso, os analistas avaliam que a empresa poderia ter anunciado dividendos maiores. “A falta de dividendos extraordinários sugere que a administração pode estar mais cautelosa com as perspectivas, mas destacamos que, mesmo em cenários mais difíceis, a Gerdau teria espaço para mais proventos, mantendo um balanço saudável”, apontam os analistas.

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O BBI reiterou recomendação outperform para Gerdau, com preço-alvo de R$ 40, vendo que valuation continua atrativo. “Acreditamos que a Gerdau continuará a apresentar um Ebitda acima do normal por tonelada em todas as suas operações no segundo semestre de 2022 e em 2023 (pelo menos). Dito isto, as ações estão refletindo uma queda acentuada na rentabilidade já em 2022, o que consideramos irracional”, avaliam.

Durante a tarde, após a teleconferência da siderúrgica com analistas, o BBI apontou que as mensagens da administração sobre a remuneração dos acionistas não trouxeram muitas novidades, com a política de dividendos mínimos definida para permanecer em 30% do lucro líquido, enquanto a empresa continuará executando o programa de recompras existente.

Pelo lado positivo, segundo eles, a administração deixou claro que não pretende levar a empresa a uma posição de caixa líquido, o que significa que continuará perseguindo a meta ótima de alavancagem (dívida bruta de R$ 12 bilhões, posição de caixa de US$ 1 bilhão, o que equivale a Dívida Líquida de R$ 6-7 bilhões, versus R$ 4,7 bilhões do 2T22).

“Dito isso, achamos que se a Gerdau continuar a gerar fluxo de caixa livre nos próximos trimestres, e também considerando as declarações da administração de que a empresa não buscará nenhuma grande fusão ou aquisição ou investimento em capital de alto valor adicional, dividendos extraordinários e/ou recompras adicionais são quase ‘inevitáveis'”, concluem.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.