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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a Selic em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (3), para 13,75% ao ano. Enquanto economistas discutem se o ciclo de alta chegou ou não ao fim, investidores procuram as oportunidades abertas com o novo patamar da taxa básica de juros. Via de regra, as aplicações de renda fixa são beneficiadas, enquanto o retorno de ativos de risco, como os fundos imobiliários, perde atratividade – mas isso não é verdade sempre. Ainda há um grupo de FIIs que rendem mais do que a Selic. E mais: ele está crescendo.
Um levantamento com dados da Economática – plataforma de informações financeiras – mostra que, dentre os fundos imobiliários mais negociados na B3, pelo menos 24 apresentam um dividend yield (taxa de retorno com a distribuição de dividendos) acima de 13,75% em 12 meses.
O número atual de FIIs com retorno superior à Selic é maior do que os 18 registrados em junho, segundo o mesmo levantamento, realizado na sequência da reunião anterior do Copom, assim que o Banco Central elevou a taxa básica de juros, então, para 13,25% ao ano.
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O que explica que um número maior de FIIs consiga oferecer um rendimento maior que a Selic, mesmo diante de uma elevação da taxa de juros (o que, em teoria, tornaria essa tarefa mais difícil)?
Dois fatores principais ajudam a entender o fenômeno. De junho para cá, as cotações dos fundos imobiliários caíram, em média, de 0,22%. Ao mesmo tempo, diversas carteiras distribuíram dividendos “extras”, não recorrentes, na virada do primeiro para o segundo semestre.
Os dois elementos – volume total de dividendos distribuídos e preço das cotas negociadas na B3 – são utilizados no cálculo do dividend yield dos fundos imobiliários. Como o primeiro aumentou para diversos FIIs e o segundo, na média, diminuiu, o resultado foi um número maior de fundos com taxas de retorno mais elevadas.
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O levantamento de FIIs com rendimentos superiores à Selic considera apenas os fundos que compõem o Ifix – índice dos FIIs mais líquidos da B3. A lista aponta que os dividend yields chegam a ser maiores do que 18% em 12 meses, como nos casos do Valora Hedge Fund (VGHF11) e do Urca Prime Renda (URPR11). Confira os 24 FIIs encontrados entre os resultados:
Ticker | Fundo | Tipo | Dividend Yield (12m/%) |
VGHF11 | Valora Hedge Fund | Títulos e Val. Mob. | 18,48 |
URPR11 | Urca Prime Renda | Títulos e Val. Mob. | 18,01 |
ARCT11 | Riza Arctium Real Estate | Híbrido | 16,97 |
VCJR11 | Vectis Juros Real | Títulos e Val. Mob. | 16,91 |
KNIP11 | KINEA IP | Títulos e Val. Mob. | 16,19 |
KNHY11 | KINEA HY | Títulos e Val. Mob. | 16,12 |
VGIP11 | VALORA IP | Títulos e Val. Mob. | 15,98 |
AFHI11 | AF Invest Cri | Títulos e Val. Mob. | 15,82 |
DEVA11 | Devant | Títulos e Val. Mob. | 15,73 |
RZTR11 | Riza Terrax | Híbrido | 15,64 |
PORD11 | Polo Recebíveis | Títulos e Val. Mob. | 15,61 |
NCHB11 | NCH High Yield | Títulos e Val. Mob. | 15,17 |
KNSC11 | KINEA Securities | Títulos e Val. Mob. | 15,10 |
BARI11 | FII BARIGUI | Títulos e Val. Mob. | 15,08 |
OUJP11 | Ourinvest JPP | Títulos e Val. Mob. | 15,02 |
VSLH11 | Versalhes Recebíveis Imobiliários | Títulos e Val. Mob. | 14,98 |
ARRI11 | Átrio Reit Recebíveis | Títulos e Val. Mob. | 14,74 |
RZAK11 | Riza Akin | Títulos e Val. Mob. | 14,65 |
HCTR11 | Hectare | Títulos e Val. Mob. | 14,47 |
BCRI11 | Banestes CRI | Títulos e Val. Mob. | 14,19 |
PLCR11 | Plural Recebíveis Imobiliários | Títulos e Val. Mob. | 14,16 |
RECR11 | Rec Recebíveis | Títulos e Val. Mob. | 14,06 |
HSAF11 | HSI Ativos Financeiros | Títulos e Val. Mob. | 14,00 |
HABT11 | Habtat II | Títulos e Val. Mob. | 13,82 |
Fonte: Economatica – 02/08/2022
Fundos de “papel” são os maiores pagadores
Dos 24 FIIs que ainda pagam dividendos acima da atual taxa Selic, 22 são do tipo “papel”, que investem em títulos de renda fixa ligados ao setor imobiliário e atrelados a índices de inflação e à taxa do CDI (certificado de depósito interbancário), que acompanha a Selic.
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Diante da relação, o mercado segue apostando no desempenho dos fundos de “papel” para o curto prazo, sem perder de vista as oportunidades nos FIIs de “tijolo”, que investem diretamente em imóveis.
“A dinâmica inflacionária e o ciclo de aperto monetário ainda sugerem maior exposição aos fundos de ativos financeiros, mas seguimos analisando o mercado em busca de novas opções de investimentos em fundos imobiliários de ‘tijolo’”, afirmam Marcelo Potenza e Larissa Nappo, analistas que assinam a carteira recomendada de FIIs do Itaú BBA.
Mesmo considerando a nova alta na taxa de juros, eles afirmam que os fundos imobiliários seguem com uma boa relação risco retorno na comparação com outras classes de ativos.
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A diferença entre a taxa média de retorno com dividendos dos fundos imobiliários (10,8% em 12 meses) e os rendimentos da NTN-B – título público atrelado à inflação – com vencimento em 2035 (6,2%) está em 4,6 pontos percentuais, de acordo com relatório do Itaú BBA. O número está acima da média histórica de 3 pontos percentuais, o que reforça a atratividade dos FIIs, segundo o banco.
Comportamento do dividend yield dos FIIs e dos rendimentos da NTN-B 2035
A comparação dos dividendos dos FIIs com a curva de juros de longo prazo – como os rendimentos da NTN-B 2035 – é até mais aconselhável do que a relação com a Selic, alertam os especialistas.
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O perfil do campeão em dividend yield
O Valora Hedge Fund é um fundo com perfil multiestratégia, que pode investir em CRI (certificados de recebíveis imobiliários), cotas de outros FIIs, fundos de investimento em direitos creditórios (FIDC), fundo de investimento e participações (FIP), além de debêntures imobiliárias e ações de empresas listadas na Bolsa.
Atualmente, 16,7% da carteira do fundo está na estratégia de ganho de capital, com ações de empresas de shoppings e incorporadoras. Dentro do portfólio voltado para a renda, os CRI respondem por 59% da carteira.
Na próxima sexta-feira (5), o Valora Hedge Fund distribuirá R$ 0,12 por cota – valor referente às receitas do mês passado –, montante equivalente a um retorno mensal de 1,20%. Em dezembro de 2021, o fundo alcançou um dividend yield mensal de 1,80%, conforme mostra a página do Valora Hedge Fund no InfoMoney.
O que esperar da Selic agora?
Blindados da elevação da inflação e dos juros, os fundos de “papel” acumulam alta de 27,8% nos últimos 24 meses, de acordo com o Índice Teva de Fundos Imobiliários de Papel. No período, os fundos de “tijolo” caem 3,5% e o Ifix tem alta de 3,4%.
Diante do desempenho, cotistas dos fundos de “papel” acompanham com atenção os próximos passos tanto da Selic como dos índices de inflação no País.
Se a elevação em 0,50 ponto percentual da Selic anunciada nesta quarta-feira (3) já era praticamente um consenso, a expectativa agora é para a próxima reunião do Copom – marcada para os dias 20 e 21 de setembro –, que traz um pouco mais de dúvida para o mercado.
“As maiores dúvidas se dão sobre a continuidade ou não do ciclo de alta de juros”, informa relatório da Levante, casa de análise de investimentos. “A inflação vem passando por uma intensa reprecificação nas últimas semanas, em especial a de 2022”.
No último relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira (2), a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano ficou em 7,15%, abaixo da estimativa de 7,30% da semana anterior e dos 7,96% de um mês atrás. Por outro lado, a perspectiva para o IPCA de 2023 subiu de 5,30% para 5,33% em uma semana. Há um mês, o percentual era de 5,01%.
“A variação na semana foi apenas marginal, mas continua com viés de alta, o que pode forçar o Banco Central a prosseguir com o aperto monetário por maior tempo”, sinaliza o relatório da Levante, que prevê aumento de 0,25 ponto percentual da Selic em setembro, com o indicador chegando a 14% ao ano.
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