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O Ibovespa fechou em queda de 1,80% nesta quinta-feira (14), aos 96.120 pontos, renovando as mínimas desde novembro de 2020, mais precisamente a sessão do dia 3 daquele mês. O principal índice da Bolsa brasileira acompanhou o que foi visto no exterior, mas recuou mais, com o peso negativo da performance das commodities.
Nos Estados Unidos, Dow Jones e S&P 500 recuaram, respectivamente, 0,46% e 0,30%. A Nasdaq, no entanto, fechou estável, aos 11.251 pontos.
“Hoje foi um dia de queda generalizada, um dia de risk off. Os investidores, cada vez mais, veem a possibilidade de uma recessão na economia norte americana, como consequência de o Federal Reserve subir a taxa de juros em 0,75 ponto percentual, ou até mesmo em 1 ponto, na próxima reunião, após dados recentes da inflação”, comenta Pedro Serra, chefe de pesquisa da Ativa Investimentos.
Após ontem o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) vir acima do consenso, hoje foi a vez do índice de preços ao produtor (IPP) superar as expectativas, com alta de 1,1%, ante 0,8% esperado.
Do outro lado, o mercado de trabalho americano já demonstrou fraqueza, com o número de novos pedidos de seguro desemprego ficando em 244 mil, ante 235 mil aguardados.
“Além de todos esses dados, tivemos os resultados dos bancos lá fora, com Morgan Stanley e JP Morgan trazendo números abaixo dos esperados. Está sendo um plano de fundo negativo para o sentimentos dos investidores no mundo todo”, completa Serra.
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A perspectiva de recessão cada vez mais palpável, por sua vez, justifica em parte a alta da Nasdaq – investidores estão voltando a se agarrar em valuations mais ancorados no longo prazo.
As commodities, com menor crescimento em vista, voltaram a cair em peso – também junto de notícias provindas da Ásia.
China também pesa sobre o Ibovespa
“A queda do minério, especificamente, é mais por conta de China. Tivemos notícias de moradores de cidades chinesas que estão se recusando a pagar as hipotecas por conta de obras inacabadas, o que trouxe mais incerteza”, explica o especialista da Ativa.
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Ontem, boa parte dos produtos não manufaturados já havia registrado baixa, com o temor de novos lockdowns por conta do reaparecimento de casos de Covid-19 em centros urbanos.
O minério de ferro fechou em queda de 8,4%, a US$ 100,25 a tonelada, na mínima em oito meses. O petróleo Brent, apesar das notícias, conseguiu avançar 0,26%, a US$ 99,83, se recuperando da queda da véspera.
Entre as maiores quedas do Ibovespa, ficaram as ações ordinárias da Vale (VALE3), com menos 6,66% e as da CSN (CSNA3), com menos 6,40%. Ainda no setor de mineração e siderurgia, as preferenciais da Gerdau (GGBR4) recuaram 4,47%.
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As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4) caíram, respectivamente, 3,19% e 2,69%.
Também destaque entre as quedas foram os papéis do setor financeiro, que acompanharam o desempenho de seus pares americanos, após resultados trimestrais negativos destes. As unitárias do Santander (SANB11) caíram 1,47%. As preferenciais do Itaú (ITUB4) e do Bradesco (BBDC4), 1,12% e 2,27%.
Commodities e aversão ao risco fazem dólar ganhar força
Stephan Kautz, economista chefe da EQI Asset, explica que a combinação entre aversão ao risco e queda das commodities foi responsável por enfraquecer o real.
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“Dólar está forte no mundo inteiro, diversas moedas sofrendo frente à divisa americana, não apenas por conta das commodities ou emergentes”, comentou.
O DXY, índice que mede a força do dólar frente uma cesta de moedas, subiu 0,67%, aos 108,69 pontos. O dólar comercial avançou 0,51% frente ao real, a R$ 5,433 na compra e na venda.
A curva de juros, apesar do recuo das commodities, também fechou em alta. Os DIs para 2023 tiveram seus rendimentos subindo três pontos-base, para 13,90%, e os para 2025 tiveram os seus avançando 12 pontos, para 13,19%. Os DIs para 2027 e 2029 viram suas taxas ganharem, respectivamente, dez e sete pontos, a 13% e 13,10%. Por fim, o DI para 2031 teve seu yield ganhando sete pontos, a 13,17%.
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“nesses dias de queda forte é sempre bom colocar está levantando uma discussão de alta de 100 pontos-base na fed funds. Mais juros nos EUA, maior diferencial de juros com o resto do mundo, mais forte o dólar e mais os países têm de elevar taxas para manter as moedas competitivas”, explica Kautz. “A curva de juros brasileira traz um rebote de toda essa dinâmica. Quanto mais o real depressiva, mais isso compensa a queda das commodities, menor o alívio para a inflação doméstica”, pontua.
Para o futuro, Kautz recomenda cautela. “Dado o diagnóstico de que é um efeito externo que afeta os mercados, a gente entende que é preciso haver uma melhora da inflação nos Estados Unidos”, menciona.
Bruno Madruga, head de Renda Variável da Monte Bravo Investimentos, é mais otimista e afirma que a atual queda é, em parte, irracional, e que há algumas oportunidades em companhias voltadas à economia interna. ”
“Podemos ver um fim no ciclo de alta das taxas de juros”, comenta Madruga. “Achamos que Ibovespa, no curto prazo, deve continuar pesado, mas há boa oportunidades de investimento para o longo prazo”.
Do outro lado, ele também vê que para o mercado brasileiro reagir são necessárias novas notícias provindas do exterior. “Ficamos aguardando notícias provindas do mercado chinês que causariam um aumento do consumo das commodities e trariam expectativas mais positivas para o Ibovespa”, finaliza.
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