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Com a alta de preços surpreendendo a cada semana e se mostrando mais disseminada nos últimos indicadores, cresceu também o número de casas que têm recalibrado para cima as expectativas para a inflação neste ano.
É o que indica o Boletim Focus desta segunda-feira (6), mostrando que agora os economistas consultados pelo Banco Central acreditam que a inflação deve encerrar este ano em 8,89%, um ponto percentual acima dos 7,79% previstos na pesquisa de maio.
Os ajustes para cima nas projeções têm atingido em cheio também o mercado de juros e de títulos públicos e privados. No caso dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) atrelados à inflação, as taxas máximas oferecidas chegaram a 6,83% ao ano para vencimentos em 12 meses na última quinzena, encerrada na sexta-feira passada (3). Na quinzena anterior, a remuneração mais alta para o mesmo prazo era de 5,67% ao ano.
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Os CDBs atrelados à inflação pagam aos investidores uma taxa de juros prefixada, definida desde o momento da aplicação, mais a variação de um indicador de preços. O mais comum é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado a inflação oficial do Brasil. Valores como os registrados na última quinzena só tinham sido vistos no começo do ano.
Os dados fazem parte de um levantamento quinzenal. Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda. Os números foram calculados entre os dias 23 de maio e 3 de junho pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, a pedido do InfoMoney.
O CDB que oferecia a taxa de 6,83% era um título emitido pelo BTG Pactual, que possui classificação de risco de crédito (rating) nacional de longo prazo AA, segundo a Fitch Ratings.
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Para papéis de prazo maior, como 24 meses ou 36 meses, o movimento dos juros foi misto. Enquanto os títulos com vencimento em dois anos viram a taxa real máxima avançar de 6,03% para 6,15% ao ano entre as duas quinzenas, papéis com vencimento em três anos registraram recuo na rentabilidade real máxima oferecida.
Entre os dias 23 de maio e 3 de junho, a remuneração real máxima entregue pelos CDBs de três anos chegou a 5,74% ao ano, inferior aos 6,49% registrados 15 dias antes.
Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (entre 23/05 e 03/06) | ||||||
Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
12 | IPCA | 5,40% | 6,24% | 6,83% | 145 | BANCO BTG PACTUAL |
24 | IPCA | 5,50% | 5,81% | 6,15% | 26 | BANCO BTG PACTUAL |
36+ | IPCA | 5,25% | 5,45% | 5,74% | 20 | BANCO BTG PACTUAL |
Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.
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CDBs atrelados ao CDI
Embora a manutenção das pressões inflacionárias torne o trabalho do Banco Central cada vez mais desafiador para domar a inflação, a mediana das projeções dos economistas é de que a autoridade monetária deve encerrar o ciclo de alta de juros neste ano em 13,25%.
Pelo menos foi o que mostrou a última pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (6), após mais de um mês de suspensão da publicação. A interrupção decorreu da greve dos servidores do Banco Central, que também tem atrapalhado outras divulgações importantes, como o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), além de dados do fluxo cambial, por exemplo.
A remuneração máxima oferecida por CDBs indexados ao CDI (taxa de referência da renda fixa) diminuiu nos últimos 15 dias, considerando os papéis de prazos mais curtos (vencimento em três a seis meses).
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Segundo a pesquisa da Quantum, a taxa máxima entregue por um CDB com vencimento em três meses, por exemplo, recuou de 106% do CDI (entre 9 e 20 de maio) para 105,5% do CDI na última quinzena.
Já papéis com vencimento em seis meses viram a remuneração máxima cair de 115% do CDI para 106% do CDI.
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Por outro lado, a maior parte dos CDBs com prazos a partir de 12 meses registrou juros máximos mais altos na última quinzena, na comparação com os 15 dias anteriores.
Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 23/05 a 03/06) | ||||||
Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | CDI | 100,00% | 102,51% | 105,50% | 50 | BANCO PAN |
6 | CDI | 97,50% | 101,76% | 106,00% | 45 | BANCO PAN, BANCO ALFA, BANCO ABC BRASIL , BANCO BTG PACTUAL |
12 | CDI | 90,00% | 101,08% | 120,00% | 46 | BANCO MERCANTIL BRASIL |
24 | CDI | 97,00% | 100,38% | 107,50% | 29 | HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL |
36+ | CDI | 96,00% | 101,43% | 110,00% | 20 | BANCO MERCANTIL BRASIL |
Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.
CDBs prefixados
No caso de CDBs prefixados, em que o investidor já sabe quanto vai receber desde o momento da compra do papel, o movimento das taxas também foi misto.
CDBs de prazo mais curto – entre três e seis meses – registraram recuo no juro máximo, passando de 13,53% ao ano para 13,44% na última quinzena. A taxa máxima dos papéis com vencimento em seis meses também caiu nos últimos 15 dias, de 15,38% para 13,75% ao ano.
Já entre os papéis com vencimento em 12 até 36 meses ou mais, a maior parte registrou avanço nos retornos máximos. No caso dos títulos com vencimento em 12 meses, a remuneração máxima avançou de 14,30% para 14,71% ao ano.
Retornos brutos de CDBs prefixados (de 23/05 a 03/06) | ||||||
Prazo (meses) | Indexador | Taxa mínima | Taxa média | Taxa máxima | Número de títulos | Emissor da maior taxa |
3 | PREFIXADO | 12,98% | 13,24% | 13,44% | 23 | BANCO BTG PACTUAL |
6 | PREFIXADO | 13,05% | 13,56% | 13,75% | 13 | BANCO PAN |
12 | PREFIXADO | 12,85% | 13,59% | 14,71% | 32 | BANCO MASTER |
24 | PREFIXADO | 12,10% | 13,13% | 15,50% | 9 | BRK FINANCEIRA |
36+ | PREFIXADO | 11,55% | 12,14% | 12,54% | 4 | BANCO BTG PACTUAL |
Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.
Inflação no centro das atenções
As taxas dos CDBs devem continuar a sofrer os impactos dos dados de inflação que serão apresentados nesta semana. Destaque para os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que serão divulgados na quinta-feira (9), além dos dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês), que saem na sexta-feira (10).
A expectativa para o CPI é de que o índice apresente certa desaceleração na margem em relação aos picos que fez em março, afirma Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. Segundo o especialista, os núcleos do CPI – que excluem alimentos e energia – devem desacelerar e ficar em 0,4%, abaixo dos 0,6% registrados em abril.
“Os números de inflação saindo dos picos trazem um conforto relativo para o mercado”, destaca. “Não tiram a necessidade de aumento dos juros pelo Fed [banco central americano], mas também não colocam na mesa a possibilidade de um aumento de 75 bps [75 ponto percentual] em algumas reuniões”, completa Costa.
Outro destaque está nos números de inflação oficial no Brasil. Para o especialista da Monte Bravo, os dados devem mostrar pressões pontuais, especialmente de passagens aéreas, bens industrializados e serviços, mas devem trazer uma “leitura mais benigna na margem”.
Nas projeções da casa, o IPCA de maio deve subir 0,53%, abaixo da mediana do mercado, que espera 0,60% de alta. “Aqui esperamos que haja uma desaceleração nos núcleos de inflação. Provavelmente, a difusão também deve cair porque a inflação de alimentos está menos pressionada”, avalia o economista.
Segundo ele, índices anteriores de inflação apontaram para uma pressão menor de alimentos, especialmente in natura, que tinham subido bastante anteriormente por causa de problemas climáticos. Há ainda a saída do impacto do preço do diesel.
Com relação à postura do Banco Central, Costa observa que, se a inflação sair dos máximos, isso deveria dar um pouco de confiança para o Banco Central interromper o ciclo de alta na reunião de junho, que, acredita-se, deverá elevar a Selic para 13,25% ao ano.
Mais um ajuste desse patamar na taxa básica de juros deixaria o nível de juros bastante restritivo em termos reais, na visão do sócio da Monte Bravo. “Se olharmos 12 meses à frente, com uma inflação projetada de 4% ou 4,5% e uma Selic em 13,25%, os juros reais serão de mais de 7%. É um nível muito alto. É suficiente pra fazer a inflação convergir para a meta de 2024 em diante”, defende o economista, já que o horizonte de 2024 deve virar o foco do BC a partir de agosto.
ICMS e combustíveis no radar
Discussões políticas também devem balançar o mercado de juros. Costa afirma que os debates em torno de um teto de 17% do ICMS sobre uma série de itens geram várias preocupações fiscais – ao tirar a receita dos estados e pressionar por compensações da União e possíveis gastos futuros mais para frente.
Aliado a isso, o mercado também deve acompanhar de perto o desdobramento em torno de uma outra Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que pode subsidiar os combustíveis. Segundo apurações do jornal O Estado de S.Paulo, a proposta poderia prever uma redução dos tributos, ou até mesmo zerar a tributação sobre diesel e gás.
De acordo com o jornal, cálculos preliminares apontam uma necessidade de compensação de pelo menos R$ 22 bilhões. O governo federal já zerou os seus tributos sobre o diesel. Nesse caso, traz o periódico, o dinheiro viria de receitas extraordinárias de dividendos da Petrobras, royalties e participação especial que o governo federal arrecada e que aumentou com a elevação do preço do petróleo no mercado internacional.
Na avaliação de Costa, a apresentação de uma PEC pode ser uma saída melhor do que um possível decreto de calamidade pública, que chegou a ser cogitado pelo governo e que parece ter perdido força nos últimos dias.
Segundo ele, a vantagem da PEC é que ela consegue dar uma previsão melhor dos gastos. “É um gasto além do esperado, mas dá um parâmetro para contas”, afirma o economista, ao dizer que o decreto de calamidade pública poderia permitir que o governo voltasse a gastar acima do teto de gastos.
Tipo de remuneração: como escolher?
Além de acompanhar os indicadores que podem impactar o cenário de juros, o investidor deve ficar atento ao indexador antes de comprar um CDB. Fernanda Melo, planejadora financeira CFP, afirma que papéis atrelados ao CDI e à inflação tendem a acompanhar as taxas elevadas de agora e podem ser bons trunfos para a carteira.
Contudo, diz Fernanda, é preciso olhar os vencimentos dos títulos. Segundo ela, a inflação está elevada por problemas nas cadeias de fornecimento relacionados à guerra na Ucrânia e à Covid. À medida em que a relação de oferta e demanda se normalizar, a inflação e a taxa de juros devem se readequar, observa a alocadora.
Papéis prefixados também não devem ficar de fora da carteira, na visão de Fernanda – uma visão que não é consensual entre os agentes do mercado. Segundo ela, esse tipo de indexador tem a vantagem de oferecer uma previsibilidade maior de retorno, no momento em que o investidor compra o papel, e está oferecendo taxas bastante atrativas.
“Ainda que a inflação e Selic voltem a cair no médio prazo, o investidor teria títulos com alto rendimento”, afirma a alocadora. A visão
Fernanda, no entanto, faz uma ressalva: papéis com vencimentos mais longos costumam ser mais arriscados porque são mais sensíveis ao risco. Nesse caso, a recomendação de especialistas é que o investidor tenha um objetivo específico em mente ao adquirir o papel prefixado.
Outro ponto de atenção está ligado ao limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que devolve até R$ 250 mil por investidor (CPF) e por instituição financeira, até o teto de R$ 1 milhão renovado a quatro anos, em caso de problemas como uma intervenção do Banco Central na instituição.
Nesse caso, o ideal é que o investidor diversifique os emissores para não ter problemas em caso de intervenções do Banco Central. Além disso, o melhor é que ele prefira papéis que são mais bem avaliados por instituições de classificação de risco, com rating AAA, AA, A e BBB, já que produtos a partir de BB possuem grau especulativo e costumam ser mais arriscados.