Vale a pena instalar gás no meu carro?

Com o preço dos combustíveis nas alturas, volta-se a discutir a viabilidade da conversão dos veículos de passeio para gás

Eli Borochovicius

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Reprodução/ Wikipedia Commons)
(Reprodução/ Wikipedia Commons)

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Os preços dos combustíveis têm pesado no orçamento familiar, motivo pelo qual a análise sobre a viabilidade financeira de conversão para o sistema de gás natural veicular (GNV) se mostra relevante.

De acordo com o Sistema de Levantamento de Preços da Agência Nacional de Petróleo, entre os dias 8 e 15 de maio de 2022, o preço médio da gasolina comum ao consumidor foi R$ 7,31 em pesquisa realizada com 5.297 postos de combustíveis no Brasil.

Para o etanol hidratado, a média de preços foi R$ 5,60 em 4.662 postos. Para o GNV, a média de preços foi R$ 5,31 o metro cúbico em 368 postos pesquisados.

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O veículo movido à combustão mais econômico, de acordo com a tabela de 2021 do Programa Brasileiro de Etiquetagem do Instituto Brasileiro de Metrologia, Qualidade e Tecnologia é o Chevrolet Onix Plus, com motor 1.0 de 82 cv e 10 mkgf de torque. O carro faz uma média de 14,3 km/l com gasolina na cidade e 10,1 km/l com etanol.

Foi considerado que o GNV é em média 40% mais eficiente que os combustíveis líquidos, então a presunção, para efeito de estudo, é que faça 20 km/m3.

A relação entre consumo e preço resulta em uma economia de 52,1% do GNV em relação ao etanol e de 48,1% em relação à gasolina.

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De forma geral, o custo para a instalação de um sistema de 5ª geração com 15 m3 de GNV é em torno de R$ 6.000 a R$ 7.000.

É possível encontrar preços mais convidativos no mercado, com cilindros requalificados, mas a legislação estabelece que o tempo de vida útil de um cilindro é 20 anos.

Portanto, instalar o sistema com cilindro usado pode trazer economia na instalação, mas gerar necessidade de desembolso de caixa antecipado no momento da sua substituição.

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Os cálculos para o estudo foram realizados com base no custo médio da instalação de um sistema com cilindros novos: R$ 6.500.

Se um veículo possui um tanque com capacidade de 44 litros e faz 14,3 km/l, infere-se que possui autonomia de 629 km e apresentará um custo de R$ 321,64 para encher o tanque. Já com GNV, a autonomia seria de 300 km e o custo R$ 79,65 por abastecimento.

Trata-se aqui de uma média matemática, mas talvez concordemos que a prática contrasta com a teoria.

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O sistema com GNV começa a funcionar depois que o veículo dá a partida e atinge uma determinada temperatura. Portanto, é bem provável que o sistema comece a funcionar depois de um ou dois quilômetros rodados com o combustível, ampliando o tempo de recuperação do investimento na conversão.

Além disso, estamos utilizando informações do veículo mais econômico e sabemos que o consumo depende de algumas variáveis, não sendo possível afirmar que fará 14,3 quilômetros com um litro de gasolina de forma constante.

Outra vantagem do GNV, desconsiderada no estudo, é que muitos estados incentivam a conversão com redução na alíquota do IPVA, por emitir entre 40% e 60% menos poluentes.

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No estado de São Paulo, por exemplo, a alíquota do IPVA é um ponto percentual menor. Isso implica em uma economia de R$ 800 no ano sobre o valor venal de um veículo de R$ 80 mil.

Por outro lado, existem alguns inconvenientes: o primeiro é que os cilindros ocupam espaço no porta-malas e, dependendo da necessidade de cada família, pode ser um impeditivo.

A documentação precisa ser regularizada nos órgãos competentes e a despesa para essa alteração foi desconsiderada no cálculo.

Nem todo posto de combustível tem a opção do GNV, então se faz necessário identificar se a conversão é uma opção viável do ponto de vista logístico. Como a autonomia fica reduzida, para circular sempre com o GNV, o proprietário vai precisar visitar o posto com maior frequência.

Fazendo as contas, conclui-se que o sistema se paga, mantendo todas essas informações constantes e supondo que sejam verdadeiras, em 26.456 km rodados.

Então, se a família circula com o veículo 1.500 km por mês, o sistema se paga em aproximadamente um ano e meio. Circulando 500 km por mês, o retorno do investimento deve se dar em aproximadamente quatro anos e meio. Se o veículo circular menos demorará mais para se pagar e circulando mais, o tempo de retorno do investimento fica reduzido.

Para finalizar, como o sistema de 5ª geração funciona com um módulo automático, a história de que o sistema danifica o motor fica menos evidente. Mas é preciso considerar, antes de optar pela conversão, que algumas montadoras podem limitar a garantia com a alteração.

Também é preciso reforçar que existe a possibilidade de perda de liquidez e de desvalorização do bem no momento da venda do veículo, isso porque apesar de ser mais interessante do ponto de vista financeiro, nem todas as pessoas estão dispostas a comprar um veículo com as suas características originais alteradas, motivo pelo qual é comum as revendedoras não aceitarem o veículo na troca ou reduzir o valor na oferta de compra.

Se a conversão para o GNV compensa? Depende de uma série de questões, muitas das quais foram levantadas aqui. Espero que o texto tenha servido de reflexão para melhor tomada de decisão.

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Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas