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Tenho recebido diversos estudos e análises a respeito do tema “eficiência” no futebol. A análise, definição e avaliação de eficiência já é um grande desafio em várias indústrias, ainda que em outras existam KPIs que funcionam de maneira bastante aceitável.
Mas estamos falando de futebol e suas idiossincrasias. Nesta coluna, o objetivo é desenvolver o tema, com a tranquilidade de que, ao final, não teremos verdades absolutas.
Primeiro, para qualquer análise que for feita nesse sentido, é preciso definir o objetivo. Afinal, para medir a eficiência, precisamos saber ao que ela se refere. Eficiência na produção do quê? E vem a segunda pergunta: qual o objetivo de um clube de futebol?
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Vamos responder mais adiante. Antes, precisamos definir três conceitos que nortearam esta conversa: eficiência, eficácia e efetividade.
De maneira bem simplória, eficácia relaciona-se ao objetivo, não importando o custo para isso. A eficiência analisa o custo para se atingir o objetivo, algo como “fazer mais com menos”. A efetividade analisa os impactos de longo prazo, como se unisse eficácia com eficiência ao longo do tempo.
Quando falamos em eficiência no futebol precisamos ter claro que a ideia é analisar quanto se gastou para se atingir o objetivo estratégico, ou seja, se o clube chegou aonde queria gastando menos. Daí voltamos à pergunta feita lá em cima: qual o objetivo de um clube de futebol? Só conseguimos medir eficácia e eficiência, e só conseguimos saber a efetividade se soubermos os objetivos.
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A resposta mais óbvia é “ser campeão”. Todo mundo quer ser campeão. Mas, considerando que temos poucas competições no ano, a chance de se atingir o objetivo é relativamente baixa. Pode-se vencer o Estadual, o Regional, a Copa do Brasil, o Brasileiro e, para poucos, a Sul-Americana, a Libertadores, o Mundial. Se desconsiderarmos o atualmente (quase) inalcançável Mundial, sobram seis possibilidades para alguns e cinco para a maioria. Pouco.
Aliás, uma das funções dos Estaduais ainda é a possibilidade de título para alguns clubes, que focam na competição curta e de início de temporada porque não tem estrutura e condições para competições longas.
Veja que estamos falando em muitas possibilidades e combinações de objetivos. Quando um clube monta uma estratégia de elenco, de gastos salariais, de contratações, ele deveria estar avaliando o calendário completo, de dez meses, definindo quais são os objetivos para cada competição.
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É possível querer ser campeão Estadual, chegar às oitavas de final da Copa do Brasil, permanecer na Série A. Ainda que os dirigentes tenham dificuldade em dizer isso, e os torcedores tenham ainda mais dificuldade em aceitar essa realidade, ela existe e precisa ser enfrentada.
Avaliando o tema sob a ótica dos “3 Es” (eficiência, eficácia e efetividade, lembrando que há um quarto que é a economicidade, mas deixaremos ele de fora neste momento), vamos focar na eficiência.
Afinal, se eficácia poderia ser traduzida como ganhar a qualquer preço e efetividade depende de análises de longo prazo, o melhor é valorizar quem faz mais com menos, de preferência dentro das possibilidades.
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O procedimento mais comum quando se fala em avaliar a eficiência é dividir as receitas ou os custos por pontos conquistados e compará-los com a colocação no campeonato nacional. Ou simplesmente comparar as receitas com a posição. Diria que podemos ser mais completos na análise.
Considerando que um clube se organiza para uma temporada com mais de 50 partidas, no mínimo três competições, não parece justo utilizarmos apenas o campeonato nacional – no nosso caso, o Brasileirão – para avaliar eficiência.
Imagine um clube que terminou na 6ª posição nessa competição, mas foi campeão Estadual, da Copa do Brasil e da Libertadores no mesmo ano. Dá para dizer que foi ineficiente? Eficaz certamente foi e a eficiência precisa ser medida em termos totais, não apenas em relação ao campeonato nacional.
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Dessa forma, considerando que o objetivo esteja claro, a recomendação que faço – e base do que utilizamos na consultoria Convocados – é iniciar avaliando a relação entre custos e pontuação total. Dá uma melhor dimensão do que foi a temporada, e não apenas uma competição, a partir do aproveitamento em campo.
Idealmente deveríamos avaliar apenas os custos com o departamento de futebol, mas há algumas dificuldades em se fazer isso.
A primeira é a falta de informação nos demonstrativos financeiros. Nem todos os clubes destacam os gastos com futebol, especialmente a remuneração. Então fica difícil montar uma base de dados qualificada.
A segunda é parte da estrutura do futebol brasileiro, no qual o futebol sustenta parte das atividades sociais e esportes olímpicos de muitos clubes. Dessa forma, utilizar todos os custos acaba sendo uma decisão acertada, pois gastos em outras áreas poderiam ser direcionados ao futebol.
Veja o exercício abaixo:
Além do mais, o próprio Atlético Mineiro foi ainda mais eficiente se pensarmos que venceu a Copa do Brasil e foi semifinalista de Libertadores.
O erro é ainda maior se fizermos a comparação apenas com a pontuação do Brasileiro, pois o elenco disputa outras competições. É sempre bom reforçar isso.
O que nos faz lembrar que ser simples não é ser simplista. Por mais que haja a boa intenção de criarmos dados e rankings que sejam fáceis para o entendimento de assuntos complexos, não dá para transformar assuntos complexos em rankings banais, pois gera o chamado “Erro Tipo 2”, ou uma espécie de “falso negativo”, ao supormos que Palmeiras e Flamengo foram ineficientes.
Isso tudo porque precisamos voltar ao início do artigo: o que é eficiência e quais os objetivos no futebol? Se o objetivo for conquistar tudo, então podemos dizer que o Flamengo foi ineficiente, pois gastou muito e não conquistou nada. O que não vale para o Palmeiras, que numa competição foi terceiro e venceu outra bastante importante.
Assim como o Atlético Goianiense foi eficiente, considerando que seu objetivo no ano deveria, no máximo, ser campeão estadual e permanecer na Série A. Não venceu o Estadual, mas teve performance muito boa no Brasileiro.
Isso reforça a ideia de que os objetivos precisam estar claros, de forma a alinhar as expectativas com o torcedor e o mercado, por mais dolorido que seja. Fundamental dispor do maior número possível de dados e KPIS para que se possa desenvolver diversas correlações e avaliações e certamente haverá respostas diferentes para objetivos e demandas diferentes por parte dos clubes, investidores, stakeholders.
Ou termos apenas um ranking para bate-papo de mesa de boteco ou post em rede social.
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