Dez estados do país não têm estações para recarga de carros elétricos; saiba como encontrá-las

São 1.250 pontos públicos de carregamento — 47% das estruturas estão no estado de SP

Equipe InfoMoney

Ponto de recarga de carros elétricos (Foto: Jonathan NACKSTRAND / AFP via Getty Images)
Ponto de recarga de carros elétricos (Foto: Jonathan NACKSTRAND / AFP via Getty Images)

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Dez estados brasileiros ainda não contam com nenhuma estrutura de recarga para carros elétricos, segundo levantamento obtido pelo InfoMoney, a partir de dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

Neste grupo estão, por exemplo, todos os estados da região Norte, além de Sergipe, Maranhão e Mato Grosso do Sul (veja dados abaixo). O país conta com ao menos 1.250 pontos públicos de recarga para modelos elétricos — 47% deles estão localizados no estado de São Paulo.

A falta de estações de recarga dificulta a proliferação, de forma equânime no Brasil, desta tecnologia, que é importante para o cumprimento dos desafios ambientais deste século.

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A ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) estima que, até 2035, o país contará com ao menos 3,2 milhões de veículos elétricos. Nesta semana, um anúncio de uma montadora deu sinais do que está por vir: a Caoa Chery paralisou sua fábrica, em Jacareí (SP), para passar a produzir só carros híbridos e elétricos a partir de 2025.

Mas, para dar conta de toda esta nova frota de elétricos, é preciso investir mais em pontos de carregamento, sobretudo, em lugares estratégicos como as estradas.

Pedro Betancourt, da GWM no Brasil; Pedro Schaan, sócio, fundador e CEO da Zletric; e Rogério Markievicz, presidente da ABRAVEI (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores) têm opinião semelhante: o Brasil precisa correr para instalar estas estruturas e garantir os benefícios de um setor que não para de crescer.

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Pontos de recarga: onde eles estão?

A melhor maneira de encontrar esses pontos é por meio de aplicativos específicos. Um dos mais utilizados é o PlugShare, um app gratuito e colaborativo, que funciona de forma semelhante ao Waze. Ou seja, os próprios usuários alimentam as informações, com fotos e descrição dos pontos de carregamento.

No PlugShare, o usuário consegue estabelecer diversos filtros, como endereço, velocidade de carregamento e, até mesmo, tipo de plug a ser utilizado.

Além disso, existem aplicativos de empresas específicas do setor, como Tupinambá e Zletric, por exemplo. No caso da Zletric, há 99 endereços em São Paulo, com mais de 250 pontos de carregamento. Porém, esses aplicativos só mostram os pontos de recarga de cada uma das empresas.

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Em fevereiro de 2022, a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) mapeou 1.250 pontos de recarga públicos. Desse total, 47% estão localizados no estado de São Paulo.

A estimativa é de que haja bem mais pontos de recarga espalhados pelo Brasil, além dos relacionados pela ABVE. No entanto, ainda não existe uma fonte única que centralize as quantidades e endereços de funcionamento dessas estações.

Segundo Pedro Betancourt, da GWM no Brasil, não há um planejamento centralizado para a construção desses pontos, e nem um consenso dentro da ANFAVEA ou da ABVE sobre como se poderia coordenar as ações de diferentes empresas.

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“De forma geral, as iniciativas não se conversam porque têm a ver com estratégias de marketing e vendas das empresas, e isso é confidencial”, explica o executivo.

Mas existem diversas parcerias entre montadoras e empresas que fornecem serviços de carregamento e de infraestrutura. Betancourt observa que a maioria das grandes montadoras já escolheu um parceiro (ou mais de um) que fornece ou fornecerá esses equipamentos de carregamento.

“O que motiva essas parcerias é a necessidade de oferecer um suporte para os clientes (no caso das montadoras) e a perspectiva de um mercado crescente (no caso de empresas que trabalham com o fornecimento de carga)”, diz.

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Um exemplo de parceria é o que a BMW estabeleceu com a ABRAVEI. Segundo Rogério Markievicz, a montadora doa equipamentos para a entidade e os associados fazem enquetes para decidir onde colocá-los. Quando identificam um bom local, os próprios associados procuram por algum comércio nas imediações que esteja disposto a receber o equipamento.

“Como é o estabelecimento quem doa a energia, o trabalho de nossos associados é convencer o dono do comércio de que isso é um bom negócio. Por causa do aumento de circulação que terá e, naturalmente, pela imagem de sustentabilidade”, diz.

Segundo Markievicz, essas iniciativas têm surtido bons resultados. Cada cliente que estaciona para recarregar fica, no mínimo, 40 minutos no ponto, o que é vantajoso para o local. “Em breve, devemos ganhar mais uns 10 carregadores da BMW”, afirma.

Outro exemplo é a união entre Zletric e a Ecovagas, empresa de recarga de carros do grupo Estapar. A fusão, que deverá ser concluída em breve, criará a maior empresa brasileira do segmento, com cerca de 500 pontos de recarga espalhados pelo país.

Para Pedro Schaan, futuro CEO da nova empresa, o momento é muito importante para que se aumente a rede de recargas. Segundo o executivo, é possível que o Brasil chegue até o final de 2022 com cerca de 100 mil carros eletrificados. Ainda é um número muito pequeno frente aos 44 milhões de carros a combustão, mas o crescimento dos elétricos tem sido exponencial de pouco tempo para cá.

“Todos precisam entender que, daqui para frente, os carros elétricos chegarão ao mercado com cada vez mais força. Se não investirmos pesadamente agora em recarga, até 2025 ou 2026 teremos um grande problema”, prevê Schaan.

Qual é a principal demanda?

Para o presidente da ABRAVEI, a principal demanda dos usuários hoje está na melhoria da rede de abastecimento nas estradas. Segundo Markievicz, normalmente, as montadoras e empresas de recarga querem instalar os pontos em locais de mais visibilidade, onde terão um consumidor imediato.

Dessa forma, os grandes centros urbanos acabam sendo sempre privilegiados, em detrimento das estradas. Nos pontos urbanos, as pessoas chegam em um shopping ou supermercado, por exemplo, conectam o veículo e podem deixá-lo carregando por duas horas ou mais. Porém, na estrada, o reabastecimento precisa ser feito de forma bem mais rápida, e esse é o principal gargalo hoje em termos de recarga.

“O mundo ideal seria ter pontos de recarga rápida nas rodovias a cada 120 km. Essa é a distância ideal para os pontos, até para que se possa ter um plano B. Caso o usuário não consiga parar em um, haverá outro próximo”, observa.

Outro aspecto importante em relação às estradas é o tempo. Os carregadores precisam ser mais potentes do que os disponíveis na cidade, pois o usuário terá menos tempo para carregar.

Segundo Pedro Schaan, as estações que recompõem a bateria em uma ou duas horas custam dezenas de milhares de reais, enquanto as mais rápidas ficam na casa de centenas de milhares de reais. “É por isso que ainda não resolvemos o problema de recarga nas estradas. Precisamos de muito mais investimentos, pois custa caro”, afirma.

Recentemente, a ABRAVEI se reuniu com a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) para pedir que os postos de assistência ao usuário nas rodovias disponibilizem pontos de recarga.

“Como esses postos contam com guinchos, ambulâncias e outros serviços de socorro, achamos importante que tenham também equipamentos para recarga”, observa Markievicz. Segundo o presidente da ABRAVEI, a proposta teve boa receptividade por parte da ABCR, mas o pedido ainda está sob avaliação do órgão.

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Perspectivas

Para Betancourt, há uma tendência no Brasil de acompanhar o movimento global da eletrificação da mobilidade. Empresas locais, pioneiras na área de distribuição de energia ou que queiram entrar no negócio do carregamento, estão se articulando para estabelecer parcerias que visam a instalação de redes de carregamento para fins comerciais.

De acordo com a ANFAVEA, a estimativa é de que 32% dos veículos novos a serem vendidos até 2035 tenham algum grau de eletrificação. Isso significa que, da frota circulante, 10% entre os novos e 18% na convergência global teriam essas novas tecnologias.

Conforme o mesmo estudo, esse cenário aponta a necessidade de 150 mil carregadores e R$ 14 bilhões de investimentos até 2035.

Segundo Pedro Schaan, o mercado de recarga no Brasil pode ser dividido em três ondas. A primeira foi conduzida pelas montadoras, que foram as pioneiras nos pontos de recarga e ajudaram a impulsionar o mercado de carros elétricos.

Já a segunda onda (atualmente em vigor) marca o ingresso de empresas, como a Zletric, neste mercado, que se organizam para assumir a maior parte dos investimentos. “Existem algumas iniciativas de concessionárias de energia, mas os investimentos públicos ainda são muito pulverizados. Por isso, o grande investimento nos pontos de recarga será, sem dúvida, privado”, afirma Schaan.

Por fim, a terceira onda acontecerá quando o mercado de elétricos estiver mais consolidado no Brasil. Nesta fase, segundo Schaan, haverá algumas empresas que atuarão, basicamente, como operadoras de celular, e o usuário terá um plano de assinatura de energia. Assim, o que ele gasta hoje de combustível será direcionado para a conta dessas operadoras.

“No futuro, o usuário deverá recarregar ao longo do dia, quando o carro estiver parado em casa ou no trabalho. Mas isso só acontecerá quando existir uma pluralidade de estações de recarga”, observa.

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