Expulsão de corretoras deve gerar insatisfação, mas IPO da VisaNet não será fracasso

Com grandes corretoras fora do processo, a preocupação recai sobre o bookbuilding, que será encerrado na próxima sessão

Giulia Santos Camillo

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SÃO PAULO – O último dia de reservas de ações do IPO (Initial Public Offer) mais esperado do ano trouxe uma surpresa negativa aos investidores pessoa física. Nesta manhã, a VisaNet publicou um comunicado ao mercado informando a exclusão de um grupo de 19 corretoras do processo de colocação das ações no mercado.
A decisão partiu da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) devido à “suposta veiculação, por tais corretoras, de material publicitário acerca da oferta não submetido à prévia aprovação” da autarquia.
Dessa forma, ABN Amro Real CCVM, Ágora, Alfa, Ativa, Bradesco, Coinvalores, Corretora Geral de Valores e Câmbio, Souza Barros, Elite, Fator, Finabank, Gradual, Hencorp Commcor, ICAP, Intra, Link, Solidus, Umuarama e Unibanco deixam de participar da oferta, unindo-se ao grupo de outras quatro instituições excluídas anteriormente: Banif, XP Investimentos, Senso e Geração Futuro.
Investidores prejudicados

A má notícia para os investidores não-institucionais é que, devido à decisão da CVM, aqueles que tiverem realizado pedidos de reserva junto a uma dessas instituições terão suas solicitações canceladas. A solução seria procurar outro participante da oferta e realizar novos pedidos.
Nesse sentido, há dois obstáculos a serem considerados. O primeiro é o tempo: se o prazo de reservas não for adiado, os investidores que não realizaram novos pedidos nesta quarta-feira não poderão mais fazer isso. O segundo é operacional, já que antes de realizar o novo pedido, o investidor deverá se cadastrar em uma outra corretora, que ainda está participando da oferta.
Fracasso é iminente?

Com a saída de grandes corretoras do processo de colocação das ações da oferta, a distribuição deve sofrer impactos expressivos. Contudo, nenhum deles deve levar a um fracasso da operação. “Eu acredito que prejudica essa parcela [investidores não-institucionais], mas ainda assim a emissão deve ser um sucesso”, estima Otávio Vieira, diretor de investimentos do Safdié Gestão de Patrimônio.
Ele explica que o maior público da emissão é composto por investidores institucionais, já que a oferta de varejo é limitada no máximo a 20% da emissão. O gestor Huang Kuo Seen, da Grau Gestão de Recursos, também cita o benefício dos investidores institucionais.
“Do ponto de vista da colocação, o efeito principal será reduzir a participação dos investidores pessoa física e não-institucionais na colocação, em benefício dos investidores institucionais”, explica, acrescentando que a situação também reduz ligeiramente a possibilidade de haver a colocação adicional embora ela ainda seja provável.
“Por outro lado a menor oferta junto aos investidores que ficaram de fora cria uma demanda adicional para o primeiro dia de negociação”, prevê Seen. Se o cronograma da oferta não for alterado, as ações devem estrear na BM&F Bovespa no próximo dia 29 de junho.
Preço por ação

Um outro impacto potencial pode ser na precificação das ações. Essa preocupação pode levar a um adiamento da oferta, conforme explicado por Vieira. “Pode ser que a empresa, por questões estratégicas, adie um pouco até que o bookbuilding possa ser readequado e tratado de maneira mais eficiente, porque saíram corretoras muito importantes dessa oferta”.
Contudo, essa decisão seria apenas estratégica e não necessária. Os rumores do mercado são de que a demanda supera em três vezes a oferta, além de ter uma procura expressiva de investidores estrangeiros. Dessa forma, a expulsão das corretoras não deve prejudicar profundamente a operação.
“Qualquer impacto negativo será mais visível no tamanho da oferta do que no preço de colocação”, argumenta o gestor da Grau, Huang Seen. Segundo ele, “dificilmente a oferta será considerada um fracasso, mas certamente ficará a insatisfação dos investidores que não conseguiram participar da colocação”.