Digital segura alunos, mas empresas de educação têm dificuldade em aumentar mensalidades

Sem conseguir elevar tíquete médio, educacionais devem conviver com um cenário desafiador em termos de rentabilidade em 2022

André Cabette Fábio

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Passados os piores momentos da pandemia, as empresas do setor de educação já observam melhoras nos indicadores operacionais, assim como uma tendência que veio para ficar: o ensino digital e à distância. Entretanto, isso não vem se refletindo totalmente em ganhos, já que as educacionais vêm obtendo dificuldade em elevar o tíquete médio do ensino digital em comparação com o presencial, trazendo desafio à rentabilidade  em 2022. 

Em seu balanço, a Ser Educacional ( SEER3) inclui uma rubrica além de digital ou presencial, de ensino “híbrido”. Em entrevista ao InfoMoney, Rodrigo Alves, diretor financeiro e de relação com investidores da empresa, afirmou que o segmento tem em média cerca de 60% do ensino presencial e o restante digital.

Ele acredita que o híbrido deve crescer neste ano, com a maior busca dos alunos por aulas em sala depois dos efeitos mais intensos da pandemia. Já na teleconferência de apresentação de resultados, Jânyo Diniz, CEO da Ser, afirmou que a empresa espera alta de 25,4% na captação de alunos do ensino híbrido.

“O nome da nossa filosofia acadêmica é ubíqua, que é a onipresencialidade, de aprender de qualquer lugar. Dentro dessa matriz curricular o aluno não tem separação clara entre online e presencial. As ferramentas mudaram e de fato começaram a ser integradas. Estamos instalando câmeras na sala de aula, de forma que quem opte possa assistir à aula de casa. Isso é completamente híbrido, e é nisso que acreditamos”, afirmou Alves ao InfoMoney.

No final do quarto trimestre de 2021, o ensino híbrido da Ser Educacional recuou, no entanto, 1,4% em comparação com o mesmo período de 2020. No balanço, a Ser disse estar investindo em aumentar sua base de alunos do ensino híbrido, com foco especialmente na área de saúde, e afirmou que a captação subiu 22,5% no segundo semestre e os índices de evasão recuaram a níveis anteriores aos da pandemia.

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A base de alunos do grupo chegou a 223,6 mil, alta de 16,8% em um ano, o que a empresa atribuiu ao aumento do segmento digital e às compras de Unesc, Unifasb e do CDMV (Centro de Desenvolvimento de Medicina Veterinária). O ensino digital teve alta de 63%, a 87,7 mil alunos.

No presencial, a Ser informou apenas o desempenho da pós-graduação, com queda de 68,3% frente ao final de 2020, com 1.400 alunos. A Ser atribuiu a variação negativa aos efeitos da pandemia de Covid 19 e à migração para o digital. 

A companhia afirmou que houve recomposição do valor da mensalidade, sem especificar o modelo de ensino, um dos fatores que teriam impulsionado a receita bruta, que avançou 15%, a R$ 2,804 bilhões. Mas não detalhou a variação do tíquete médio.

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Em teleconferência logo após a divulgação dos resultados, Alves afirmou que a queda de captação no ensino digital não preocupa, já que a companhia espera um ano de crescimento especialmente do híbrido. E avaliou que, quando o mercado compete muito com queda de preços, há maior risco de inadimplência e evasão. 

Em sua entrevista ao Infomoney, ele afirmou que a empesa vem repassando custos em linha com a inflação, por acreditar que há uma demanda reprimida por educação no Brasil. “Todo mundo quer educação de qualidade, e outras coisas aumentaram, como aluguel e energia elétrica”, afirmou.

Na teleconferência, ele afirmou que houve alta de 9% nos repasses para calouros e veteranos. Mas disse que o nível de descontos para novos alunos deve ser mantido. 

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Cogna

Em seu balanço, a Cogna apontou queda de 18,7% no número de alunos de graduação do presencial no final do quarto trimestre de 2021 frente ao mesmo período de 2020, a 186.642. O número de alunos do digital, por outro lado, subiu 14,2% no período, a 617.502. Na pós-graduação, houve queda de 83,9% em alunos do ensino presencial, a 609. E alta de 25,9% no digital, a 55.791.

Entre o segundo semestre de 2020 e o mesmo período de 2021, houve queda de 9% no tíquete médio da Cogna. A redução foi maior no ensino presencial, de 23,4%, enquanto que houve alta de 14,3% no ensino a distância. 

A companhia de educação, que conta com marcas como Kroton e Vasta, reportou prejuízo ajustado de R$ 74,945 milhões no quarto trimestre de 2021 (4T21), uma diminuição de 87,3% com relação ao prejuízo computado no 4T20, de R$ 589,232 milhões.

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Em teleconferência de apresentação de resultados da Cogna no dia 25 de março e de saída do cargo de CEO, Rodrigo Galindo afirmou que, para a Kroton, a empresa vê “alguma oportunidade” de crescimento na rentabilidade em 2022; alta da captação de alunos no presencial e no EAD; alta na base de alunos, com queda menor do presencial e tendência de crescimento no digital e no híbrido; com potencial de crescimento no KrotonMed.

Na teleconferência do dia 25 de março, Frederico da Cunha, CFO da Cogna, afirmou que a geração de caixa operacional vem se beneficiando da redução da provisão de devedores duvidosos (PDD). Ele disse que, diariamente, a empresa monitora a adimplência, e que, com a melhora, a PDD deve vir mais baixa, recorrentemente. Nos dois primeiros meses de 2022, a empresa vem mantendo adimplência, impulsionado a geração de caixa, afirmou.

Galindo disse ainda que a empresa sofisticou os processos de faturamento, acompanhamento e cobrança de alunos ativos e inativos, com uma política de renovação mais criteriosa e a prática de identificar, rapidamente, o engajamento do aluno, de forma a excluir o aluno da régua de faturamento, garantindo uma adimplência maior.

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Yduqs

Na Yduqs, a base total de alunos avançou 63,1% entre o quarto trimestre de 2021 e o mesmo período de 2020, a 1,243 milhão. Na última linha do balanço, a Yduqs registrou prejuízo 27,6% menor no 4º trimestre.

O resultado foi impulsionado pelo ensino digital, que teve alta de 120,5%, a 432,7 mil alunos na mesma base de comparação, mas com o menor aumento no tíquete médio, de 1,5%. O ensino presencial, por outro lado, recuou 12,8%, com alta de 9% no tíquete médio. 

A empresa informa ainda em seu balanço a subdivisão “premium”, formada por alunos de medicina e do IBMEC, com cursos da área de humanas. Neste caso, houve alta de 5,5%, e o maior avanço no tíquete médio, de 27%.

Em teleconferência com analistas no dia 16 de março, o CEO da YDUQS, Eduardo Parente, afirmou que a empresa vê 2022 como um “novo 2020”. Ou seja, um ano em que se espera um bom ritmo de crescimento, como era o observado até o início da pandemia.

Em 2022, a companhia espera alta de 50% a mais de 60% na captação de alunos no ensino digital, de 10% a 20% no premium e de 30% a 50% no presencial.

Parente ponderou, no entanto, que pode haver queda de 5% a 10% no tíquete médio do digital e de até 5% no presencial, o que pode ocorrer porque a empresa tem como estratégia oferecer descontos nos primeiros semestres. Assim, com o grande ingresso de novos alunos, o desembolso médio pode cair. 

Segundo ele, quando a empresa lançou o ensino semipresencial, houve quem alertasse que esta modalidade “canibalizaria” o presencial. Mas na verdade o efeito maior foi sobre o ensino a distância.

“Muita gente que não tinha os seus R$ 700 para o presencial ia direto para os R$ 150, R$ 200 do EAD, mas agora tem essa camada intermediária de R$ 350 ou R$ 400”, afirmou.

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Cruzeiro do Sul

A Cruzeiro do Sul apontou queda de 4,1% na base de alunos do presencial entre o final do quarto trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021, a 136 mil, com alta de 1,2% no tíquete médio. Houve alta de 12,5% na base de alunos do ensino a distância, e queda de 4,5% no tíquete médio.

Em teleconferência com analistas no dia 31 de março, Wilson Diniz, diretor de marketing da Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3), afirmou que a empresa vê no primeiro trimestre de 2022 uma boa expansão de tíquete no presencial, em especial de calouros, com valor acima do ano anterior. 

Também disse que a empresa opera com um desconto menor no presencial na captação. Ele afirmou que a competição no EAD é mais agressiva, mas que foi possível manter um tíquete 7% a 8% maior do que no ano passado. Segundo Diniz, a empresa vem focando em um portfólio maior, com maior presencialidade em cursos premium que têm maior tíquete, valor agregado e evasão. Isso a manter o tíquete mais alto. 

Há um aumento no presencial, que volta a ocupar espaço, e a evasão está em linha com o nível anterior à pandemia, afirmou.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney