Ação da Cogna (COGN3) fecha em disparada de 19,48% com reestruturação dando frutos, mas por que analistas seguem cautelosos com papel?

Resultado positivo impulsiona inclusive ações de outras empresas do setor, como Yduqs, mas analistas seguem esperando mais para ver

Lara Rizério André Cabette Fábio

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Na sequência de uma queda do prejuízo ajustado e com a reestruturação dando frutos, os papéis da Cogna (COGN3) lideram os ganhos do Ibovespa. A ação chegou a subir mais de 10% na manhã desta sexta-feira (25), foi acelerando ainda mais a valorização e, na reta final do pregão, saltava cerca de 20%. Os ativos fecharam com alta de 19,48%, a R$ 2,76, puxando outras do setor, como a Yduqs (YDUQ3), que subiu 9,05%, a R$ 20,97.

A companhia de educação, que conta com marcas como Kroton e Vasta, reportou prejuízo ajustado de R$ 74,945 milhões no quarto trimestre de 2021 (4T21), uma diminuição de 87,3% com relação ao prejuízo computado no 4T20, de R$ 589,232 milhões.

Analistas da XP avaliam que a Cogna apresentou resultados ligeiramente positivos no 4T21, com receitas caindo 5,6% na base anual (em linha com a estimativa), margem Ebitda (ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, Ebitda, sobre receita líquida) ajustada em 27,3% (em linha com a estimativa) e prejuízo líquido ajustado abaixo, uma vez que a estimativa da casa era de perdas de R$ 105 milhões.

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O destaque positivo foi a Vasta, com receitas crescendo 16% na base anual. A empresa também apresentou um guidance de receita para o 1T22, de R$ 370 milhões (alta de 32% na base anual), o que deve manter a margem Ebitda ajustada no patamar de “30% altos”, na visão dos analistas.

O desempenho da receita da Kroton foi decepcionante, como esperado, mas a recuperação da margem Ebitda ajustada com o processo de reestruturação é uma boa notícia e, ao ver da XP, mostra um cenário mais construtivo para a empresa daqui para frente.

O Morgan Stanley também destacou que as margens da Cogna estão melhorando mais do que o esperado, uma vez que as despesas gerais e administrativas melhoraram após a reestruturação do ano passado.

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Para a Levante Ideias de Investimentos, após um 2020 repleto de dificuldades para as empresas do setor, a empresa fez a “lição de casa”, redefinindo suas estratégias, remodelando sua estrutura de custos e investindo em negócios com
grande potencial de crescimento.

Uma dessas vertentes, o ensino digital, vem trimestre após trimestre apresentando aumentos gradativos na base de alunos e receita.

Ainda no segmento de graduação, a companhia apresentará nos resultados do primeiro trimestre de 2022 mais detalhes, dados operacionais e financeiros da KrotonMed, o segmento premium da empresa que atualmente conta com sete unidades com o curso de medicina já em operação.

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Outro fator empolgante da empresa, destaca a Levante, foi a conclusão da aquisição da plataforma de ensino Eleva em
meados de outubro de 2021, reforçando a estratégia em asset light, com maior potencial de crescimento e maior retorno de capital investido (ROIC).

“Acreditamos que a companhia teve êxito nas transformações organizacionais e financeiras de um ano para cá e demonstra através de seus números que está mais preparada para os desafios impostos pelo setor e a economia”, apontam.

Em teleconferência de apresentação de resultados da Cogna e de saída do cargo de CEO, Rodrigo Galindo afirmou que, para a Kroton, a empresa vê “alguma oportunidade” de crescimento na rentabilidade em 2022; alta da captação de alunos no presencial e no EAD; alta na base de alunos, com queda menor do presencial e tendência de crescimento no digital e no híbrido; com potencial de crescimento no KrotonMed.

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Para a Vasta em 2022, espera “forte crescimento de receita”; forte crescimento de Ebitda recorrente; forte alta de geração de caixa operacional pós capex, além de lançamento de novos produtos.

Já Frederico da Cunha, CFO da Cogna, afirmou que a geração de caixa operacional vem se beneficiando da redução da provisão de devedores duvidosos (PDD). Ele disse que, diariamente, a empresa monitora a adimplência, e que, com a melhora, a PDD deve vir mais baixa, recorrentemente. Nos dois primeiros meses de 2022, a empresa vem mantendo adimplência, impulsionado a geração de caixa, afirmou.

Galindo disse ainda que a empresa sofisticou os processos de faturamento, acompanhamento e cobrança de alunos ativos e inativos, com uma política de renovação mais criteriosa e a prática de identificar, rapidamente, o engajamento do aluno, de forma a excluir o aluno da régua de faturamento, garantindo uma adimplência maior.

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Base de alunos em destaque

Por outro lado, cita a Levante, em termos operacionais, a base de alunos de graduação presencial continua sendo o “tendão de Aquiles”, encerrando o trimestre com cerca de 187 mil alunos, queda de 18,7% em relação ao 4T20.

É válido mencionar que a redução de alunos está ligada também ao fato da diminuição de campus seguindo o plano da companhia de otimização de custos. Já a base de alunos de graduação digital (EaD) amenizou a queda do presencial e cresceu 63%, em um processo de expansão de novos polos e unidades pela companhia. Com isso, a base de alunos de graduação aumentou 4,4% na comparação anual e levemente inferior ao 3T21 em 8,8%. Na unidade de negócio de pós-graduação, a companhia conseguiu aumentar a base de alunos em 17,3% trimestre contra trimestre.

O Morgan Stanley, por sua vez, ressalta que a receita ainda está em queda devido à migração para EAD e o lucro por ação (EPS, na sigla em inglês) continua pressionado pelos custos financeiros.

Já o Credit Suisse avaliou que a receita líquida e o Ebitda ficaram acima das suas expectativas, mas ainda abaixo dos números históricos.

Em geral, a empresa melhorou sua gestão de caixa durante 2021, mas ainda é afetada negativamente pela redução de alunos presenciais, estagnação de tíquetes e menor crescimento do EAD em relação aos pares, apontam os analistas.

Assim, no consolidado do ano passado, a empresa entregou um prejuízo líquido, ainda que com fluxo de caixa operacional positivo pós investimentos em capital.

Neste contexto, a base de alunos presenciais caiu, enquanto a base de EAD cresceu 14% na comparação anual (abaixo de Yduqs, que cresceu seu EAD em cerca de 30%). O efeito positivo veio dos sistemas de ensino fundamental (Vasta), que concluíram a aquisição do Eleva Learning System e aumentaram a base de alunos em 15% ao ano.

“Permanecemos cautelosos com o case, pois a empresa precisará de consistência na entrada de alunos, evasão e tíquetes por muitos trimestres para recuperar adequadamente a escala. Os cenários macroeconômicos pressionados aumentam a incerteza sobre os fluxos de caixa futuros”, aponta o Credit. Assim, na visão dos analistas do banco, tanto a dinâmica dos tíquetes quanto a lenta recuperação de sua base de alunos podem limitar os catalisadores de curto prazo.

Em teleconferência, o CEO da Cogna afirmou que a empresa espera aumento de captação de dois dígitos. Ele disse que vê crescimento de 32% na receita da Vasta no primeiro trimestre, com aumento considerável de margem e caixa frente ao ciclo comercial anterior. Na Kroton, diz que há pressão após a reestruturação, mas que o digital está crescendo, o que pode levar a aumento da rentabilidade.

A aposta, nesse cenário, continua sendo o ensino híbrido. Roberto Valério, diretor-presidente do braço Kroton, afirmou que este modelo de ensino, entre presencial e a distância, é “a alternativa perfeita” ao presencial, quando o aluno não pode comprar este modelo, com custos 20% a 30% menores. Valério está assumindo como CEO da Cogna.

O curso de enfermagem híbrido, por exemplo, tem 70% de presencialidade, mas com custo menor, afirmou. Ele disse que, quando há muitos alunos por turma, é mais rentável para a empresa ter turmas presenciais. Mas em turmas menores, o híbrido é mais vantajoso para a empresa. Na média, o híbrido é mais vantajoso na economia atual, marcada por turmas menores, e também mais vantajoso para alunos pelo custo menor e para a empresa, pela rentabilidade maior.

Recomendações seguem cautelosas

O Credit Suisse reitera recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para Cogna, com preço-alvo de R$ 2,30, um centavo abaixo do fechamento do papel na véspera. Na mesma linha, o Morgan tem recomendação underweight (desempenho abaixo da média do mercado) para os ativos, com igual preço-alvo do Credit.

O Bradesco BBI também tem recomendação equivalente à venda para os ativos, com preço-alvo de R$ 2,10, ou uma queda de 9% em relação ao fechamento da véspera.

Para eles, os números apresentados pela empresa foram mistos, com um prejuízo líquido maior ao esperado, atingido por altas despesas não-recorrentes e nível potencialmente não-recorrente de inadimplência na Kroton, dada a reversão em recebíveis. Já o Ebitda ajustado ficou 8% acima do esperado pela casa, devido à menor provisão de dívidas na Kroton.

“Mantivemos nossa recomendação de venda na avaliação, com os fundamentos de crescimento de receitas fracos no
negócio principal de educação superior e as perspectivas desafiadoras de lucros para 2022”, avaliam.

Já a XP possui recomendação neutra para a ação, ainda que com um preço-alvo de R$ 5,10, o que configura um expressivo potencial de valorização de 121% em relação ao fechamento da véspera. “Independentemente dos resultados do 4T21, reiteramos nossa visão neutra sobre as ações devido à incerteza ainda elevada em relação aos lucros de curto prazo”.

Assim, a Cogna conseguiu fazer a “lição de casa”, mostrando os frutos da reestruturação, mas analistas ainda seguem bastante cautelosos com o case.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.