Petróleo e minério: quais variáveis ficar de olho em meio à alta dos preços das commodities neste começo de ano?

Brent atingiu US$ 90 esta quarta-feira, com fatores geopolíticos no radar; investidores em minério seguirão de olho na China

Lara Rizério

(Getty Images)
(Getty Images)

Publicidade

O começo de 2022 tem sido positivo para as ações das commodities, com o movimento de rotação nas últimas semanas com a saída dos investidores de setores de crescimento, como de tecnologia, e de volta aos setores de valor.

As preocupações com a oferta vêm impulsionando os preços do minério de ferro, que se recuperaram este mês com os esforços da China de flexibilização monetária para sustentar sua economia em desaceleração. O minério à vista com pureza de 62% negociado em Qingado voltou a ser negociado na casa dos US$ 138 a tonelada, após iniciar o ano a US$ 119.

Já o petróleo vem constantemente renovando máximas, com o tipo brent, referência para a Petrobras (PETR3;PETR4) superando os US$ 90 o barril nesta quarta-feira (26) pela primeira vez desde 2014.  A tensão geopolítica entre Rússia e Ucrânia sendo o grande catalisador recente para a commodity, mas há outros catalisadores no radar.

Alguns fatores estão sendo monitorados de perto para entender quais são os eventos que devem mexer com o mercado no curto prazo para essas duas commodities. Confira abaixo os principais:

Petróleo: revisões para cima 

Em relatório do final da semana passada, o Bradesco BBI apontou que há quatro variáveis-chave de oferta que devem ser observadas ao longo do ano e que poderiam levar a mudanças significativas nos preços do petróleo.

A primeira delas é o debate sobre a produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), que vem lutando para elevar a produção mensalmente em 400 mil barris por dia. Os integrantes da organização, em média, aponta a equipe de análise do banco, só conseguiram elevar a produção em cerca de 200 mil barris. Os principais “culpados” são Angola e Nigéria, que vêm tendo declínios acentuados de produção, enquanto a Rússia está um pouco abaixo das cotas.

Continua depois da publicidade

“Se a Opep+ não conseguir aumentar o ritmo de sua produção de 200 mil barris por dia ao mês para 400 mil barris por dia ao mês, o impacto em nossas estimativas de preço médio do petróleo para 2022 seria de alta de US$ 2 por barril”, avaliam os analistas. Para eles será fundamental observar como as cotas são reorganizadas nas próximas reuniões e como os sauditas e os Emirados Árabes Unidos vão agir para preenchimento das cotas de mercado e compensação da perda de produção da Nigéria e de Angola no passado.

Leia também: Confira o calendário de resultados do 4º trimestre de 2021 da bolsa brasileira

Outro ponto seria o levantamento das sanções iranianas. Ainda sem muito alarde esse ano, um possível acordo entre EUA e Irã poderia trazer rapidamente cerca de 1 a 2 milhões de barris por dia de volta ao mercado.

Continua depois da publicidade

“Acreditamos que o silêncio de ambos os lados sobre o assunto levou o mercado a ver menores chances de um acordo. No entanto, a preocupação da presidência americana com os altos preços do petróleo pode levar os EUA à mesa de negociações. Se nenhum acordo for alcançado, o impacto em nossas estimativas de preço médio do petróleo para 2022 seria de alta de US$ 4 o barril”, avaliam.

Em terceiro lugar, estão os eventos geopolíticos desencadeados como na Líbia e Cazaquistão, que abalaram o mercado no começo do ano e por enquanto não estão mais impacto a commodity, mas sempre devem ser monitorados. “No final do ano passado, os dois países foram atingidos por protestos políticos que levaram 400 mil barris por dia em produção da Líbia e cerca de 100 mil barris por dia do Cazaquistão. Os níveis de produção, no entanto, já se recuperaram”, destacam.

O quarto ponto é o que mais tem afetado os preços da commodity nas últimas semanas: a tensão entre Ucrânia e Rússia.

Continua depois da publicidade

“A Rússia tem aumentado a atividade militar na região. Dadas as tensões no passado recente, a escalada de eventos pode danificar a infraestrutura para a distribuição do petróleo, especialmente no Sul. O oleoduto Druzhba no sul da Ucrânia transporta cerca de 250 mil barris por dia. Se tivéssemos interrupções deste oleoduto ao longo de todo o ano, o impacto em nossas estimativas de preço médio do petróleo para 2022 seria de US$ 1”, destacam. Eles reforçam que, se as interrupções forem superiores a 250 mil, expandindo para outros oleodutos na Ucrânia, o impacto poderia ser ainda maior.

Para o BBI, a demanda pela commodity já havia encerrado 2021 em um nível que justificaria os preços do petróleo em média a US$ 75 o barril, acima da sua estimativa atual de US$ 68.

“Os preços atuais parecem estar levando em consideração outros desenvolvimentos fundamentais importantes, como o atraso do aumento da produção da Opep+, juntamente com nenhum acordo iraniano e alguns eventos geopolíticos. Se a Opep+ conseguir reverter sua situação de abastecimento e um acordo for assinado com o Irã, acreditamos que os preços do petróleo podem recuar para por volta de US$ 75”, avaliaram os analistas.

Continua depois da publicidade

Enquanto isso, outras casas de análise têm revisado constantemente suas projeções para cima. Recentemente, a equipe de análise do Credit Suisse revisou as previsões de preços para 2022 do brent para US$ 75 (ante US$ 69) e do WTI para US$ 72. Os analistas apontam ainda que, com o aumento das tensões geopolíticas, o risco nos preços é para cima.

A equipe de análise destaca que o estoque de petróleo dos EUA está cerca de 14,3% abaixo do nível ano passado e 8,3% abaixo da média de 5 anos. Assim, estima que o mercado global de petróleo foi subabastecido em cerca de 1 milhão de barris por dia no quarto trimestre de 2021 e permanecerá subabastecido em cerca de 0,5 milhão de barris no primeiro semestre de 2022, sustentando assim preços mais altos no curto prazo.

“Embora a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) acredite que os mercados serão superabastecidos em 2022, nossos analistas projetam o mercado como modestamente subabastecido (cerca de 400 mil barris por dia de suboferta em 2022)”, apontam os analistas do Credit.

Continua depois da publicidade

Análises das últimas semanas têm destacado que o barril de petróleo a US$ 100 tem sido apenas uma questão de tempo para virar realidade. Na semana passada, o Goldman Sachs havia projetado que o barril deveria atingir US$ 100 no terceiro trimestre devido ao consumo acima do esperado. Esse patamar de preço intensificaria a já considerável pressão inflacionária na economia global e os problemas enfrentados por bancos centrais e governos. No final da semana passada, o Morgan Stanley juntou-se ao Goldman Sachs na previsão de petróleo a um valor de três dígitos no final deste ano.

Já o Citigroup alertou que manter uma visão altista pode ser perigosa após este trimestre, prevendo que o mercado global de petróleo entrará em um superávit estrutural nos próximos sete trimestres, com a projeção de que a demanda caia ou permaneça estável no segundo trimestre. As interrupções inesperadas também diminuíram, avaliaram os analistas.

Minério: próximas oito semanas da China sendo monitoradas

De uma forma mais discreta, o minério de ferro também registra ganhos no ano, passando de US$ 119 nos primeiros dias de janeiro para US$ 138 ao final deste mês, um avanço de mais de 15%.

Porém, apesar da alta recente, em relatório, o UBS apontou estar cauteloso com os preços do minério de ferro. Isso porque projeta que a demanda se enfraqueça e que a oferta suba ao longo do ano.

Para os analistas do banco, três eventos devem ser monitorados pelos investidores nas próximas oito semanas.

O primeiro ponto é o Ano Novo Chinês, que ocorre entre 31 de janeiro e 6 de fevereiro. Como os trabalhadores imigrantes podem voltar às suas casas durante essas datas, a atividade de construção tende a se moderar, especialmente durante as festas.

Leia também: BNDES quer zerar carteira de ações do banco, afirma presidente Montezano

Por outro lado, a expectativa dos analistas é de que esse movimento impulsione um aumento sazonal no estoque de aço, produzido a partir do minério de ferro, não um colapso no produção dele.

“Esperamos que as campanhas Blue Sky (de redução de poluentes na capital da China) restrinjam a produção de aço no primeiro trimestre. No entanto, se os spreads forem saudáveis, a produção de aço deve aumentar em outros lugares na China, então o impacto no minério de ferro provavelmente será limitado”.

Os próximos dois eventos são a Olimpíada de Inverno, entre 4 e 20 de fevereiro, Paralimpíadas (entre 4 e 13 de março) e também os eventos de “Duas Sessões”, como é conhecida a reunião Congresso Nacional do Povo e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, entre 4 e 11 de março.

As operações das siderúrgicas devem permanecer reduzidas ao longo de fevereiro para melhorar a qualidade do ar durante os Jogos de Pequim. Além disso, para os analistas, o Congresso Nacional do Povo deve ser acompanhado pois é lá que o governo destacará suas prioridades e planos para 2022.

A produção de aço bruto subiu 20% no comparativo entre dezembro e novembro de 2021. Dados da Associação de Ferro e Aço da China (CISA) apontam, contudo, ser provável que no mês de janeiro a produção seja moderada, porque os estoques estão cheios, avalia o UBS.

Na semana passada, o Bank of America destacou projetar queda para o minério nos próximos dois anos, vendo os mercado de minério de ferro começando 2022 com superávit, depois de “vários anos de aperto”. Assim, reforçaram recomendação equivalente à neutra para os ativos da Vale (VALE3).

“Vemos o minério de ferro caindo para US$ 91 a tonelada em 2022 e ficando entre US$ 75 e US$ 80 a tonelada em 2023 e 2024, enquanto hoje está em US$ 127. É improvável que a ação tenha um desempenho superior neste contexto”, apontaram.

(com informações da Reuters e da Bloomberg)

Procurando uma boa oportunidade de compra? Estrategista da XP revela 6 ações baratas para comprar hoje.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.