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Há uma mudança em curso nas perspectivas de liquidez global, que se iniciou ainda em novembro com o anúncio do Federal Reserve acerca de suas intenções de reduzir o ritmo de aquisições de títulos, intensificada em dezembro quando seu Comitê de Política Monetária (FOMC) sinalizou redução ainda mais intensa, além de aumentos para a taxa básica de juros nos EUA ao longo do ano que vem.
A nova postura, que se baseia na percepção da inflação não mais como fenômeno majoritariamente transitório, levou ao reapreçamento das probabilidades da elevação da meta para a taxa de juros de curto prazo (a Fed Funds).
Como se observa no gráfico abaixo (cortesia do CME Group), a probabilidade de um aumento da Fed Funds em março, de 0,00%-0,25% para 0,25-0,50% ao ano, antes irrisória, se tornou o resultado mais provável, ainda que por margem relativamente estreita (56% contra 42% pela manutenção).
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Alinhadas a isto, as taxas de juros futuros sofreram alteração visível, conforme ilustrado a seguir. A taxa de juros para aplicação por um ano, que se encontravam na faixa de 0,10% ao ano até o começo de outubro se acham hoje na vizinhança de 0,30%. Já as taxas para aplicação de 1 a 2 anos (no gráfico apelidadas de FRA) saltaram de 0,40% para cerca de 1,10% ao ano, enquanto as taxas de 2 a 3 anos (FRA de 2 a 3 anos) também subiram significativamente, de algo como 0,70% para 1,20% ao ano.
Não falamos, é bem verdade, de um abalo sísmico nas condições financeiras, mas de um relativamente lento, portanto longo, processo de normalização de taxas de juros. A taxa de 10 anos, a grande referência do mercado de renda fixa, muito embora tenha se ajustado para cima no mesmo período (bem menos do que as demais taxas, note-se), ainda se encontra em patamares inferiores aos observados antes da pandemia (ao redor de 1,80% naquele momento).
Mesmo em magnitude modesta, a redução de liquidez e reapreçamento das taxas de juros têm efeitos consideráveis sobre fluxos financeiros globais e, em decorrência disto, também para o Brasil. Parcela do fortalecimento recente do dólar frente ao real, por exemplo, pode ser atribuída a este fenômeno, não só pelo mecanismo usual, o diferencial entre as taxas de juros domésticas e internacionais, mas também pela redução do apetite por risco que normalmente se segue à elevação (esperada) das taxas americanas.
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Fato é que, frente às mudanças das condições internacionais de liquidez, a janela de oportunidade da qual dispúnhamos para pôr a casa em ordem parece estar se fechando mais rápido do que se esperava. Ainda fora das cartas, mas certamente dentro do reino das possibilidades, há o risco de novas revisões acerca da política monetária norte-americana caso a inflação se mostre ainda mais resiliente do que parece ser neste exato momento. Se for este o caso, o fechamento será ainda mais célere.
Não me parece que estamos preparados para a tormenta, mesmo que a atual não se compare às borrascas mais sérias que vimos seja em 2008-09, seja no começo de 2020.
As contas públicas permanecem fragilizadas. Engane-se quem quiser acerca da melhora observada neste ano, que, como argumentei há pouco, reflete em larga medida o efeito da inflação, tanto na corrosão do valor das despesas, como da própria dívida pública.
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Conforme notado, despesas corroídas por inflação anormalmente alta tendem dar rebote no ano seguinte, por força dos mecanismos de indexação, ainda mais agora com a elevação do teto de gastos, que evita os movimentos de compensação, cruciais no período pós-2016. Não é por outro motivo que a previsão de déficit primário para 2022 que constava da lei orçamentária (R$ 50 bilhões, ou cerca de 0,5% do PIB) já foi revisada para perto de R$ 80 bilhões (0,8% do PIB) no substitutivo há pouco aprovado.
Mais importante que isto, porém, o ano eleitoral não apenas sugere que as reformas fiscais seguirão ausentes da pauta, mas também não indica a prevalência de qualquer grupo político que tenha um mínimo de interesse no tema, muito menos competência para lidar com ele.
“Quando a maré baixa descobrimos quem estava nadando pelado”, na avaliação precisa de Warren Buffet. A maré já começou a mudar e adivinhem quem ainda está nadando pelado?
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