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Nos últimos dias, viajei por algumas capitais do Brasil com Caio Megale, meu amigo e economista-chefe da XP, para falar com clientes e parceiros sobre os desafios de 2022 para pequenas e medias empresas. Foi uma experiência bem interessante, na qual pudemos expor nossa visão sobre um ano tão importante.
É certo que de quatro em quatro anos, o discurso se repete. Ano eleitoral é tempo de volatilidade e incertezas. Contudo, o que chama a atenção em 2022 é a crise sanitária pela qual passamos, que trouxe um período de fortes estímulos a economia global e local nos últimos dois anos. Tais estímulos fragilizaram nossas contas públicas, que já tinham pouquíssima margem de manobra.
Mundo afora, a inflação veio forte. Nos Estados Unidos, carros usados apreciaram cerca de inéditos 40%, só para se ter uma ideia. No Brasil também sofremos. O diferente aqui na nossa terra, apesar de vermos preços de commodities valorizados, foi não termos um reflexo imediato no câmbio como em outros tempos, fruto talvez da desconfiança do mercado com relação a nossa austeridade fiscal. Câmbio depreciado não ajuda muito no controle inflacionário, como bem sabemos. Nosso Banco Central agiu antes de boa parte dos Bancos Centrais mundo afora e acelerou o aumento da taxa básica. Juros altos significam desaceleração. O PIB ano que vem tende a aterrissar.
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2023 parece menos previsível do que outros tempos. Pessoalmente, entretanto, acho que estamos acumulando experiência em processos eleitorais desde a redemocratização. Pleito após pleito, parece que, do ponto de vista de políticas públicas, não há muito como se escapar do binômio de geração de emprego e renda para se garantir a governabilidade. Portanto, é razoável se esperar uma certa continuidade em termos de políticas macroeconômicas, seja qual for a chapa vitoriosa em eleições executivas nacionais.
Dito isso, a pergunta que fica é: com um cenário de incerteza política, econômica e também sanitária, o que executivos e empresários deveriam fazer nessa virada de ano?
Em primeiro lugar, recomendamos cautela. Até porque cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Aforismos a parte, a cautela se faz necessária em primeiro lugar porque essa incerteza ainda vem embebida de uma crise sanitária que não acabou — e como infectologista que não sou, desisti de tentar fazer qualquer previsão a respeito da pandemia.
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Aprendi nesta lamentável crise que o melhor a fazer é se precaver. Inclusive na gestão dos negócios. Dito isso, evitar nesse primeiro momento fazer investimentos exaustivos parece a melhor decisão. E, principalmente, preservar o caixa.
O próximo ano deve apresentar persistência inflacionaria e maior dificuldade de repasse de margens. Assim sendo, reforço a maior necessidade de preservação de caixa e capital de giro. Preservar o caixa nos primeiros meses do ano, observar o cenário, manter os investimentos que deram certo durante a fase mais aguda da pandemia e que provavelmente trouxeram mais produtividade aos negócios parece ser o mais sensato nesse momento.
Com o decorrer do ano, a neblina vai ficar menos espessa. O cenário vai clarear aos poucos. Oportunidades devem aparecer. Aquelas empresas mais fortes financeiramente terão melhores oportunidades de compras, seja de insumos, seja até mesmo de concorrentes fragilizados, que não tiveram a coragem de tomar medidas preventivas mais duras e ficarão mais vulneráveis ao longo do caminho.
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Apesar do tom, termino com uma mensagem de otimismo. Tempos difíceis são tempos de oportunidades. Tempos em que os mais eficientes, resilientes e corajosos se sobressaem. Inspirado em Steve Jobs, penso que administrar é a arte de dizer mais não do que sim. 2022 será o ano de exercitar essa máxima.