Inflação vai demandar austeridade

Os preços altos vão exigir mudanças nos planos dos brasileiros até o final do ano, incluindo consumo comedido na Black Friday, no Natal e na festa da virada do ano

Eli Borochovicius

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(AndreyPopov/Getty Images)
(AndreyPopov/Getty Images)

Publicidade

O momento financeiro para as famílias brasileiras é de austeridade, já que os preços dos produtos parecem exorbitantes.

A projeção anual para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – índice oficial do Governo Federal para medição das metas inflacionárias – foi elevada pela 27ª vez na perspectiva do mercado e o índice acumulou em setembro desse ano 6,9%, passando dos dois dígitos no acumulado dos últimos 12 meses, com 10,25%.

Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, o índice era de 1,34%. Nos últimos 15 anos, só não foi maior que os 7,64% registrados em setembro de 2015, período de crise.

Continua depois da publicidade

Apesar de a moeda americana ter sofrido uma leve queda em função da intervenção do Banco Central swapando US$ 500 milhões em contratos, o câmbio ainda pode ser considerado alto, fazendo com que exportadores privilegiem o atendimento ao mercado internacional, desabastecendo e inflacionando o mercado interno.

Com o dólar alto, sobem os preços das commodities negociadas no mercado internacional e, como são matérias-primas para uma série de produtos, há aumento de preços no mercado alimentício.

Com a seca, a produção no campo foi impactada e a oferta ficou reduzida, outro fator a ser considerado no processo inflacionário.

Continua depois da publicidade

A gasolina, cotada em dólar, sofreu aumento de preço e então os produtores de açúcar enxergaram a oportunidade de abastecerem o mercado de combustíveis com o etanol mais caro. A consequência disso, além do aumento do preço do combustível, é a escassez do açúcar no mercado e a elevação do seu preço.

Sobe-se o preço da gasolina, sobe também o preço do gás. Os aumentos não param por aí, afinal, os plásticos, utilizados nas embalagens são derivados do petróleo. Aumentam os preços das embalagens dos produtos e aumentam também os valores dos fretes.

O consumidor passa a sentir o peso no bolso e, sem educação financeira, se endividar com taxas de juros altas, já que aumenta a inadimplência e a taxa básica de juros com o intuito de conter a inflação.

Continua depois da publicidade

Além disso, como o país não investiu em infraestrutura energética, mesmo depois da recente crise, as termelétricas precisaram mais uma vez ser acionadas e o preço da energia subiu.

No final do mês de novembro, teremos a famosa Black Friday, que pode animar muitos consumidores a gastarem o seu 13º salário. Dezembro é Natal e momento de planejar a ceia, assim como o churrasco da virada do ano.

Com a gradual abertura do comércio, é possível que alguns brasileiros desejem viajar e gastar com passagem, hotel, aluguel de veiculo, restaurantes, bares e muita diversão.

Continua depois da publicidade

A questão é que no mês de janeiro chegam os impostos sobre propriedade, a exemplo do IPVA e do IPTU. Como tudo subiu de preço, inclusive os veículos usados, é possível que o ano de 2022 venha com o IPVA mais alto, já que é cobrado um percentual sobre o valor venal do veículo e também com a cobrança do seguro obrigatório – DPVAT, que não foi cobrado em 2021.

O consumo é positivo para a economia, desde que realizado com responsabilidade. Gastar é bom, pagar é necessário. É momento de reflexão sobre as necessidades dos gastos e de planejamento orçamentário.

Como vimos, os preços estão subindo e não há garantia no aumento salarial, assim, é recomendável moderação nas compras e que sejam feitas com comedimento.

Tópicos relacionados

Autor avatar
Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas