Fusão entre Hapvida (HAPV3) e NotreDame (GNDI3) está ameaçada após nota do Cade? Analistas acreditam que não

Papéis tiveram forte queda nas últimas duas sessões após Superintendência do Cade considerar negócio como complexo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Além do noticiário sobre diligências da Agência Nacional de Saúde (ANS) envolvendo a Hapvida (HAPV3), as últimas duas sessões foram de queda tanto para os ativos HAPV3 quanto para a NotreDame Intermédica (GNDI3) em meio à publicação de uma nota técnica da Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Ela aponta que o acordo para a fusão entre Hapvida e NotreDame Intermédica é complexo.

Nas últimas duas sessões, o papel HAPV3 caiu 7,47%, sendo uma baixa de 5,74% apenas na última sessão, enquanto os ativos GNDI3 caíram ainda mais, 8,34%, com baixa de 5,88% somente na véspera.

A Superintendência Geral (SG) do Cade teve como base para análise as altas concentrações, reduzida rivalidade e altas barreiras de entrada em alguns mercados decorrentes da fusão, em planos médicos dos segmentos (i) corporativo e (ii) afinidade.

Apesar da queda das ações, a nota do Cade não deve ser tão preocupante para a fusão entre as duas companhias, apontam análises do Credit Suisse e do Bradesco BBI.

A SG considerou delimitadores geográficos em nível de cidade e grupo de cidades (148 no Brasil com base no fluxo de usuários). Esses mercados problemáticos do ponto de vista antitruste representam aproximadamente 10% e 20% do total de usuários de Hapvida e NotreDame nos respectivos segmentos. Segundo o BBI, juntos, eles representam apenas 9% da base total de planos médicos na estimativa do banco (dado que 74% dos planos são corporativa, 8% de afinidade e 18% de pessoas físicas).

“Esse número está em linha com os 7,5% antecipados pelas empresas ao encaminharem o pedido de homologação ao Cade”, aponta o BBI.

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Além disso, a superintendência também indicou preocupações competitivas relacionadas à estratégia de verticalização, especialmente em alguns mercados com oferta limitada de leitos hospitalares.

As empresas, entretanto, notaram apenas uma sobreposição em hospitais (em Belo Horizonte-MG, mas a participação de mercado é inferior a 20%) e quatro em centros médicos (Joinville-SC, Uberlândia-MG, Belo Horizonte-MG e Contagem-MG).

A partir de agora, serão analisadas as eficiências econômicas potenciais resultantes da operação e aprofundamento nas questões de concentração identificadas. Também pode ser solicitada a prorrogação do prazo de até 90 dias, totalizando até 330 dias, para a decisão final (contagem iniciada em 16 de junho).

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A avaliação do BBI sobre a decisão do Cade, a princípio, foi considerada até mesmo positiva para a união entre as duas empresas.

“As primeiras avaliações confirmam, a nosso ver, o alto risco de o negócio se concretizar com restrições limitadas, dada a pequena sobreposição entre HAPV e GNDI, ou seja, apenas 9% da base de planos médicos possui potenciais problemas de concentração, que podem ser tratadas com remédios (por exemplo, venda de carteiras). Observamos que tais soluções devem representar menos de 9% dos usuários, visto que envolveriam apenas uma das duas associações em cada mercado”, apontaram os analistas da casa.

Os analistas do Credit Suisse também não acreditam que a nota técnica seja uma “bandeira vermelha” para a fusão. Ainda assim, remédios devem ser aplicados e o processo de análise pode demorar mais do que o esperado.

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“É importante notar que o preço dos papéis estão em níveis perto do preço antes do anúncio da fusão e, com isso, ainda não incorpora os ganhos de sinergias”.

Eles ressaltam que as preocupações podem ser resumidas em dois pilares: 1) horizontal, com concentração excessiva de beneficiários em alguns lugares e 2) potencial de exclusividade dos provedores de saúde, diminuindo o acesso de outros pagadores as redes credenciadas.

De acordo com compilação feita pela Refinitiv com casas que cobrem os ativos, de 12 casas que acompanham Hapvida, 9 recomendação compra para a ação e 3 possuem recomendação neutra, com preço-alvo médio de R$ 18,47, o que configura um potencial de alta de 35,51% em relação ao fechamento de terça. Já para a NotreDame Intermédica, as 11 casas que cobrem o papel recomendam compra, com preço-alvo médio de R$ 102,18, ou alta de 38,83% em relação ao fechamento da véspera.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.