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SÃO PAULO – O agronegócio entrou de vez no radar de investidores em busca de diversificação. O crescimento do setor, um dos poucos a passar pela pandemia de coronavírus sem abalos, o posiciona no que os economistas têm chamado de “ciclo virtuoso” – e, por isso, existem cada vez mais opções de aplicações relacionadas ao agro na praça.
Além isso, algumas empresas do segmento estão criando metas e estabelecendo compromissos ligados à redução das emissões de gases de efeito estufa e a não produção em terras provenientes de desmatamento, o que desperta o interesse dos investidores atentos às práticas de proteção ambiental, social e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês) das companhias.
Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o volume de emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) avançou quase 40% nos 12 meses encerrados em junho de 2021, em comparação ao mesmo período do ano passado, chegando a R$ R$ 18,26 bilhões. Só este ano, de janeiro a junho, foram R$ 8,73 bilhões, contra R$ 5,65 bilhões em 2020.
Como os CRAs são papéis isentos de imposto de renda (IR) para pessoas físicas, esses títulos têm ganhado a preferência dos investidores – mas não apenas eles. As opções também avançaram na Bolsa, nas emissões internacionais e em fundos com ativos só de empresas do setor. Neste ano, foram três IPOs (ofertas iniciais de ações) e uma oferta subsequente na B3, superando R$ 2 bilhões em ações absorvidas pelos investidores.
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No mercado internacional, os green bonds da JBS (JBSS3), emitidos em junho no valor de US$ 1 bilhão, estão atrelados ao compromisso de controle e redução de 30% dos gases do efeito estufa por tonelada de produto vendido até 2030. “Se até 2025 ela não cumprir parte disso, a taxa de prêmio paga ao investidor aumenta em 0,25% ao ano. Hoje, o yield é de 3,75% ao ano e o cupom, de 3,62% ao ano”, observa Sofia Caccuri, gestora de investimentos da Quasar.
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De olho nisso, as casas de investimentos vêm empacotando os papéis dessas empresas em fundos de agro “puro sangue”. Maior gestora do país, a BB DTVM lançou em fevereiro sua primeira carteira focada no setor – o BB Ações Agro – que já captou quase R$ 400 milhões e chegou a 9.332 investidores. Trata-se de um fundo com 40 empresas nacionais e estrangeiras do agronegócio – 13% do patrimônio está alocado em BDRs (Brazilian Depositary Receipts, recibos de ações estrangeiras negociados na B3). O fundo, que está aberto a investimentos a partir de R$ 1, tem taxa de administração de 1% ao ano e de performance de 20%.
“A receita da empresa tem que estar diretamente ligada ao agronegócio ou ser altamente dependente dele. É um requisito excludente”, afirma Marcelo Arnosti, head de gestão de fundos multimercado, ações e offshore da BB DTVM. Para ele, o setor atrai não apenas por ser cíclico – crescendo com a recuperação da economia global –, mas também por conta da melhor organização que está apresentando por adotar práticas ESG.
“As empresas do setor têm tido mais transparentes na aproximação e na comunicação com as gestoras. Isso tem facilitado a nossa análise na escolha dos ativos, e também ajudado no sucesso dos IPOs e atraído o investidor”, afirma Arnosti.
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Desde 2015, foram emitidas por empresas brasileiras 121 dívidas com métricas ESG, que totalizam R$ 43,7 bilhões. O crescimento foi de 241% entre 2019 e junho de 2021, comparado a igual período anterior. Desse total, 32 emissões estão relacionadas com o agronegócio, ou R$ 7 bilhões, o que representa 16% das emissões, segundo levantamento realizado pela Sitawi Finanças do Bem.
Levando esses dados em consideração e a elevada busca dos investidores pelos ativos, Arnosti não descarta novos fundos só com papéis do setor. “É um bom momento para isso. E ajuda bastante a diversificar o portfólio. Esses fundos permitem capturar o potencial da cadeia da agroindústria”, afirma.
Fundos voltados ao agronegócio
Também devem engrossar a fila de emissões ligadas ao setor o novo Fiagro, ou Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, modalidade isenta de Imposto de Renda e liberada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde 1º de agosto.
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Na opinião de analistas, casas de investimentos e bancos, o Fiagro tem força e potencial de se tornar tão relevante quanto os também isentos fundos de investimento imobiliário (FIIs), que já somam mais de R$ 123 bilhões em patrimônio líquido. Para a XP, que participou como líder dos IPOs da Jalles Machado (JALL3) e da Boa Safra (SOJA3), além da oferta subsequente da Brasil Agro (AGRO3), o Fiagro se soma a outras opções que o investidor terá no segundo semestre para investir no agronegócio.
No pipeline da XP, há pelo menos mais 15 emissões de CRAs no forno e cinco empresas se preparando para a abertura de capital na B3. “Essas empresas passaram a ganhar mais escala na base de investidores e tomadores de crédito pela transparência e governança que começam a apresentar”, afirma Pedro Freitas, sócio do banco de investimentos da corretora. Ele lembra que desde 2013 não havia nenhum IPO do setor, mas agora as empresas têm se organizando melhor para acessar o mercado de capitais.
“Tem empresa de capital fechado que já conta com conselho, site de relações com investidores, faz conferência com o mercado e mitiga os impactos negativos que provoca, preocupada com as emissões de carbono”, observa Freitas.
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A Quasar se antecipou a este movimento e, em 2019, lançou o QAGR11, primeiro fundo imobiliário de logística do agronegócio, que possui patrimônio líquido de R$ 300 milhões, é listado na Bolsa e possui mais de 17 mil cotistas. “Queremos fazer o follow-on [nova oferta] deste fundo no segundo semestre, com volume adicional de captação previsto entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões”, afirma Sofia Caccuri, gestora de investimentos da Quasar. O fundo, acessível ao investidor a partir de R$ 50, tem capital autorizado de R$ 10 bilhões e conta com ativos das empresas Belagrícola e BRF.
A gestora alerta, no entanto, que o investidor está mais exigente e que não é qualquer papel do setor que é absorvido. Ela diz que a preferência é por ativos de empresas de baixo carbono e com proteção ao meio ambiente. “As empresas têm percebido isso e começam a colocar metas. A Marfrig (MRFG3), por exemplo, quer fazer rastreamento de toda a cadeia para que seja livre de desmatamento na Amazônia até 2025 e no cerrado, até 2030. Seria importante que tivessem também metas de curto prazo”, observa Sofia.
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Estreias na B3 como a da plataforma AgroGalaxy (AGXY3), de insumos agrícolas, no fim de junho, reforçam a opinião de quem defende que há espaço para diferentes empresas da cadeia do setor. O IPO levantou R$ 350 milhões e teve ampla participação dos investidores. “Estamos com dez propostas no pipeline para CRIs do agro e outras emissões do setor para compor os fundos. Se vierem a mercado, vão representar cerca de R$ 200 milhões em novos ativos para o investidor”, diz Sofia.
De Minas ao Piauí
Nesta mesma direção, a 051 Capital irá lançar ainda neste ano um fundo imobiliário agrícola voltado aos investidores que procuram a gestora em busca de diversificação do portfólio em empresas sustentáveis. A gestora irá comprar propriedades rurais em áreas com grande potencial de valorização – particularmente no oeste da Bahia e Tocantins, além de Mato Grosso, Minas Gerais e Piauí – e irá arrendá-las. O objetivo do fundo é gerar uma renda anual ao investidor através da receita de arrendamento de propriedades, com valorização real do preço da soja e das áreas agrícolas, além de funcionar como um hedge cambial, uma vez que o preço da commodity está atrelado à variação do dólar.
“Temos R$ 1,2 bilhão sob gestão e os investidores pediram alternativas. A gente decidiu comprar áreas agrícolas e desenvolver um fundo com capital de R$ 150 milhões. Estamos olhando fazendas abertas com áreas regularizadas, culturas consolidadas e com compromissos ESG”, conta Bernardo Reis, head de agro da 051 Capital. O executivo diz que já tem 20 fazendas em avaliação. Este é o primeiro fundo ligado ao agro na gestora. “Outras vantagens para o investidor são a baixa volatilidade, a proteção contra a inflação e uma estrutura tributária eficiente”, diz Reis.
Com um fundo de R$ 48 milhões de patrimônio lançado há 15 anos, a Sparta foi uma das gestoras pioneira a apostar em investimentos com lastro em títulos de empresas do setor. O Sparta Cíclico tem ações de empresa como SLC Agrícola (SLCE3), São Martinho (SMTO3), Randon (RAPT4) e JBS. Com tíquete mínimo de R$ 1 mil, taxa de administração de 2% ao ano e de performance de 20%, a estratégia deste fundo multimercado é investir em ações ligadas a commodities.
“Neste ano, até junho, o fundo rentabilizou 25%, enquanto o Ibovespa ganhou 6,5%”, conta Artur Nehmi, gestor de renda fixa da Sparta Investimentos. O gestor explica que o fundo, com 1.400 cotistas, se beneficia da alta do preço das commodities e do dólar forte frente ao real. “Isso que torna o setor muito atraente. Estamos no começo de um ciclo virtuoso e é natural que a procura por títulos do agro seja maior porque a perspectiva do setor é bem favorável”, diz.