Mercado Livre divulga crescimento forte no Brasil: o que isso significa para as varejistas de e-commerce na B3?

Dados indicam resiliência do varejo online no país, mas também podem colocar pressão nos resultados das empresas brasileiras

Ricardo Bomfim

(Divulgação/Mercado Livre)
(Divulgação/Mercado Livre)

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SÃO PAULO – O Mercado Livre (MELI34) divulgou na quarta-feira (4) seu resultado do segundo trimestre, reportando lucro líquido de US$ 68,2 milhões e um dos destaques do balanço foram as operações da empresa no Brasil.

No país, a receita líquida cresceu 101% neste trimestre em moeda constante. A operação brasileira já representa 55,9% da receita líquida total da companhia. Além disso, o Volume Bruto de Mercadorias (GMV, na sigla em inglês) no Brasil teve um crescimento de 44% na comparação com igual período do ano passado.

Hoje, quinta-feira (5), as ações de varejistas como Magazine Luiza (MGLU3), Americanas SA (AMER3) e VIA (VVAR3) chegaram a subir forte pela manhã depois dessas informações serem divulgadas. Americanas se valorizou em 2,7% na máxima do pregão, Magazine Luiza 3,8% e VIA 3,5%. Os papéis passaram a cair mais tarde com a perda de força geral do mercado.

Segundo Gustavo Senday, analista da XP, há duas visões possíveis a partir do resultado do Mercado Livre. A primeira é que o e-commerce no Brasil continua resiliente e crescendo mesmo sobre uma base muito forte, que foi o primeiro ano da pandemia de Covid-19, quando muito mais pessoas começaram a fazer compras online devido às medidas de isolamento social.

“A principal preocupação que existe é sobre a sustentabilidade do crescimento do e-commerce com a reabertura das lojas físicas. O resultado positivo do Mercado Livre pode indicar que esse crescimento se mantenha elevado mesmo neste contexto”, afirma.

Na mesma linha, Ricardo Oliboni, chefe de Mesa da Axia Investing, aponta que os mercados se coincidem e atuam como um todo, de modo que o desempenho positivo de uma empresa acaba puxando o outro quando se veem números mais fortes.

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Por outro lado, Senday lembra que a segunda das visões possíveis não é tão otimista. Para ele, a expansão da empresa argentina no Brasil também coloca pressão na divulgação de resultados das varejistas brasileiras.

“A XP espera que a Americanas SA tenha um crescimento de 35% no GMV e que a Via registre avanço de 21%. Ou seja, números menores do que os reportados pelo Mercado Livre. Temos que ver se as empresas daqui vão também superar projeções, talvez não com o mesmo nível de crescimento, mas se o resultado ficar abaixo pode trazer alguma preocupação com perda de market share“, explica.

Senday comenta que a varejista argentina é quase um player local tamanho o seu posicionamento no país, de modo que acaba sendo uma preocupação maior para as empresas domésticas do que outras gigantes como Amazon, Shopee e AliExpress.

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Matheus Lima, analista da Top Gain, destaca que não é de agora que se veem reflexos nas ações do setor como reflexos de crescimento ou expectativa de expansão do Mercado Livre no Brasil. “Estamos falando de uma empresa gigante, que está vindo pesado para o Brasil e pode tomar fatia de mercado das empresas locais, principalmente Americanas SA e Magazine Luiza.”

O resultado

A receita líquida foi de US$ 1,7 bilhão, aumento de 93,9% na comparação com o mesmo período de 2020. Em moeda constante, a alta foi de 102,6%. O GMV, por sua vez, totalizou US$ 7,023 bilhões.

O trimestre também se encerrou com um lucro antes de impostos de US$ 138,9 milhões, crescimento de 55,5% em relação aos US$ 89,3 milhões apurados durante o segundo trimestre de 2020.

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Em relatório, os analistas Vinicius Araújo, Rafael Nobre e Jennie Li, da XP, destacam que a receita superou em 14,9% as projeções, que o lucro causou uma surpresa de 344% ante o esperado pela média do mercado e que o resultado foi impulsionado pelo aumento geral de 46% no GMV, a venda de 245 milhões de itens em sua plataforma (+37% na comparação anual) e o número recorde de 37,8 milhões de usuários realizando transações pela plataforma no trimestre.

Os analistas Thiago Macruz, Maria Clara Infantozzi, Helena Villares, Felipe Amancio e Gabriel Simões, do Itaú BBA, comentam que os números operacionais do Mercado Livre superaram estimativas em meio a um “ótimo desempenho operacional no braço financeiro, com as concessões de crédito acelerando significativamente diante da ampliação da carteira para usuários finais da plataforma.”

Quem também repercutiu o resultado foram os analistas Stephen Ju, Françoise Yoshida-Are e Tyler Seidman, do Credit Suisse, para quem o GMV superou expectativas com a persistência dos “ventos de cauda” trazidos pelo coronavírus.

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“Em linha com a nossa perspectiva temática contemplando um ritmo acelerado de adoção do e-commerce na América Latina, o destaque do relatório do segundo trimestre de 2021, em nossa visão, foi a maior disponibilidade de entrega no mesmo dia no Brasil para cobrir 20% dos CEPs locais”, escreve a equipe do banco suíço.

Na opinião dos analistas, com o incremento na cobertura de frete grátis, bem como a expansão da seleção, a companhia aumenta sua proposta de valor ao consumidor, o que deve proporcionar uma maior capacidade da empresa de se “agarrar aos ganhos impulsionados pela pandemia”.

Às 16h15 (horário de Brasília), os BDRs (na prática, recibos de ações de outros países negociados no Brasil) MELI34 subiam 11,86% a R$ 77,86. As ações do Mercado Livre registram alta durante todo o dia na Nasdaq: os ganhos eram de 13,76%, a US$ 1.785,98.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.