Gol apresenta resultado fraco, mas esperado; analistas seguem vendo desafios e mostram cautela com ação

Credit, Itaú BBA e Bradesco BBI possuem recomendação neutra para a ação, monitorando concorrência e recuperação do segmento corporativo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os resultados da Gol (GOLL4) e a revisão para baixo das projeções da companhia para o segundo semestre do ano não agradaram, fazendo com que a ação registre queda. Às 13h30 (horário de Brasília), os papéis GOOLL4 tinham baixa de 2,10%, a R$ 21,44 na sessão desta quinta-feira (29).

A empresa reportou prejuízo líquido recorrente de R$ 1,2 bilhão, ante prejuízo de R$ 771,8 milhões um ano antes, enquanto o  lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) recorrente ficou negativo em R$ 466,6 milhões, de um resultado negativo de R$ 282,5 milhões um ano antes.

Isso se contrapõe aos resultados sem serem ajustados, em que a aérea registrou um lucro líquido de R$ 642,9 milhões no segundo trimestre de 2021, ante um prejuízo líquido de R$ 1,996 bilhão no segundo trimestre de 2020.

A receita líquida foi de R$ 1 bilhão, um aumento de 187% na base anual. As outras receitas (principalmente cargas e fidelidade) totalizaram R$ 141 milhões, equivalente a 13,7% das receitas totais.

Embora o discurso seja de ritmo crescente da demanda, a companhia revisou para baixo as projeções para o segundo semestre, com expectativa de geração de caixa reduzida e aumento de dívida.

A Gol informou em documento de atualização ao investidor que espera encerrar o segundo semestre do ano com R$ 4,2 bilhões em liquidez, ante R$ 4,5 bilhões projetados anteriormente, além de uma dívida líquida ajustada de R$ 15,3 bilhões, ante R$ 14,8 bilhões projetados anteriormente. A aérea afirma que diversas iniciativas são relevantes “para assegurar que a Gol mantenha a liquidez nos patamares esperados no final de 2021”.

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A companhia projeta ainda Ebitda de R$ 1,7 bilhão no segundo semestre, ante projeção inicial de R$ 2 bilhões.

A Gol também disse que agora espera que a receita da segunda metade do ano aumente em cerca de 85% ante mesmo período de 2020, versus previsão de 100% anteriormente, enquanto operará no final do período 102 aeronaves, de projeção anterior de 110.

O desempenho ocorre em meio à recuperação dos indicadores operacionais, que no mesmo período de 2020 foram impactados pela primeira onda da covid-19 no País. De abril a junho deste ano, a companhia registrou avanço de 344% da demanda, medida pelo número de passageiro-quilômetro transportado pago (RPK, no jargão do setor), em relação ao mesmo intervalo de 2020.

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Já a oferta, medida pelo assento quilômetro ofertado (ASK), avançou 307,4% na mesma base de comparação. Com isso, a taxa de ocupação da companhia foi de 85,1% no segundo trimestre, ante 78,1% um ano antes.

Em balanço, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, demonstrou otimismo. “O progresso na vacinação é promissor para a recuperação contínua da economia doméstica e o aumento na demanda de viagens, à medida em que os brasileiros se sentirem seguros para retornar às suas rotinas normais”, afirmou no documento.

No entanto, a Gol também está ajustando sua frota para o segundo semestre para “adequar os custos operacionais aos patamares atuais de vendas e demanda”. A companhia irá operar 102 aeronaves em sua malha, ante 110 projetado anteriormente. Ainda assim, o número representa um aumento de 56% sobre o primeiro semestre.

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O Credit Suisse apontou que os resultados foram fracos, mas esperados, ainda com um impacto de restrições.

Já a demanda está aumentando. A Gol informou que a demanda corporativa está começando a se recuperar e deve aumentar de forma mais significativa no primeiro trimestre de 2022, enquanto os voos internacionais retornarão neste ano,
com tíquetes já disponíveis online. Para o terceiro trimestre de 2021, a empresa afirma que a média das vendas de julho está no maior nível desde o início da pandemia no Brasil em março de 2020, superando apenas a Black Friday do ano passado.

Os analistas do banco atualizaram o modelo para refletir os últimos desdobramentos, como a incorporação da Smiles, aumento de capital e resultados mais recentes. “Os efeitos da pandemia duraram mais do que o esperado originalmente, embora vejamos Gol como uma opção viável para se beneficiar do aumento esperado da mobilidade daqui para frente”, aponta o Credit.

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As estimativas resultam em um Ebitda de R$ 3,8 bilhões e R$ 4,3 bilhões em 2022 e 2023, respectivamente. “Os principais riscos para nosso caso de investimento incluem: (i) novas ondas de covid-19 ou novas variantes; (ii) aumento dos preços do petróleo; (iii) desempenho inferior do PIB do Brasil; e (iv) volatilidade do câmbio”, avaliam os analistas do banco suíço, que possuem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 19 para o ativo.

O BBI ressalta ainda que a segunda onda do Covid-19 prejudicou o ritmo de recuperação no segundo trimestre de 2021, enquanto a posição de liquidez de R$ 1,8 bilhão ficou estável no trimestre e a Gol reduziu sua projeção do  Ebitda do segundo semestre de 2021 em 15%, ainda que embutindo uma recuperação significativa de passagens aéreas no quarto trimestre de 2021. Nesse cenário, os analistas do BBI possuem recomendação neutra e reduziram o preço-alvo para 2022 de R $ 25,00 para R$ 23,00.

A recomendação segue neutra uma vez que os analistas veem um potencial de aumento limitado de 5% para o papel. Além disso, os analistas do banco destacam que a Latam Brasil está tentando se defender de uma potencial compra da Azul (AZUL4) (veja mais clicando aqui) com um agressivo plano de crescimento da sua capacidade doméstica no segundo semestre, o que pode afetar os preços das passagens aéreas.

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O Itaú BBA também possui recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de R$ 24,50 para o ativo.

Os analistas apontam que a Gol está gradativamente reconstruindo sua rede após o severo impacto da Covid-19 no tráfego aéreo desde 2020. Os ventos contrários de curto prazo da segunda onda da pandemia prejudicaram o primeiro semestre de 2021, mas o cenário-base do banco prevê uma segunda metade do ano melhor. “Nós projetamos que a capacidade doméstico da Gol só retornará aos níveis de 2019 em 2022, seguido por uma adição gradual de capacidade a partir de então”, apontam os analistas.

Eles também ressaltam ser importante monitorar a capacidade dos recém-chegados, a adição de capacidade dos players atuais e os sinais de dinâmica agressiva de preços. “Tendo em vista que a recuperação do segmento corporativo permanece um ponto de interrogação, a Gol terá que continuar a otimizar os yields (ou rendimentos do segmento) dos viajantes de lazer, um segmento que não compensou totalmente o declínio em tráfego / rendimento corporativo até agora – uma tendência que provavelmente continuará”, avaliam.

Em uma nota positiva, os analistas avaliam que a estratégia de frota única da empresa (em busca constante de aumento da utilização da aeronave), plano de transformação da frota atual e o controle de custos / despesas continuarão a ser os principais impulsionadores para alcançar o CASK mais baixo entre os pares e recuperar lucratividade. Quanto ao endividamento, a Gol tem adotado diversas medidas para preservar o caixa e fortalecer a liquidez, que será vital para enfrentar a crise, avaliam.

Por outro lado, alguns desembolsos surgirão à medida que as operações se recuperarem junto com a melhora da demanda, apesar de alguns ganhos de eficiência contínuos, apontam.

De acordo com consenso Refinitiv, de dez casas que cobrem o papel, seis possuem recomendação de manutenção, duas de venda e apenas duas de compra. O preço-alvo médio é de R$ 24,48, alta de 11,8% em relação ao fechamento de quarta-feira.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.