Privatização cada vez mais próxima eleva otimismo com Eletrobras, apesar de desafios no radar

Apresentação de relatório sobre privatização impulsionou ativos na véspera, apesar de alguns pontos serem vistos como negativos e calendário ser desafiador

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A privatização da Eletrobras (ELET3;ELET6) deixou de ser apenas um “sonho” relativamente distante para boa parte dos investidores e se torna cada vez mais uma realidade, ainda que haja desafios no radar.

Um novo passo foi dado com a apresentação do relatório preliminar do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), sobre a Medida Provisória 1.031/2021, que trata da privatização da companhia, o que explica a alta de 6,52% dos ativos ON (ELET3) e de 4,12% dos papéis PN (ELET6) na sessão da última terça-feira (11). Já na sessão desta quarta, os papéis caíram forte, com baixa de 5,18% (R$ 37,52) para as ações ON e de 3,47% (R$ 38,44) para os ativos PN, em um dia de forte aversão ao risco para a Bolsa brasileira.

O documento trouxe algumas mudanças ao texto original e ampliou o escopo e a duração de aportes em programas regionais, na tentativa de convencer deputados e senadores sobre a aprovação da medida, que ainda enfrenta resistências. Elmar recorreu à parte dos recursos liberados pelo caixa da usina de Itaipu, que é binacional, depois de 2023, ano em que acaba o pagamento de empréstimos e financiamentos feitos na época da construção da hidrelétrica, em 1970.

Metade do superávit financeiro produzido pelos novos contratos da usina seria transformada em aportes na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que banca subsídios setoriais.

A proposta prevê alocar parte dos recursos gerados pela operação em benefício apenas dos consumidores cativos de energia, o que aliviaria tarifas principalmente de clientes residenciais. Essa é uma mudança frente ao plano inicial do governo, pelo qual metade dos R$ 50 bilhões estimados com a capitalização da empresa seria direcionada pela companhia ao longo dos anos para aliviar encargos que pesam sobre os custos da energia de todos brasileiros, incluindo empresas e grandes indústrias que operam no chamado mercado livre de eletricidade.

Também houve expansão das verbas destinadas a programas regionais – com valor ainda indeterminado, mas superior aos R$ 8,75 bilhões  em dez anos previstos no texto original da MP. “Nesse contexto, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) – hoje loteada pelo Centrão – receberia mais recursos para projetos no Nordeste e teria maior autonomia para gerir e definir projetos de revitalização das bacias desta região”, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

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Além disso, também incluiu a possibilidade de que empregados da Eletrobras e trabalhadores desligados na janela retroativa de dois anos comprem ações da companhia detidas pelo governo federal antes que o processo de capitalização se inicie.

“Em que pese algumas modificações compreendidas pelo setor energético como negativas, por criarem distorções entre aqueles que atuam neste segmento, a apresentação do relatório da privatização da Eletrobras animou novamente os investidores”, aponta a Levante. O Credit também ressaltou que apenas a apresentação do relatório foi suficiente para deixar animada a maior parte dos investidores com as perspectivas de privatização.

Com isso, agora a expectativa é pelos próximos dias: o texto pode passar por ajustes, mas a ideia é alinhar os detalhes com todas as bancadas durante a semana e dar um novo passo para a aprovação da MP já na semana que vem.

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Não há data marcada para a votação do texto, que precisa ser analisado pela Câmara e pelo Senado até o dia 22 de junho. No relatório, Elmar Nascimento apontou que há um “cenário desafiador para a completa tramitação da matéria em tempo hábil”. O tema é mais sensível no Senado e, caso sofra modificações, teria de voltar à Câmara para nova votação; “no entanto, como a tramitação tem mostrado sinais de avanço, investidores renovam seus ânimos”, destaca a Levante.

Em meio a esse cenário, o Credit Suisse revisou seus números para a até agora companhia estatal.

O Credit elevou o preço-alvo da ação PN da Eletrobras de R$ 32 para R$ 45 (potencial de valorização de 13% frente o fechamento da véspera), mantendo recomendação neutra, enquanto elevou a recomendação da ação ON de underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para neutra, enquanto o preço-alvo passou de R$ 28,30 para R$ 43 (upside de 8,7%).

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Os analistas Carolina Carneiro e Rafael Nagano incluíram novas estimativas macroeconômicas no modelo, como menor custo de capital próprio (queda de 0,5%), projeção de novos valores a receber na Rede Básica Sistema Existente (RBSE) com uma maior compensação total por atraso no pagamento, ainda que com maior prazo de diferimento. Também nas projeções, estão o valor atualizado para investimento em participações minoritárias, novos capex, e estimativas de custos e premissas de risco hidrológico.

Além disso, eles também apontaram um cenário mais otimista para as ações ELET6 de R$ 65,00 (upside de 53%) e mantiveram o cenário pessimista de R$ 26,00 (queda de 35%). Os principais riscos no radar do banco são os prazos de aumento de capital (recursos e preços) e o desafiador cronograma de aprovação do projeto.

Carolina e Nagano destacam que, embora haja algumas alterações no projeto original proposto pelo governo em fevereiro passado, o formato de privatização é amplamente mantido.

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Dentre as mudanças, os analistas destacam as de cláusulas de reajuste de preços do programa Proinfa, a inclusão de leilões obrigatórios para aquisição de energia de termelétricas e pequenas hidrelétricas, assim como o uso futuro de recursos de Itaipu para a queda de tarifas e incluir a Bacia do Parnaíba como beneficiária do fundo da bacia do São Francisco.

Um ponto negativo seria o poder da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de interferir na comercialização no mercado livre. Enquanto isso, não foram feitas mudanças na limitação do direito de voto (proposta em 10%) para usar recursos do fundo da CDE para redução de tarifas ou no formato de privatização.

Para o Bank of America, questões não diretamente relacionadas ao processo da Eletrobras podem representar risco de aprovação do projeto, mas lembra que o Senado apoiou a agenda do novo marco regulatório do setor de gás, o que é um bom presságio para a aprovação da desestatização da elétrica.

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Os analistas Arthur Pereira, Murilo Freiberger e Gustavo Faria mantêm recomendação de compra para as ações, com um preço-alvo de R$ 47 para os ativos ON (potencial de valorização de 18,8% em relação ao fechamento da véspera) e de R$ 52% para os ativos PNA (upside de 30,6%).

A privatização, segundo os analistas, pode adicionar R$ 17 ao preço-alvo dos ativos ON, ou um novo target de R$ 64 – ou alta de 62%.

A visão é majoritariamente positiva para os analistas que cobrem os papéis, segundo consenso Refinitiv: há seis recomendações de compra para ELET3 e ELET6, sendo uma neutra para o papel ON e duas para os ativos PN. Assim, mesmo com o prazo curto e alguns pontos no relatório que não agradaram tanto os analistas, as expectativas são positivas.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.