O fim dos carros “pé-de-boi”? (ou como o Brasil virou um mercado de SUVs)

Ao longo destes últimos 15 anos, o mercado automotivo viveu o seu apogeu e o seu declínio. Mas a curva de vendas de SUVs nesse período seguiu a filosofia de Buzz Lightyear: “Ao infinito e além!”.

Raphael Galante

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Caros leitores, digníssimas leitoras: o primeiro quadrimestre do ano acabou de encerrar, e trazermos boas notícias do front.

As vendas de veículos novos totalizaram 661,7 mil veículos comercializados, contra 583,9 mil sobre o mesmo período do ano passado. Um crescimento de 13,3%.

Uau… crescimento de 13,3% no quadrimestre!

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Sim. Mas, veja bem: o grande ponto é que, nos meses de abril e maio do ano passado, o mercado estava parado.

Neste mês de abril, tivemos 163,8 mil carros vendidos contra 51,4 mil sobre abril do ano passado. Crescimento de 219% sobre o mesmo mês no ano passado.

Em geral, o resultado deste ano é como diz o mineirinho: “Tá ruim, mas tá bom”!

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O lado positivo disso é que eu posso afirmar, com 100% de confiança, que as vendas de veículos no mês de maio vão registrar um crescimento de uns 200% sobre o mesmo período do ano passado (salvo em casos de hecatombe nuclear e afins).

Desta vez, fazer uma previsão desse tipo é mais fácil do que tentar acertar o valor do câmbio….

Mas vamos ao que interessa. O setor acumula crescimento de 13,3%, mas, “o mais melhor de bom” é saber o que (ou quem) está registrando esse crescimento.

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O primeiro ponto é mostrar o que está sendo comercializado:

Os destaques desta tabela são dois.

O primeiro é que os veículos comerciais (Picapes Pequenas e Grande + Furgões) estão se destacando neste ano. 20% de todos os carros que foram vendidos foram deste subsegmento, seja uma VW Saveiro, Toyota Hilux, Fiat Fiorino ou Renault Master.

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O ponto é que o aumento na venda desses veículos comerciais mostra que o pequeno empresariado e/ou produtor rural vislumbra um crescimento no seu negócio no curto-médio prazo.

Pois, afinal de contas, ninguém compra uma Fiat Fiorino (e similares) para ir passear com a namorada, né?

O mesmo é sentido na venda de caminhões e ônibus, por exemplo. No acumulado deste ano, esse setor registra crescimento de 45% sobre o mesmo período do ano passado. E ele vem vindo num ritmo quente…

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De uma forma bem simplista, esses dois indicadores nos mostram que o empresariado vem se movimentando, investindo no aprimoramento do seu mercado. Provavelmente, ele vislumbra alguma melhora no seu cenário econômico para os próximos meses.

Mas, voltando para a nossa análise das vendas de carros, o segundo ponto que chama atenção é o crescimento de 51% nas vendas de SUVs.

Podemos afirmar, também com 100% de confiabilidade, que o Brasil virou um mercado de SUVs. A tendência é que, neste ano, sejam comercializados mais SUVs do que Hatches Pequenos.

E essa virada de chave no perfil de consumo do brasileiro é relativamente recente. O mercado de SUVs explodiu de fato nos últimos 6-8 anos.

Ao longo destes últimos 15 anos, o mercado automotivo viveu o seu apogeu e o seu declínio. Mas a curva de vendas de SUVs nestes 15 anos seguiu a filosofia de Buzz Lightyear: “Ao infinito e além!”. Ela imprimiu um crescimento constante ao longo desse período.

Perceba que, em 2007, a nossa média de vendas era de 195 mil veículos. Chegamos ao apogeu em 2012, com uma média de vendas de 303 mil carros. Agora, estamos começando a sair do fundo do poço, com um volume médio de 165 mil carros/mês.

Ou seja, registramos queda nas vendas no período 2021 versus 2007 de -15%, contra uma evolução de quase 460% nas vendas de SUVs.

E esse é o futuro! Percebam como marcas “meio quadradinhas” quebraram alguns dos seus paradigmas e vieram com tudo para este nicho. O melhor exemplo é a VW, com a sua linha: T-Cross, Nivus, Tiguan e, dentro em breve, o Taos.

A última a adentrar nesse nicho de mercado foi a Fiat, com o seu novo SUV lançado na final do infame BBB.

E, com isso, o nosso troféu “joinha” vai para o grupo Stellantis. O nosso quarteto fantástico (Citroen-Fiat-Jeep-Peugeot) registra evolução de quase 70% neste ano!

Juntos, eles possuem 30% do mercado. Ano passado, eles representavam 20%. Ou seja, um ganho de 10 pontos percentuais.

Soma-se que esse lançamento da Fiat só reforça a tese de que a marca recuperará o posto de marca número 1 do mercado automotivo, posto perdido em 2016 para a GM.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva